Estadão – Direto da Fonte: China dá sinais de que o mar não está para minério…
07/12/06
Direto da fonte
SONIA RACY
sonia.racy@grupoestado.com.br
A China se prepara para entrar firme nas negociações sobre o preço do minério de ferro importado, como em todos os anos. Desta vez, escolheu uma estratégia, no mínimo, estranha. Está soltando dados de outubro sobre a importação de minério do Brasil e da Austrália de maneira a mostrar que sua demanda está caindo. Acontece que os números de exportação de minério para China, originário tanto do Brasil como da Austrália, dizem exatamente o contrário. E cruzando ambas estatísticas chega-se à conclusão de que nada menos que 5 milhões dos 67,2 milhões de toneladas de minério compradas pelos chineses do Brasil, entre janeiro e outubro, foram `tragadas pelo mar` em outubro, no melhor estilo David Copperfield. Montante para peixe algum botar defeito.
Artigo publicado ontem pelo banco de investimentos Macquarie, especializado no mercado de mineração e siderurgia, coloca lado a lado as duas tabelas, que não batem uma com a outra, levantando a questão que chamam de `misteriosa`, especialmente em outubro. Pelas estatísticas da Associação Brasileira de Siderurgia, saíram do Brasil rumo à China, em outubro, um volume um pouco maior que o de setembro e parecido com a tonelagem de agosto: 7,28 milhões de toneladas de minério. Mas, segundo as estatísticas da alfândega chinesa, só chegaram 5,53 milhões. Da Austrália, partiram para a China, supostamente em navios toneleiros, que dificilmente afundam, 11,96 milhões de toneladas de minério (um pouco acima da média mantida desde junho), mas a aduana chinesa registra a entrada de somente 9,28 milhões. No caso da Austrália, porém, a soma das exportações para a China entre janeiro e outubro é similar, não acusando a mesma discrepância que a numerologia do Brasil.
Segundo especialistas no setor, é normal que haja alguma diferença entre exportação e importação em razão do gap de tempo da viagem do minério. Mas a tendência histórica sempre foi a de uma aproximação dos números nos meses finais do ano. Desta vez, pelo menos no que se refere a Brasil, está acontecendo justamente o contrário.
O Estado de São Paulo