Mato Grosso descobre reserva gigante deminério de ferro
02/09/10
Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, detém direito de exploração na região do estado onde depósito com 11,5 bilhões de toneladas foi encontrado
Um dos maiores depósitos de minério de ferro já encontrados no Brasil foi anunciado ontem pelo governo do Mato Grosso, que identificou reservas com 11,5 bilhões de toneladas do insumo siderúrgico com 41% de teor de ferro. O depósito foi descoberto em área com cerca de 1 milhão de hectares em Mirassol D?Oeste, região próxima à fronteira coma Bolívia.
A descoberta aconteceu por acidente, dentro do contexto do programa Fosfato Brasil da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), em parceria com a secretaria matogrossense de Indústria, Comércio e Minas e Energia. O estado de Mato Grosso foi a primeira parada da investida que acontece em todo o país para descobrir novas jazidas de rocha fosfática, com foco na diminuição da dependência da importação do insumo usado na produção de fertilizantes.
?Um colega se deparou com uma rocha de ritmito com teores de fósforo e de ferro elevados. É uma região muito grande, com uma rocha aflorante 52 metros acima da superfície?, diz o superintentende estadual de minas de Mato Grosso, Joaquim Moreno.
Acaso favorece Dantas
O acaso é confirmado pelo secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia de Mato Grosso, Pedro Jamil Nadaf. ?É uma região em que não havia incidência nenhuma de minério de ferro nem de fosfato. A equipe foi levada para lá porque tinha pedras de cor amarelada (ritmito)?, diz.
Coincidência ou não, os direitos exploratórios na região onde está o depósito ? equivalente as cerca de 30%das atuais reservas brasileiras de minério de ferro?pertencemà GME4.
A empresa é controlada pelo grupo Opportunity, do empresário Daniel Dantas. Se comprovada a reserva, o que ainda depende de um estudo detalhado da CPRM, Dantas pode ter ganhado uma das maiores reserva brasileira do mineral. Recentemente, a GME4 flertou com o indiano Lakshimi Mittal, dono da siderúrgica ArcelorMittal, para a venda de um projeto de mineração no Piauí. A transação não confirmada foi avaliada pelo mercado em US$ 2,4 bilhões.
Exploração
Apesar do teor de ferro de 41% da reserva estar abaixo da média brasileira indicada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que indica 65% como ideal, o analista de mercado Pedro Galdi, da SLW Corretora, observa que a reserva matogrossense é explorável. ?O minério é fraco, mas como estão se esgotando as reservas com grandes teores, a tecnologia começa a tornar viável a exploração de minério com teores menores?, afirma.
O presidente do Ibram, Paulo Camillo Penna, considera prematuro avaliar o impacto da reserva para o setor mineral brasileiro. Segundo ele, ainda é necessário um estudo mais detalhado para comprovar a reserva. ?O grande problema dessa região é a infraestrutura, que é um item importante para torna viável um projeto de mineração?, afirma Penna.
Galdi, da SLW, considera, entretanto, que a fome da siderurgia chinesa por insumo para a produção de aço pode se voltar para essa região. Ele cita como exemplo a parceria entre a Votorantim Metais e a Honbridge Holdings, companhia do país asiático que vai desenvolver projeto no norte de Minas Gerais com minério em teor de ferro na casa dos 25%. ?A China está comprando qualquer coisa.?
Fertilizantes
Depósito de fosfato com 427 milhões de toneladas reduzirá importação
Junto com a descoberta de minério de ferro anunciada ontem, a Secretaria de Indústria, Comércio, Minas e Energia de Mato Grosso identificou uma reserva de 427 milhões de toneladas de rocha fosfática com 6,5%de teor de fósforo. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna, o depósito vai contribuir para reduzir a dependência brasileira do insumo importado.
?O país vai importar entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões de fosfato para produzir fertilizantes neste ano. Isso significa que a balança comercial da mineração, que terá um ganho de US$ 20 bilhões com a exportação de minério de ferro, vai ser reduzida?, afirma.
O secretário de Minas e Energia de Mato Grosso, Pedro Jamil Nadaf, apontou a reserva como necessária para reduzir as compras externas do insumo pelo estado. Ele diz que o consumo de fosfato em Mato Grosso é de 610 mil toneladas por ano. ?O depósito será importante para a indústria agrícola do estado.?
Penna, do Ibram, indica que a importação atinge 50% do fosfato consumido anualmente no Brasil. ?Isso mostra a necessidade de investimentos bruto para ampliar a mineração de fosfato e potássio. Mas também é necessário investir mais em pesquisa de exploração mineral.?
O Ibram aponta o baixo investimento das mineradoras brasileiras como fator limitante. Elas aportarão US$ 234 milhões em 2010. O volume representa 3% dos US$ 7,3 bilhões previstos pelos dez principais países mineradores, liderado pelo Canadá (US$ 1,2 bilhão, ou 16% do total global em prospecção).
Brasil Econômico