Exploração irregular
04/06/08
Famílias do distrito de Mapele, em Simões Filho, sobrevivem da extração e comércio ilegal de manganês
Maíra Portela
As mãos calejadas do trabalho com a enxada e o corpo sujo de terra são resultado da caça desenfreada a um tesouro natural. O minério metálico em forma de pedra, conhecido como manganês, tornou-se a fonte de renda de dezenas famílias no distrito de Mapele, em Simões Filho. A pista de barro, onde está concentrado o recurso, lembra o início do garimpo de Serra Pelada, no Pará, do final de década de 70. Em versão contemporânea, a exploração irregular é incentivada pelo comércio, através do qual o quilo do metal custa R$0,70.
No interior de um buraco de meio metro, o desempregado Josias da Silva, 32 anos, está há quatro dias no garimpo. Já arrecadou R$250 e lamenta a escassez da pedra, devido à quantidade de exploradores. ?É como o garimpo de Serra Pelada. Se você der sorte, dá para tirar um preço bom?, avalia. Chova ou faça sol, crianças e adultos passam o dia com as enxadas à procura do minério.
Antes de ir para a escola, Tailane de Jesus dos Santos, 11, brinca com os primos de caça ao tesouro. Em dois dias, a garota conseguiu arrecadar R$50. Ela não é a única criança. Meninos muito mais novos têm a função de separar o manganês das pedras comuns e encher os baldes. Na esperança de levar o sustento para a família, Antônia Conceição Brito, 48, começou o garimpo ontem. No final da manhã, os calos nas mãos já incomodavam. ?Consegui achar um pouco, Já dá para comprar o pão das crianças?, disse.
Futuro do garimpo – Na manhã de ontem, técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculado ao Ministério de Minas e Energias, estiveram no local. O geólogo e responsável pelo controle ambiental de mineração, Paulo Magno da Matta, afirmou se tratar de um garimpo irregular. ?Para explorar qualquer mineral é preciso ter permissão ao órgão. Essa atividade está desfigurando a topografia, vai ativar a erosão e está em uma Área de Proteção Permanente (APP), por se encontrar próximo do mar?, explicou.
Mas a questão já debandou para o lado social, já que se trata de dezenas de famílias e envolve também o trabalho infantil. Outra preocupação é a avaliação do terreno. ?Não sabemos se nesse solo só existe o manganês. O chumbo e o mercúrio, por exemplo, são prejudiciais à saúde?, alertou. Um processo administrativo da DNPM, com todas as informações coletadas, será encaminhado ao Ministério Público Federal para avaliação. No final da tarde, técnicos do centro de Recursos Ambientais (CRA) também dirigiram-se ao local para avaliar os impactos ao meio ambiente.
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Destino desconhecido
Os receptores do manganês são como ?fantasmas?. Ninguém sabe informar quem são, de onde são e para onde vão. Todos dizem a mesma coisa: dois homens em uma pick-up levam a balança e trocam o produto por dinheiro. A presença no local também é inconstante, já que a atividade de exploração do metal é ilegal, assim como a compra e a revenda _ provavelmente por um preço mais caro. Alguns garimpeiros dizem que o custo final do quilo varia entre R$5 e R$20.
A característica da pedra, segundo o geólogo Paulo da Matta, indica que já houve uso. Alguns moradores da região explicam que o material foi descartado há 30 anos, quando a linha de trem era utilizada. ?O manganês é muito utilizado na metalurgia para fazer diversos tipos de liga de aço. O receptor deve estar vendendo para alguma siderúrgica?, deduz.
Correio da Bahia