Hidrelétricas do Rio Madeira vão gerar investimentos de R$ 30 bi
19/07/07
Cada usina exigirá entre R$ 10 bi e R$ 12 bi e a linha de transmissão, R$ 9 bi A construção das hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, deverá gerar investimentos da ordem de R$ 30 bilhões nos próximos seis anos, conforme avaliação de uma fonte diretamente envolvida nas negociações. Além das duas hidrelétricas (Santo Antônio e Jirau), o projeto exigirá uma linha de transmissão de 2.700 quilômetros de extensão ligando as duas usinas ao interior de São Paulo. A estimativa mais recente do consórcio Odebrecht/Furnas, que está fazendo o levantamento prévio da viabilidade econômica, é de que cada usina exigirá entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões e a linha de transmissão outros R$ 9 bilhões. `É um dos maiores negócios `na prateleira` no mundo e pode ter certeza de que a disputa será intensa`, observou a fonte. Convertido ao dólar atual, os R$ 30 bilhões equivalem a cerca de US$ 16 bilhões, pouco abaixo da compra da mineradora Inco pela Companhia Vale do Rio Doce no ano passado, o maior negócio de compra/venda de empresas na América Latina e que foi estimado em US$ 18 bilhões. Os investimentos no Madeira atingem praticamente o atual valor de mercado do grupo Eletrobrás, na Bovespa. A estatal, que responde por cerca de dois terços do parque gerador de energia elétrica instalado no País, está cotada na bolsa brasileira por cerca de R$ 31 bilhões. O ceticismo que ainda cerca o empreendimento por parte de alguns especialistas não é partilhado pelos consórcios que estão se formando. Fontes destacaram que o negócio já sai praticamente viabilizado em termos econômico-financeiros, devido à forma de comercialização de energia. A energia elétrica tornou-se um bem escasso e há poucos empreendimentos com oferta disponível a partir de 2012/2013. `Sem o complexo do Madeira, o risco de racionamento é muito alto e o governo não vai permitir obstáculos à sua construção`, complementou um técnico do governo. Por isso, as maiores distribuidoras de energia do País terão de comprar a energia no leilão, o que viabilizará os empreendimentos. Ao contrário do registrado até há poucos anos, o setor tem demonstrado boa saúde financeira e muitas adotaram práticas modernas de governança corporativa e atingiram `grau de investimento` nas classificações das agências especializadas em avaliação de risco corporativo. Uma fonte do governo que participa da montagem da operação acredita que o risco financeiro no setor `é muito baixo` e esse é dos fatores que devem contribuir para o sucesso do leilão. `Há diversos bancos no mundo ansiosos por oferecer crédito às grandes distribuidoras de energia elétrica no Brasil. Dinheiro não será problema`, destacou. Até porque o próprio governo está mobilizando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no apoio ao projeto. O banco estatal tem `funding` garantido constitucionalmente, recebendo aportes anuais das receitas do PIS/Pasep, imposto que incide sobre o faturamento das empresas. As tarifas das duas hidrelétricas, por sua vez, não deverão ficar muito acima das projeções de custos previstos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelo planejamento de longo prazo no setor. Os estudos do consórcio Odebrecht/Furnas indicam tarifas competitivas para as duas hidrelétricas, podendo ficar abaixo de R$ 135 por MW/h. `É compatível com os parâmetros da EPE`, garantiu uma fonte do consórcio. `E pode ficar ainda mais baixa, dependendo da disputa pelos empreendimentos e de algumas definições por parte do governo`, complementou. Uma das incógnitas da disputa é o compromisso firmado pela Odebrecht com Furnas, controlada pela Eletrobrás. Esse acordo foi assinado em março de 2005 e obriga que os dois grupos participem em conjunto do leilão do Madeira. Na avaliação da Odebrecht, o acordo inclui todas as outras empresas do grupo Eletrobrás, como a Chesf, Eletronorte e a própria holding. Esse ponto de vista, porém, não é partilhado no grupo Eletrobrás. `Uma subsidiária não pode assumir compromissos pelo grupo como um todo. As empresas têm autonomia operacional e jurídica`, sustenta uma fonte do grupo. O contrato está sendo analisado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e o governo ainda não se posicionou oficialmente pela sua extensão às outras empresas da Eletrobrás. De qualquer forma, a intenção do grupo Odebrecht/Furnas é formar uma `proposta matadora`, conforme uma fonte do consórcio. As duas empresas têm ampla experiência no construção e operação de hidrelétricas e atraíram também os grandes fabricantes de equipamentos, como Alston, Areva e Siemens. `São grupos reconhecidos internacionalmente e têm todas as condições de saírem vitoriosos`, complementou a fonte. O que é visto como `ponto forte` do consórcio, porém, é apontado como `fraqueza` pelos concorrentes. O diretor do grupo Suez Energy no Brasil, Victor-Frank Paranhos, apontou justamente esse ponto em entrevista coletiva recente para justificar porque o Suez vai disputar sozinho o leilão. Na sua visão `há conflito de interesses` entre o ponto de vista das empresas de engenharia e dos fabricantes de equipamentos em relação às operadoras da usina. Na sua avaliação, é difícil conciliar esses interesses conflitantes em um mesmo consórcio. Paranhos disse que, encerrado o leilão, o grupo Suez vai contratar as empresas de engenharia e os fabricantes de equipamentos. Ele acredita que será possível atrair também o grupo Eletrobrás. Na sua opinião, o acordo Odebrecht/Furnas não poderia engessar a holding estatal como um todo. `Não faz sentido uma subsidiária assumir compromissos pela holding`, argumentou.
Jornal do Commércio – RJ