Garimpeiros ainda têm esperança de enriquecer em Serra Pelada
07/05/10
As primeiras amostras de ouro foram encontradas no sudeste do Pará, em 1976, e logo a notícia se espalhou. Em 1980, migrantes de vários estados invadiram o garimpo que teve seu auge em 1983.
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Só naquele ano foram retiradas 14 toneladas de ouro do local, segundo registros oficiais. Na época, 100 mil homens escavavam a cratera aberta à mão no sudeste do Pará. Em dez anos de funcionamento do garimpo, foram retiradas 43 toneladas de ouro. No final dos anos 80, o ouro da superfície se esgotou.
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No buraco, que mais parecia um formigueiro humano, haviam os donos de barrancos – gente que investiu muito dinheiro na compra de lotes dentro da cava e contratou funcionários para trabalhar na lama. Quem veio apenas com a roupa do corpo e a coragem era chamado meia-praça. Eram eles que carregavam nas costas o peso – eram sacos de terra e até algum ouro para o patrão. Eles tinham direito a uma percentagem sobre o ouro encontrado no barranco.
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O maranhense José Mariano dos Santos, conhecido como Índio, foi um dos primeiros a chegar por aqui, há três décadas. Não tinha nem 30 anos de idade quando fez fortuna, “bamburrou” na gíria dos garimpeiros. Sozinho tirou da terra 400 quilos de ouro. Hoje não tem mais nada. O dinheiro foi investido na compra de carros, casas, aluguel de avião.
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Mariano conta que esbanjava. “Achava que o ouro enterrado nunca ia terminar. Quando precisasse era só voltar e tirar mais um pouco”, diz ele. Mesmo com o bolso cheio Mariano queria mais. Vendeu tudo que tinha para investir novamente na cava. Comprou barrancos e contratou funcionários por mais de cinco anos. O que tirou não pagava nem o investimento.
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Hoje José Mariano vive num barraco de madeira, na periferia do antigo garimpo. Ainda cava no quintal de casa. Fez dois poços na esperança de voltar a encontrar ouro.
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Histórias como a dele são comuns no povoado que surgiu na beira da cratera. Hoje, por sinal, ela não existe mais. Virou um açude contaminado pelo mercúrio depois que as escavações atingiram o lençol freático.
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Passados 20 anos desde que o garimpo foi fechado, os danos ambientais ainda são visíveis. Isso sem falar nos problemas sociais. Hoje 6 mil pessoas vivem na periferia da antiga cava em situação de miséria. Sem água encanada, saúde, saneamento. Em barracos de madeira. Gente que investiu tudo o que tinha e até hoje tem esperança de ganhar algum dinheiro.
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Um deles é Bento Onorato de Sampaio, de 67 anos. Em 1982, deixou o emprego de vaqueiro no Maranhão, a mulher e seis filhos. Até hoje está aqui. Bento se emociona ao falar do passado e do sonho. “Quando vi a notícia de que daqui brotava ouro não tive dúvida. Lá eu não tinha nada, era empregado. Era minha chance de ter alguma coisa.”
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Bento tirou da terra 5 quilos de ouro, mas também perdeu tudo. Agora, 28 anos depois, vive sozinho num barraco de um cômodo e quase nenhuma mobília. Do passado, só restaram as lembranças e a bateia, usada para peneirar o ouro. Para sobreviver trabalha como marceneiro. O dinheiro é pouco, mas hoje foi o suficiente para garantir o almoço com um pouco de carne e feijão que ele mesmo prepara. Mas Bento é um sonhador. Em frente ao barraco pintado com as cores da bandeira do Brasil, ele espera ganhar “um troco” para reencontrar a família. “Investi minha vida aqui e não volto de mãos vazias.”
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A esperança de Bento é a de 45 mil garimpeiros que receberam em 2007 a concessão das terras do antigo garimpo e criaram a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), no município de Curionópolis, a 50 km de Serra Pelada. Eles recebem, nesta sexta-feira, a concessão de lavra para reativar o garimpo de Serra Pelada.
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Curionópolis surgiu no início da mineração. Como crianças, mulheres e bebidas eram proibidos no garimpo, eles ficaram no caminho e acabaram dando origem à cidade que recebeu esse nome por ter sido fundada por Sebastião Rodrigues de Moura, o Major Curió, personagem polêmico. Ex-líder dos garimpeiros, foi contratado pelo governo para ser o interventor de Serra Pelada que naquele tempo foi colocada nas mãos da então estatal Companhia Vale do Rio Doce.
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