Longo prazo não preocupa a Vale
31/07/09
Empresa entrou na crise “bastante exposta” mas, em seis meses, montou carteira segura de fretes Apesar do lucro líquido de R$ 1,466 bilhão, 81,5% inferior aos R$ 7,906 bilhões obtidos em igual período do ano passado e 53,5% menor que os R$ 3,151 bilhões do primeiro trimestre deste ano, o diretor executivo de finanças e relações com investidores da Vale, Fábio Barbosa, afirmou que “a confiança da companhia no longo prazo é muito grande”. Esclareceu que o resultado do segundo trimestre resultou de vários fatores negativos combinados, como apreciação do real, a queda dos preços das commodities e até do Imposto de Renda, entre outros. “O resultado do trimestre não foi o ideal, mas nesse período fizemos uma transição bem sucedida e hoje estamos diante de um quadro bem diferente do vivido no início da crise”, comentou, esclarecendo que a companhia manteve intacta sua capacidade de produção. A Vale vendeu 106 milhões de toneladas de minério no primeiro semestre. No mesmo período, a mineradora promoveu investimentos da ordem de US$ 5,2 bilhões, mas Barbosa evitou fazer projeções para os próximos seis meses do ano devido à volatilidade do mercado. Ajuste Somente o ajuste nos preços do minério – a Vale está concedendo um desconto de 28% no minério vendido à China, mas os chineses querem 40% – causou uma perda de quase US$ 1 bilhão, segundo o Barbosa. “A Vale está aguardando as negociações com os australianos para se posicionar em relação ao desconto no futuro”, informou. Já o diretor da Área de Ferrosos, José Carlos Martins, disse que nos últimos seis meses a Vale fez uma mudança radical na forma de operar e transportar seus produtos. A prioridade passou para o comércio com a China. “Enquanto a Europa e o Brasil deixaram de consumir 9 milhões de toneladas de minério, desde setembro do ano passado, a China passou a ter participação de 70% nas vendas de minério (66% das vendas totais da mineradora). É claro que isso exigiu mudanças”, ponderou. De acordo com Martins, a companhia entrou na crise “bastante exposta”, mas, em seis meses, conseguiu montar uma carteira segura de fretes. A Vale comprou 15 navios usados e 20 novos foram encomendados para contornar os problemas de transporte. Além disso, a companhia contratou navios de terceiros a preços bastante vantajosos. Até setembro de 2008, todas as vendas da mineradora para o exterior eram feitas com o comprador arcando com os custos de seguro e frete, na modalidade free on board (FOB). Agora, cerca de 50% das exportações são feitas na modalidade em que a própria Vale banca os custos do frete, conhecida como Cost, Insurance and Freight (CIF). “Por outro lado, já há clientes voltando a buscar minério aqui no Brasil”, comentou, lembrando que, até setembro de 2009, o cliente buscava o minério nos portos brasileiros com seus próprios navios. Longo prazo No início da crise, a questão do frete praticamente eliminou a rentabilidade da Vale. Apesar disso, Martins revelou-se “tranqüilo em relação ao longo prazo”, já que, segundo ele, a produção de aço está se recuperando não apenas na China, mas também na Europa. “Antes da crise, os países europeus eram um mercado mais importante do que a China para a Vale. No entanto, as vendas para a região caíram 80% desde o agravamento da crise, porque os europeus passaram a consumir estoques, sucata e minério próprio”, explicou. Martins disse também que a elevação no endividamento líquido da companhia para US$ 2 bilhões é resultado do pagamento de dividendos da ordem de R$ 1,3 bilhão e da queda da receita, provocada pela crise. “Mas a Vale emitiu papéis num montante de US$ 940 milhões, o que vai reduzir a dívida no próximo demonstrativo”, argumentou. Aço inox No segundo trimestre de 2009, a produção mundial de aço inoxidável cresceu 20%, invertendo uma tendência de queda que já durava dois anos, o que promoveu uma desestocagem do produto. Esta nova realidade demanda agora uma retomada da produção. “Está em curso uma reativação industrial em escala global. Há sinais de recuperação também nos países desenvolvidos”, disse, reiterou Martins, comentando que, por causa disso, as perspectivas para o níquel também são favoráveis. “Além da maior demanda por aço inoxidável, principal consumidor do níquel, também existe uma maior procura dos setores de baterias, eletrônicos e automóveis. Nas últimas oito semanas, os preços subiram muito e a perspectiva é melhor para o segundo semestre”, disse. O executivo afirmou ainda que a empresa está reestruturando suas operações de níquel em busca de redução de custos. “A companhia está procurando obter sinergias entre as diferentes operações de níquel em todo o mundo, enquanto renegocia contratos com fornecedores e prestadores de serviços”, acrescentou. Energia e gás A Vale manteve o cronograma da usina termelétrica de Estreito, que deverá entrar em operação já em 2010. Porém, segundo Fábio Barbosa, o projeto da térmica de Bacarena ainda não obteve licença ambiental. Quanto ao gás, o diretor de finanças e relações com investidores afirmou que esse segmento faz parte da estratégia de longo prazo da companhia. “Somos um grande consumidor de gás e temos aumentado nossa presença no setor. O investimento previsto para o gás este ano está mantido em US$ 260 milhões”, confirmou. Barbosa garantiu, ainda, que a Vale pretende ser uma grande player no mercado de fertilizantes. No entanto que, apesar dos investimentos estarem mantidos mesmo com a crise, não há previsão de ampliação desses recursos.
Monitor Mercantil