Importação de mão-de-obra especializada cresce no País
24/03/08
Em 2007, cerca de 30 mil profissionais estrangeiros, entre temporários e permanentes, vieram trabalhar no Brasil. O número de autorizações concedidas pelo Ministério do Trabalho cresceu 65% no acumulado de 2004 a 2007. “A gente entende que esse movimento surge com o próprio desenvolvimento do País. A tendência de aumento de estrangeiros prestando serviço aqui é um reflexo positivo do desempenho da economia”, explica o coordenador do Departamento de Imigração do Ministério do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida. “Em 2008, a expectativa que é o número do ano passado se repita ou seja superado”, conta.Um dos fatores que resulta na entrada de técnicos de outros lugares do mundo no Brasil está associado ao crescimento econômico, segundo Almeida, que trouxe novos aportes financeiros e, principalmente, projetos como implantação de parques industriais e importação de máquinas, que quase sempre fazem necessário mão-de-obra especializada para a montagem e o treinamento de pessoal.A vinda de estrangeiros, no entanto, responde a uma série de regras e é acompanhada pelo Conselho Nacional de Imigração, formado por representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores. Almeida diz que há toda uma preocupação para proteger o mercado de trabalho brasileiro. “Esses profissionais deixam aqui know-how e expertise e não concorrem com a mão-de-obra nacional”, explica o coordenador do Departamento de Imigração. Almeida vê com naturalidade o intercâmbio de mão-de-obra que a dinâmica dos negócios determina. O conselho observa as suas determinações também em função da proteção da mão-de-obra nacional.O mapeamento dos dados sobre essa importação de mão-de-obra indica que os países de origem desses trabalhadores se concentram nos Estados Unidos, Reino Unido, Filipinas, Itália e França. Entre os vistos permanentes há duas modalidades: investidor pessoa física e administradores, diretores, gerentes e executivos. “Mas 90% dos pedidos estão relacionados a trabalho temporário, são pessoas que vem, executam o serviço e vão embora”, conta Almeida.Na sua maioria os profissionais têm nível superior completo. Segundo Almeida o setor que apresenta maior demanda é a Indústria e Prestação de Serviços. Com destaque para engenharia e geologia, indústria química, e outros setores como tecnologia da informação e telecomunicações.Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a vinda de estrangeiros não é um problema, a falha é que não exista reciprocidade neste tipo de intercâmbio. “Avaliamos que se o capital pode ir a todos os países a mão-de-obra também pode, mas há restrição para países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, que não conseguem disputar o mercado em outros lugares. O que a gente quer é reciprocidade. Por isso defendemos a idéia de ter um adido trabalhista, uma pessoa na embaixada brasileira que cuidasse disso”, afirma Juruna.O sindicalista diz que lá fora os países fazem reserva de mercado e que se hoje falta mão-de-obra especializada, serve de aviso para a importância de um planejamento na qualificação.Apagão de engenheirosA engenharia concentra a maior parte da demanda por especialização. Segundo o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), no ano passado, as autorizações de trabalho concedidas a engenheiros estrangeiros pelo Ministério do Trabalho chegaram a 1.590. Desses, 450 são engenheiros mecânicos nas áreas automotiva, industrial e de energia nuclear. Áreas bastante prejudicadas são, segundo o ex-presidente do Confea, Marcos Túlio de Melo, petróleo e gás, siderurgia e metalúrgicos, indústria e mineração. “Deixamos de ter planejamento para essas demandas”, diz.Em 2006, o Confea analisou 34 registros profissionais de estrangeiros. Em 2007, foram 47. Este ano, a expectativa é analisar 100 registros – o Conselho apenas avalia registros de profissionais `permanentes`.Segundo o ex-presidente do Confea, estagnado por muitos anos, o setor de Construção Civil e o campo da engenharia ficaram esquecidos e agora foi preciso correr atrás para recuperar a defasagem e o que o engenheiro chama de `cultura técnica` . “Faltou visão estratégica”, afirma.Melo espera, no entanto, que uma vez adequada às carências em especialização existentes, que haja uma contrapartida para intercâmbios que coloquem o profissional brasileiro em pé de igualdade para ocupar espaços em outros países.Soluções de curto e longo prazo já estão em andamento e a preocupação agora, conta Melo, é ter um planejamento adequado para que o setor não sofra com um recuo de investimentos.
DCI