INB busca sócio para explorar urânio no Ceará
06/06/07
A Indústrias Nucleares do Brasil (INB), empresa de economia mista ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mantém discussões com companhias privadas para estabelecer parceria na exploração da mina de Santa Quitéria, no Ceará. Trata-se da maior reserva de urânio do país, mas sua viabilidade econômica depende da extração de um produto associado, o fosfato, usado na produção de fertilizantes.O projeto da INB consiste em fechar acordo com empresa interessada na produção de ácido fosfórico. No processo de produção, o parceiro entregaria à INB resíduos a partir dos quais a empresa estatal separaria o urânio, matéria-prima na produção do combustível usado em usinas nucleares. A estimativa é de que Santa Quitéria, ainda em processo de licenciamento ambiental, possa produzir 800 toneladas de urânio por ano. Na Bahia, a INB já explora a mina de Caetité, onde tem capacidade de produzir 400 toneladas por ano de urânio concentrado. A meta é duplicar este volume nos próximos anos.O novo presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, que tomou posse ontem disse que um dos seus objetivos será dar continuidade às conversações já iniciadas com o setor privado para explorar a mina de Santa Quitéria. A parceria poderá levar à formação de um consórcio entre INB e companhia privada. O modelo concebe a participação conjunta das empresas na implantação e operação do projeto.Tranjan disse que uma de suas metas na INB será buscar a autosuficiência em todas as fases do chamado “ciclo do combustível nuclear”, conjunto de etapas que transforma o urânio em combustível de usinas nucleares. A autosuficiência será atingida de forma gradual, disse Tranjan. Um dos objetivos da INB, segundo ele, é chegar a 2010 em condições de enriquecer em Resende (RJ), onde está a fábrica de combustível nuclear, 60% das necessidades das usinas de Angra I e II. Hoje a INB faz a mineração e o beneficiamento do minério em Caetité (BA) e o exporta para o Canadá onde o enriquecimento é feito pelo consórcio Urenco, formado por empresas de diferentes países.O Urenco se encarrega do enriquecimento e reenvia o produto à INB, que se encarrega das etapas seguintes até a obtenção do elemento combustível utilizado nas usinas nucleares de Angra dos Reis. A usina de enriquecimento de Resende está em fase de testes e não produz em escala comercial. Tranjan disse que a expectativa de construção da usina de Angra III exige aumento na produção mineral de urânio, daí a importância do projeto de Santa Quitéria.Presente à posse de Tranjan, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, disse que a decisão de retomar a construção de Angra III será formalizada na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), pré-agendada para 25 de junho. Segundo ele, a INB tem garantidos os recursos para a realização de todas as etapas no processo do ciclo do combustível nuclear.Segundo ele, as demais usinas nucleares que poderão ser construídas no país (entre quatro e oito reatores) ainda exigirão estudos complementares. “O plano é começar com usinas maiores que terão grande parte de componentes nacionais e parceiro internacional. A partir da terceira ou quarta usina, queremos fazer os projetos com tecnologia (exclusivamente) nacional”, disse Rezende.Luís Hiroshi, diretor de planejamento, gestão e meio ambiente da Eletronuclear, empresa que administra e opera as usinas nucleares de Angra, confirmou que haverá audiências públicas nos dias 19, 20 e 21 deste mês em comunidades da área de influência das usinas nucleares, no Sul fluminense, para apresentação e discussão do estudo e do relatório de impacto ambiental do projeto de Angra III.A construção da usina custará R$ 7 bilhões e deverá ser financiada. Segundo Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear, Angra III terá um custo de geração competitivo, de R$ 138,14 por megawatt/hora (MW/h).
Valor Econômico