Especial: Preço à vista e frete melhoram previsões p/minério de ferro
19/02/09
São Paulo – 18 de Fevereiro de 2009
Apesar das projeções sombrias traçadas para o primeiro trimestre, o setor de mineração está passando por um momento muito mais favorável do que era esperado pelo mercado no final de 2008. Ainda há muita cautela sobre a consistência da melhora do setor, mas desde o início deste ano, o aquecimento do consumo na China provocou uma alta nos preços do minério de ferro no mercado local à vista e nos custos do frete marítimo, indicando que o preço do minério em 2009 pode ficar mais alto do que se esperava.O reajuste do insumo, firmado anualmente, está sendo negociado pelas mineradoras com os seus maiores clientes e começa a vigorar em abril, mesmo que retroativamente. Até o final do ano passado, os analistas previam uma queda de até 50% nos preços do minério para 2009 em comparação com 2008. Atualmente, o consenso de mercado é mais otimista e prevê uma queda perto de 20% ou 30%, embora poucas instituições tenham revisado oficialmente suas projeções. “As boas notícias mudaram o sentimento do mercado”, disse Eduardo Roche, chefe da área de análise da Modal Asset Management.
A analista Cristiane Viana, da corretora Ágora Invest, que previa uma queda de 28% para o preço do minério em 2009, ainda não revisou suas projeções, mas acredita atualmente que a sua previsão é conservadora. “Depois de observar a recente alta do preço do minério no mercado à vista, considero que a queda de preços dos contratos poderá ser menor”, disse. O Goldman Sachs manteve sua expectativa de queda de 30%, mas informou que os preços do minério de ferro estão mostrando maior resistência devido a melhores perspectivas para o mercado. O banco mencionou a redução dos estoques chineses da commodity e uma recuperação nos preços e produção de aço na China. Outro grande banco estrangeiro, o Credit Suisse, informou que o mercado considerava uma queda de cerca de 40% há alguns meses, mas agora espera um recuo de até 9%.
A corretora Geração Futuro e a Banif Securities mantiveram suas projeções de queda de cerca de 20% para o minério, mas analistas das duas instituições informaram que o sentimento geral de mercado está mais otimista do que há poucos meses. Um dos principais causadores deste otimismo foi a alta do minério no mercado spot. Desde dezembro, o preço do minério chinês vendido no mercado local passou de US$ 88 por tonelada para cerca de US$ 100 por tonelada em fevereiro. O minério indiano vendido na China passou de US$ 80 para US$ 85 no mesmo período. Os estoques de minério nos portos chineses, que chegaram a formar montanhas no ano passado, começaram a ser reduzidos. Segundo o Credit Suisse, estas reservas eram suficientes para dez semanas de consumo em outubro, mas atualmente equivalem a sete semanas de consumo.
Na esteira deste aquecimento, o preço do frete marítimo entre Brasil e China chegou a US$ 20 por tonelada em fevereiro, ante uma mínima de US$ 8 por tonelada em dezembro. O preço continua baixo em comparação com o recorde de US$ 110 no ano passado, mas a recuperação é significativa. Outra notícia positiva para o mercado foi referente às exportações de minério de ferro a partir do Brasil. Em janeiro, os embarques brasileiros cresceram 27,4% em comparação com o mês anterior, para 17,5 milhões de toneladas. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve um recuo de 28,6%.
Cautela predominaAnimados com as perspectivas de aquecimento do mercado, investidores voltaram a apostar nos papéis da brasileira Vale, que viu suas ações subirem 22% neste ano, frente a uma recuperação de 7% do Ibovespa. Mesmo assim, os especialistas destacam que ainda é cedo para acreditar na retomada deste mercado. Uma das razões para esta cautela é o fato de que outras regiões, como Europa e Estados Unidos, não mostram os mesmos sinais de recuperação que a China. “Não se observou um repique dos preços do aço em nenhum lugar do mundo, com exceção do mercado chinês”, disse o analista da Corretora Geração Futuro, Carlos Kochenborger. Segundo relatório divulgado pelo banco Credit Suisse, a China corresponde a 50% da demanda por minério de ferro no comércio marítimo. Para a Vale, a China representa um terço das exportações. Isso significa que será necessário observar uma recuperação global antes de acreditar em uma reversão de tendência no mercado.
Outro motivo para cautela é a ligeira queda registrada nos preços do aço na China em fevereiro, quando a tonelada de bobina a quente ficou cotada entre US$ 538 e US$ 541. Segundo Kochenborger, os preços tinham subido em janeiro na comparação com dezembro, chegando a uma faixa de US$ 559 a US$ 563. “É uma queda pequena, mas gera dúvidas quanto à consistência deste movimento”, afirmou. Nesta semana, a siderúrgica de Taiwan China Steel informou que reduzirá os preços de seus produtos vendidos no mercado doméstico em abril e maio em 14% em média em relação às cotações praticadas no primeiro trimestre. A siderúrgica sul-coreana Posco também informou que vai reduzir os preços de seus produtos de aço em até 14% em fevereiro, outro sinal amarelo para a indústria. Estes fatos são indícios de que, apesar da melhora, o setor de mineração pode sofrer novas turbulências até o fechamento do novo preço do minério de ferro.
Agência Estado