Fabricantes de Carajás criam fundo para reflorestamento
01/03/07
Bettina Barros01/03/2007
Acusados de desmatar mata nativa da Amazônia e utilizar mão-de-obra infantil, pressionados pelo Ministério Público Federal e às voltas com multas do Ibama que já beiram os R$ 700 milhões, produtores de ferro-gusa do Pólo Siderúrgico de Carajás, no Pará, anunciaram esta semana a criação de um fundo financeiro para o reflorestamento da região. O ferro-gusa é usado na fabricação de aço e a produção de Carajás representa 60% das exportações do país.
É o primeiro movimento concreto para tentar reverter a imagem desgastada do setor e o impacto que isso vem tendo no mercado, sobretudo compradores internacionais, que já começam a falar em rever contratos.
Das 15 indústrias de ferro-gusa em operação em Carajás, 11 aderiram ao fundo e investiram, juntas, com US$ 6 milhões. Entre elas estão Cosipar, Terra Norte, Cosima e Gusa Nordeste. “A expectativa é de que os produtores consigam angariar US$ 15 milhões/ano”, disse ao Valor André Câncio, ex-presidente da Asica, entidade dos produtores locais que coordena o projeto.
O Fundo Florestal Carajás foi estruturado pelo Banco Galvão de Negócios (BGN) e será registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A custódia ficará sob com o Itaú, que também atuará como gestor, juntamente com um comitê formado por cinco cotistas. Segundo Câncio, todo projeto de reflorestamento apresentado terá de ser aprovado previamente pelos órgãos estaduais de meio ambiente. “Só depois de uma análise técnica, a empresa poderá resgatar o dinheiro posto no fundo”, disse. Cada empresa deverá aplicar US$ 3 por tonelada exportada. Depois, terá de comprovar o plantio correspondente. Após isso é que estará autorizada a resgatar US$ 700 por tonelada. O custo total de reflorestamento por hectare é estimado em US$ 1,6 mil. O fundo não termina com o resgate, já que as novas exportações contribuirão para ampliar o patrimônio.
A idéia é plantar árvores ao longo de toda a extensão da ferrovia que escoa a produção de Carajás para o porto de Itaqui, no Maranhão. Segundo Câncio, cada indústria terá que plantar uma área mínima de 500 hectares. “Atualmente, temos 130 mil hectares plantados de onde se tira a fonte do carvão vegetal usado nos fornos para fazer o ferro-gusa. Mas a necessidade para atender a produção é de 250 mil hectares”, disse, acrescentando que a inciativa financeira visa buscar sustentabilidade ao negócio. A Asica prevê chegar a 250 mil hectares em sete anos.
Segundo o promotor Raimundo Moraes, Ministério Público Estadual, o setor consome de 12 a 14 milhões de metros cúbicos de toras convertidos em carvão vegetal. A maior parte da madeira vem de desmatamento. Segundo o Serviço Florestal Brasileiro, autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente, cerca de 40% da cobertura florestal de Carajás já foi desmatada.
Para o governo federal, a questão é tão preocupante que já se discute a criação de um distrito florestal sustentável em Carajás, nos moldes do criado ao longo da BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA). A idéia poderia beneficiar ao menos 150 famílias.
Valor Econômico