Holding nem sempre é boa aplicação
09/07/07
O crescimento econômico e os bons resultados obtidos pelas empresas brasileiras nos últimos anos levam muitas companhias a ampliar o leque de atuação em busca de resultados. Analistas alertam que diversificação excessiva pode prejudicar o andamento dos papéis das empresas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e frisam que o aumento das atividades deve sempre ser realizado com cautela para que não haja perda de sinergias, o que acaba afetando o resultado das companhias. Parte da penalização imposta pelo mercado a empresas excessivamente diversificadas pode ser visto no tratamento diferenciado entre papéis de holdings e ações das empresas que fazem parte da carteira das holdings. `O mercado interpreta que, para investir em uma ação que vai investir em outra, é melhor você mesmo aplicar na ação final. Mal comparando, a holding é como um fundo de investimentos`, diz Alexandre Montes, analista da corretora Prime. Um exemplo bem sucedido de empresa que optou por manter o foco na atividade principal é a Souza Cruz. No início dos anos 90 a companhia vendeu participações na produtora de sucos Maguary e, em 1996, se desfez da fatia que detinha na Aracruz Celulose. `Na época, um dos executivos da empresa disse que o objetivo era concentrar esforços no que a empresa sabia fazer, que era atuar no mercado de cigarros`, lembra José Costa Gonçalves, diretor da corretora Indusval. A diversificação considerada saudável é a operação nos moldes do que fez este ano a Vale do Rio Doce, que abriu capital da subsidiária de logística Log-In, o que não a fez perder o foco no principal negócio da empresa, a mineração. O IPO da Log-In segue outros exemplos semelhantes do passado recente, como a Contax, controlada pela Telemar que chegou à Bovespa em 2004 e este ano já registrou alta de 33,67% nas ações preferenciais, cotadas a R$ 2,62, e de 12,18% nas ações ordinárias, cotadas a R$ 3,59. `Esse movimento é o chamado dois mais dois igual a cinco. A empresa entende que tem um ativo subavaliado por estar ligado a uma estrutura e opta por separar esse ativo. Ela ganha dinheiro na abertura de capital, continua dono do ativo e vê o valor de mercado total subir, pois o mercado começa a prestar atenção e a valorizar a fatia que foi separada da empresa principal`, diz Gonçalves, da Indusval. Alexandre Montes lembra ainda do movimento feito pela Lojas Americanas em 1999, quando a empresa optou pela segregação das atividades imobiliárias e de participações exercidas pela São Carlos Empreendimentos das atividades de varejo da empresa principal. `A palavra de ordem no mercado hoje é foco`, resume Montes, lembrando ainda que o próximo movimento de separação de ativos esperado pelo mercado é o da CSN, que já anunciou a intenção de abrir capital dos ativos ligados à mineração, como a mina Casa de Pedra.
Jornal do Commércio – RJ