Exportação de minérios continua fraca
17/07/09
Longe de enxergar qualquer luz no fim do túnel, especialistas em exportações no Pará afirmam que a recuperação do setor mineral na balança comercial de junho, se comparado ao mês anterior, não representa o fim da crise – e que ainda pode haver um extenso caminho a ser percorrido. Os analistas apontam apenas um produto como o responsável pelo crescimento da pauta mineral nas vendas externas paraense. Com exceção da hematita, que no primeiro semestre deste ano cresceu 58,95% em relação ao mesmo período de 2008, todos os demais produtos minerais tiveram quedas acentuadas nas exportações ante ao ano anterior. O Estado, que continua sofrendo os impactos do colapso financeiro mundial, teve um recuo nas exportações de minérios equivalente a 7,76% no primeiro semestre deste ano em comparação com os seis primeiros meses do ano passado.
Os piores desempenhos do setor ficaram por conta do manganês, que despencou 72,19% entre 2008 e 2009 e do ferro-gusa, que retraiu 63,28% em igual período. A situação do parque guseiro paraense está cada vez mais delicada: das 11 siderúrgicas espalhadas pelo Pará, apenas uma está funcionando a pleno vapor, e outras três funcionam parcialmente, produzindo apenas 50% de sua capacidade. As exportações estão comprometidas desde outubro do ano passado, quando o setor ainda apresentava bons resultados. Para se ter uma ideia dos prejuízos, durante os seis primeiros meses de 2008 a indústria do ferro-gusa arrecadou US$ 403 milhões. Já nos seis primeiros meses deste ano as vendas não chegaram a US$ $ 149 milhões – com uma redução de quase 70% na produção.
Para Ana Cláudia Pingarilho, secretária executiva do Sindferpa (Sindicato das Indústrias de Ferro Gusa do Pará), o setor tem uma série de agravantes dentre os quais vale destacar a questão do desemprego. Dos nove mil trabalhadores que atuavam nos parques guseiros do Estado, apenas três mil continuam na ativa. Em 2008, cada tonelada custava US$ 650, este ano, com a crise, o preço caiu para US$ 250. E os problemas não param por aí. Se no ano passado contribuíamos com 8,45% da balança comercial, hoje não ultrapassamos a casa dos 3,77%, destaca.
Ana Cláudia afirma que as esperanças estão voltadas para 2010, porém, tudo depende da forma como os mercados europeus e norte americano se comportam. Em 2008, 90% de tudo aquilo que produzimos foi exportado. Hoje, com uma produção em menor escala, o mercado interno absorve praticamente todo o ferro-gusa fabricado no Pará. A solução está sendo a verticalização do produto, que está sendo direcionado principalmente para a construção civil, revela.
No total, o Pará deteve, no primeiro semestre deste ano, um recuo de 11,42% na balança comercial, ante ao mesmo intervalo de tempo do ano passado. Por este motivo, Raul Tavares, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará) afirma que é preciso ter cautela antes de avaliar o cenário atualmente vivenciado pela exportação do Estado. No caso do ferro gusa, o Pará sofreu uma queda de 64% no semestre em relação ao ano passado.
Apenas um produto teve variação positiva, que foi a hematita. Ela representa, em exportações, mais da metade do setor mineral. Todos os demais tiveram variação de queda, explica. Raul alega que a hematita é o produto que está carregando o setor mineral, e que algumas mudanças são necessárias. Além de fazer o dever de casa, é preciso pensar na economia internacional, afinal, o Estado possui apenas um produto respondendo acima de 50% e um destino exterior que é a China, argumenta.
ANÁLISES
O economista Luis Pinto, membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-PA), destaca que a crise ainda não deu nenhum sinal de recuo, e que os resultados da balança comercial precisam ser analisados em sua totalidade. O setor mineral, sempre foi a nossa principal moeda de exportação, e continuamente apresentou resultados positivos antes da crise, mesmo sendo pequeno o número de empresas que trabalham na produção. Os índices conquistados na balança comercial de junho, são insignificantes diante de tudo aquilo que o setor já gerou, ressalta.
Segundo Luis Pinto, os problemas irão continuar enquanto o mercado internacional não reagir. O Pará não vai sair da crise sozinho. O mercado lá fora ainda tem problemas, e a construção de obras estruturantes não voltou a acontecer em nenhum lugar do mundo. A demanda ainda está menor do que no ano passado, completa. Para o economista o ano está perdido, e a recuperação, que deve dar-se a partir de 2010, será difícil. Para manter o que se tinha no ano passado, seria preciso manter o nível de produção. Mas como fazer isso quando se está demitindo?, indaga.
Para Paulo Camillo, presidente do Ibram (Instituito Brasileiro de Mineração), o pior ainda não passou. Apenas podemos afirmar que nós paramos de cair. Nós estamos vivendo um período de volatilidade, ou seja, de altas e baixas, alega. Camillo justifica a sua afirmação apresentando os números do setor mineral paraense. Entre os meses de janeiro e outubro de 2008 a média mensal de exportações batia a casa dos 25 milhões de toneladas. Em novembro, a comercialização com o exterior foi de 18 milhões de toneladas. Já em dezembro, considerado o pior momento do setor no ano, a exportação em toneladas foi de 13,5 milhões.
Segundo o presidente do Ibram, em 2009, nos seis primeiros meses, a média mensal fechou com uma redução de 24% ante ao mesmo período do ano passado. Com estes resultados, fica evidente o cenário de pouca estabilidade, e acreditamos que ficaremos assim até o final do ano. Esperamos não retornar ao desempenho alcançado em 2008 – e ao contrário disso, acreditamos que, paulatinamente enfrentaremos esses altos e baixos do mercado, principalmente no ano que vem, afirma.
O Liberal – PA