Fragilizada, Rio Tinto poderá ceder
15/01/09
As negociações oficiais de minério de ferro devem começar ainda este mês, segundo esperam fontes ligadas às mineradoras. Nesta semana, as siderúrgicas chinesas estão tendo conversas preliminares com a mineradora anglo-australiano Rio Tinto e encontros classificados como “visitas de cortesia” com a equipe da de negociadores da também anglo-australiana BHP Billiton – no fim de 2008, executivos da Vale do Rio Doce estiveram com os chineses. Na avaliação do mercado, a Rio Tinto, terceira maior mineradora, poderá liderar as negociações deste ano.
Tal expectativa tem preocupado Vale e BHP Billiton, que juntas com a Rio Tinto, dominam 70% do comércio transoceânico de minério de ferro. Interlocutores do mercado financeiro que acompanham com atenção as conversas entre mineradoras e siderúrgicas revelam que há um certo temor de que a Rio Tinto feche um acordo não muito favorável às demais por estar fragilizada, em razão da alta dívida contraída com a compra por US$ 38 bilhões da Alcan em 2007.
A Rio Tinto pode vir a fazer concessões às siderúrgicas chinesas acatando um percentual de queda mais forte do preço do minério em troca de um compromisso destas usinas de comprar um volume maior, que possibilite a mineradora engordar seu caixa para fazer frente ao pagamento da dívida, avaliam as fontes. A dívida líquida da Rio Tinto somava US$ 37 bilhões. A meta da companhia é reduzi-la em US$ 10 bilhões em 2009 por meio da venda de ativos e medidas para fortalecer o caixa.
Os analistas de mineração apostam em percentuais de queda entre 15% e 30% nos preços do minério de ferro. Os 40% pretendidos pela Cisa – associação das siderúrgicas chinesas -, que já chegou a mencionar queda de 82% para a commodity, não são vistos como viáveis, num momento em que os indicadores de demanda estão mais otimistas, a despeito das incertezas do setor.
Em dezembro, as importações chinesas de minério de ferro somaram 34,5 milhões de toneladas, o que significa uma alta de 6% ante novembro e 1% ante o mesmo período de 2007. Os estoques de minério nos portos chineses baixaram de 76 milhões de toneladas em setembro de 2008 para 58 milhões de toneladas. O preço do minério indiano vendido no mercado a vista e colocado na China tem hoje uma diferença de apenas 10% ante o preço do minério contratado posto na China. No início da crise, essa diferença era de 40%.
O minério indiano está cotado hoje a US$ 79,80 a tonelada enquanto o minério contratado da Vale para a China, FOB porto de Tubarão, custa US$ 87,38. “A situação não é de catástrofe”, observou o interlocutor do setor financeiro. Se o minério contratado cair 20%, será vendido em torno de US$ 69. Se tiver queda de 30%, seu valor será de US$ 61.
Outro ponto de discussão na negociação é a questão do sistema de preço a vigorar para o minério a partir deste ano. Recentemente, as usinas chinesas complicaram mais ainda a questão ao colocarem na mesa outra exigência para negociar com as mineradoras. Elas estão querendo que o preço do minério tenha variação trimestral para evitar desequilíbrio tão grande entre o custo do minério e o preço de venda do aço, como aconteceu no último trimestre.
Na ocasião, enquanto os preços do aço despencaram 50%, as siderúrgicas tinham de fazer face aos custos altos do carvão e do minério. O novo preço só vigora, conforme a tradição, em 1º de abril. O pano de fundo desta briga é a disputa pela adoção do preço de referência anual (defendido pela Vale) ou o sistema baseado numa cesta de indicadores apoiada pela BHP.
Valor Econômico