Marina admite pressões para deixar ministério
16/05/08
Ex-ministra do Meio Ambiente afirma que estava perdendo a queda-de-braço no governo e revela preocupação com Amazônia
BRASÍLIA – Dois dias após deixar o Ministério do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PT-AC) quebrou ontem o silêncio e denunciou pressões dos governadores de Mato Grosso, Blairo Maggi, e de Rondônia, Ivo Cassol, para rever as medidas de combate ao desmatamento na Amazônia. Ela deixou claro que estava perdendo a queda-de-braço no governo e decidiu pedir demissão para forçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a manter as principais diretrizes de sua política ambiental. Religiosa, Marina se mostrou cansada de pregar no deserto, num ambiente cada vez mais hostil ao seu discurso contra a expansão do agronegócio.
?Na vida é assim, você não pode ficar gesticulando. Quando você percebe que não dá mais para fazer o gesto, você faz o ato. Talvez o ato tenha criado o fato, e nós temos agora a clareza de que (a política ambiental) não vai mudar?, disse Marina, numa referência à promessa feita por Lula na quarta-feira. ?É fundamental que possamos preservar os avanços e que não tenhamos retrocessos nessa política?.
Leitora fervorosa da Bíblia, a ex-ministra citou uma parábola do Antigo Testamento para dizer que preferia deixar o cargo a continuar isolada no governo. Lembrou o célebre julgamento do Rei Salomão, que ameaçou cortar uma criança ao meio para resolver a disputa entre duas mulheres que se diziam sua mãe. ?É melhor ter o filho vivo no colo de outro do que tê-lo jazendo em seu próprio colo?, concluiu a senadora.
Marina fez elogios a Lula, mas afirmou que alguns trunfos de sua gestão, como a criação de áreas protegidas na floresta amazônica, estavam praticamente paralisados desde a reeleição do presidente, no fim de 2006. Ela lembrou que o governo delimitou 24 milhões de hectares verdes no primeiro mandato, contra apenas 300 mil hectares no ano passado.
Desgastes – De acordo com a ex-ministra, sua saída foi provocada por um acúmulo de desgastes à frente da pasta. Ela negou que a entrega da coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS) ao ministro Mangabeira Unger, do Núcleo de Ações Estratégicas, tenha precipitado sua decisão de deixar o cargo. ?Não posso dizer que o meu gesto é em função do doutor Mangabeira. Não é uma questão pessoal?, disse Marina, que confirmou só ter sido avisada da nomeação do ministro na cerimônia de lançamento do programa. ?Foi uma decisão do presidente Lula, e eu respeito. Não me cabe questioná-la?.
Alvo de críticas reservadas do presidente por ter pedido demissão por carta e divulgado a decisão antes de consultá-lo, a ex-ministra se declarou leal a Lula durante os cinco anos e quatro meses em que permaneceu na Esplanada. Ela jurou nunca ter vazado brigas internas do governo e lembrou que poderia ter abandonado o barco em tormentas maiores, como o confronto público com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em torno do licenciamento de usinas hidrelétricas no Rio Madeira.
A ex-ministra também foi só elogios para o sucessor, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, a quem chamou de companheiro e ambientalista respeitado. Em resposta a uma pergunta sobre críticas feitas ao petista, ela disse que seria uma ?simplificação grosseira? dizer que, por ter construído sua trajetória em áreas urbanas, Minc não conheceria os problemas da Amazônia. No entanto, avisou que usará a tribuna do Senado para fiscalizar a atuação do substituto.
Marina concedeu a primeira entrevista na sede da Agência Nacional de Águas, subordinada ao ministério. Em suas respostas mais contundentes, foi aplaudida pelos cerca de 50 servidores da pasta que dividiam o auditório com os jornalistas. (AG)
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Substituto quer mais dinheiro
PARIS – Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o novo ministro do Meio Ambiente, em substituição a Marina Silva, Carlos Minc disse ontem que aceita o posto, desde que tenha carta branca para seus projetos. Em Paris, em seu primeiro pronunciamento depois de ter sido convidado pelo presidente a assumir o cargo, o secretário afirmou que quer mais dinheiro para sua pasta e liberdade para formar sua equipe e para dizer não ao licenciamento ambiental de grandes empreendimentos. Garantiu ainda que quer fazer alterações no Plano Amazônia Sustentável (PAS), incluindo um programa de ?desmatamento zero?, e convidar um novo coordenador.
A entrevista, de mais de uma hora, ocorreu na embaixada do Brasil, na capital francesa. Bem- humorado e fugindo muito das perguntas dos jornalistas, Minc alegou que não queria assumir o cargo e que o ?aceitou em tese?. ?Não queria e não pedi?, repetiu. Na manhã de quarta-feira, ao chegar à França, o ambientalista, professor universitário, deputado estadual pelo PT e atual secretário do Ambiente do Rio, havia assegurado, em entrevista ainda no Aeroporto Internacional Roissy-Charles de Gaulle, que não aceitaria o cargo porque havia ?prometido de pés juntos ao governador? do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que recusaria.
A mudança de atitude, justificou, teria acontecido após o assédio do próprio governador e do presidente para que deixasse a secretaria e se integrasse ao ministério. A decisão também teria sido influenciada pela família, filhos e membros de sua equipa na secretaria. Uma declaração, entretanto, teria surtido efeito decisivo. ?Não falei com a Marina Silva, vamos conversar na segunda-feira. Mas duas pessoas com quem conversei me disseram que ela havia dito que eu era a pessoa certa?, assegurou.
Minc afagou em diversas oportunidades a antecessora, descrevendo-a como ?a melhor ministra do Meio Ambiente que o Brasil já teve?. No entanto, reconheceu a seguir que assumiria o posto sem constrangimentos. Haveria, contudo, condições para sua posse. ?Eu disse ao Lula que queria conversar com ele na segunda-feira. Disse que tinha algumas idéias e queria algumas condições de trabalho?, lembrou, citando três vantagens que o governador Sérgio Cabral lhe havia garantido na Secretaria Estadual do Ambiente: verba para financiamento de seus projetos, total liberdade na montagem da equipe e independência na avaliação de licenciamentos ambientais.
?Não adianta forçar as pessoas a licenciar rapidamente?, sustentou. Minc, que também almeja desburocratizar o processo de licenças ambientais, quer ainda participar das reuniões ministeriais que tenham como tema desenvolvimento e políticas industriais. ?O ministério não pode ficar fora da política industrial do Brasil?. Lula teria concordado com todas as condições nas conversas telefônicas que mantiveram na quarta-feira, quando recebeu o convite. ?Ele topa tudo?, disse, brincando.
PAS – Entre suas primeiras medidas, caso seja de fato empossado, Minc anunciou que pretende manter parte da equipe de Marina Silva e convidar o ex-governador do Acre Jorge Viana ? outro nome que havia sido cotado para o cargo ? para ser o coordenador-executivo do PAS. O futuro ministro do Meio Ambiente disse não ver conflito entre sua pretensão e a indicação do ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, destacado pelo presidente para ser o coordenador geral do plano.
Os primeiros projetos de sua eventual gestão compreendem alterações no Plano Amazônia Sustentável. Minc considera o projeto excelente, mas quer incorporar ao seu texto a proposta Desmatamento Zero em Sete Anos. (AE)
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Substituto quer mais dinheiro
PARIS – Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o novo ministro do Meio Ambiente, em substituição a Marina Silva, Carlos Minc disse ontem que aceita o posto, desde que tenha carta branca para seus projetos. Em Paris, em seu primeiro pronunciamento depois de ter sido convidado pelo presidente a assumir o cargo, o secretário afirmou que quer mais dinheiro para sua pasta e liberdade para formar sua equipe e para dizer não ao licenciamento ambiental de grandes empreendimentos. Garantiu ainda que quer fazer alterações no Plano Amazônia Sustentável (PAS), incluindo um programa de ?desmatamento zero?, e convidar um novo coordenador.
A entrevista, de mais de uma hora, ocorreu na embaixada do Brasil, na capital francesa. Bem- humorado e fugindo muito das perguntas dos jornalistas, Minc alegou que não queria assumir o cargo e que o ?aceitou em tese?. ?Não queria e não pedi?, repetiu. Na manhã de quarta-feira, ao chegar à França, o ambientalista, professor universitário, deputado estadual pelo PT e atual secretário do Ambiente do Rio, havia assegurado, em entrevista ainda no Aeroporto Internacional Roissy-Charles de Gaulle, que não aceitaria o cargo porque havia ?prometido de pés juntos ao governador? do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que recusaria.
A mudança de atitude, justificou, teria acontecido após o assédio do próprio governador e do presidente para que deixasse a secretaria e se integrasse ao ministério. A decisão também teria sido influenciada pela família, filhos e membros de sua equipa na secretaria. Uma declaração, entretanto, teria surtido efeito decisivo. ?Não falei com a Marina Silva, vamos conversar na segunda-feira. Mas duas pessoas com quem conversei me disseram que ela havia dito que eu era a pessoa certa?, assegurou.
Minc afagou em diversas oportunidades a antecessora, descrevendo-a como ?a melhor ministra do Meio Ambiente que o Brasil já teve?. No entanto, reconheceu a seguir que assumiria o posto sem constrangimentos. Haveria, contudo, condições para sua posse. ?Eu disse ao Lula que queria conversar com ele na segunda-feira. Disse que tinha algumas idéias e queria algumas condições de trabalho?, lembrou, citando três vantagens que o governador Sérgio Cabral lhe havia garantido na Secretaria Estadual do Ambiente: verba para financiamento de seus projetos, total liberdade na montagem da equipe e independência na avaliação de licenciamentos ambientais.
?Não adianta forçar as pessoas a licenciar rapidamente?, sustentou. Minc, que também almeja desburocratizar o processo de licenças ambientais, quer ainda participar das reuniões ministeriais que tenham como tema desenvolvimento e políticas industriais. ?O ministério não pode ficar fora da política industrial do Brasil?. Lula teria concordado com todas as condições nas conversas telefônicas que mantiveram na quarta-feira, quando recebeu o convite. ?Ele topa tudo?, disse, brincando.
PAS – Entre suas primeiras medidas, caso seja de fato empossado, Minc anunciou que pretende manter parte da equipe de Marina Silva e convidar o ex-governador do Acre Jorge Viana ? outro nome que havia sido cotado para o cargo ? para ser o coordenador-executivo do PAS. O futuro ministro do Meio Ambiente disse não ver conflito entre sua pretensão e a indicação do ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, destacado pelo presidente para ser o coordenador geral do plano.
Os primeiros projetos de sua eventual gestão compreendem alterações no Plano Amazônia Sustentável. Minc considera o projeto excelente, mas quer incorporar ao seu texto a proposta Desmatamento Zero em Sete Anos. (AE)
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Especialistas dizem que Minc tem perfil mais liberal
SÃO PAULO – A indicação do secretário do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, para substituir Marina Silva no Ministério de Meio Ambiente pode provocar uma reviravolta na concessão dos licenciamentos ambientais do país, especialmente no setor de energia elétrica. Na avaliação de especialistas, o novo ministro tem um perfil muito mais liberal comparado ao de Marina, que se mostrou uma verdadeira defensora da Amazônia.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde Castro, Minc deverá destravar o problema dos licenciamentos ambientais das usinas hidrelétricas, que nos últimos anos se transformou num verdadeiro pesadelo para o Brasil. Tanta convicção está ancorada no trabalho feito pelo novo ministro no estado do Rio de Janeiro. Segundo informações de mercado, em 16 meses, Minc concedeu mais de duas mil licenças ambientais no Rio.
?Ele trata a questão de meio ambiente de forma mais acadêmica, enquanto para Marina a Amazônia, por exemplo, virou questão ideológica?, diz Castro. Segundo ele, Minc vê a construção de uma hidrelétrica como um fenômeno econômico, que precisa ser construída, mas da forma menos agressiva ao meio ambiente.
Reação – Ambientalistas europeus afirmaram ontem que a saída de Marina Silva do comando do Ministério do Meio Ambiente pode ter conseqüências desastrosas não só para o meio ambiente, mas também para a economia do Brasil. O ecologista Reinhard Behrend, da ONG alemã Salve a Floresta, afirmou ontem que o Brasil poderá perder seu ?selo ecológico?. Já Mônica Frassoni, co-presidente dos verdes no Parlamento europeu, afirmou que a renúncia da ministra pode ser vista como um ?sinal de alerta? da ?politica ecológica desastrosa? do governo Lula.
Sem o ?selo de qualidade Marina Silva? ? um aval de que os produtos agrícolas vendidos para o exterior não são fruto da devastação da floresta ?, o país pode perder em importações, sobretudo para países europeus preocupados com o aquecimento global. O tom foi dado pela própria chanceler alemã, ngela Merkel, anteontem, em sua passagem pelo Brasil para negociar acordos sobre o etanol. (AE e AG)
Correio da Bahia