Grandes consumidores reclamam da nova fórmula de reajuste do gás natural proposto pela
23/08/07
Grandes consumidores de energia, como Companhia Vale do Rio Doce, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Votorantim e a Braskem, queixam-se da nova fórmula proposta pela Petrobras para o reajuste do preço do gás natural. As companhias alegam que, apesar de os custos de produção da Petrobras serem dos mais baixos do mundo, atualmente o produto brasileiro já está custando mais caro do que o boliviano e, se essa fórmula for de fato aprovada, os preços do gás natural brasileiro se equipararão aos preços do óleo combustível, tido como o insumo mais caro disponível para a indústria, até o fim de 2008. A previsão é da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). Os grupos industriais reunidos na Abrace absorvem 20% do total de energia elétrica consumida no País, ou 45% da fatia industrial. Respondem também por aproximadamente 40% da energia térmica utilizada pela indústria. O vice-presidente da associação, Marcos Vinicius Gusmão Nascimento, alega que se essa fórmula for de fato aprovada “haverá um incremento de preço inaceitável, realizado de maneira abrupta, que irá inviabilizar negócios e impactar negativamente nos investimentos”. Impacto disseminado “O setor de vidro, por exemplo, sofrerá muito porque fez investimentos na troca de equipamentos. Outros segmentos que fizeram mudança na matriz energética também sofrerão um impacto drástico”, diz Nascimento. Ele esclarece que em 2002, quando a precificação do gás tornou-se livre, a Petrobras, então com autonomia para estipular os preços, os manteve controlados e “isso teria estimulado a indústria, que entendeu o sinal inequívoco de que o gás estaria disponível, com suprimento seguro e preços competitivos. Essa nova realidade acelerou o processo de substituição de outras matrizes energéticas pelo gás – mais ambientalmente correto e também mais barato”. Ainda de acordo com o executivo, a atitude da estatal “resultou, na época, num preço final do gás atraente o suficiente para justificar os investimentos da indústria na transformação de suas matrizes energéticas”. Nascimento diz que a entidade não acredita que esse aumento seja a solução adequada. Ele sugere que um aumento escalonado seria melhor: “Precisamos de uma política definida, com regras claras e de conhecimento de todos”, declara. Nascimento ressalta ainda que “os grandes players de mercado estão se articulando para formular junto ao governo uma política de preço para o gás e para o óleo que trará mais previsibilidade para o setor”. Para ele, “já se tem perda de mercado frente aos países que com maior previsibilidade das fontes energéticas, nossos concorrentes estão ganhando vantagens. Hoje está difícil retornar para outros combustíveis até pela questão ambiental”, garante. A nova fórmula A nova fórmula da Petrobras para as distribuidoras de gás prevê que o preço seja reajustado com base em uma metodologia própria que considera fatores como o preço da cesta de óleos, a variação cambial e, principalmente, a remuneração dos investimentos feitos pela estatal. A cotação no mercado à vista nos Estados Unidos também poderá entrar no cálculo, no fornecimento a termoelétricas. Este ano, os reajustes feitos pela Petrobras têm sido alvo de polêmica, principalmente depois que a estatal aumentou em 20% o preço do gás natural em abril, após quase dois anos de congelamento nos preços. Em junho a estatal aumentou em mais 3% o preço do gás. “Estamos realizando investimentos cada vez mais altos e precisamos garantir o retorno desses aportes”, explicou Antonio de Castro, gerente executivo do setor de Gás & Energia Corporativo da Petrobras. Ele lembrou que os planos de investimento da estatal para a área de gás natural entre 2007 e 2011 totalizam US$ 22,4 bilhões, incluindo projetos nas áreas de exploração, produção e transporte do gás natural. Castro ressaltou também que a empresa precisa analisar os moldes dos contratos e diversificá-los, uma vez que só um terço das usinas termoelétricas que recebem o gás brasileiro despacham continuamente; o restante só opera quando há necessidade de assegurar o abastecimento do País. O gerente da Petrobras destacou que a questão da competitividade do gás em relação às outras fontes energéticas também é um aspecto defendido pela estatal.
DCI