Escassez de cimento encarece produto
24/06/10
Demanda provocada pelo aquecimento do setor da construção eleva custo do escasso cimento no Estado
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Principal insumo da construção civil, mas ainda sob o controle produtivo de grandes empresas, o cimento continua representando um empecilho para o setor. De acordo com o presidente do Sinduscon/ CE (Sindicato da Construção Civil do Ceará), Roberto Sérgio Ferreira, a produção do material no Estado ainda é insuficiente, fato que obriga as construtoras locais a buscarem o produto fora do Brasil, em países como Turquia, Ucrânia e, mais recentemente, Moçambique. “(A importação) é uma saída necessária. A demanda tem aumentado muito, por conta do aquecimento da atividade e essa é uma questão que tem ficado cada vez mais preocupante”, afirma.
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Ratificando a deficiência enfrentada pelo setor, Otacílio Valente, presidente da Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon) lamenta o recente aumento no valor do insumo para as construtoras. “(O cimento) tem ficado mais caro. Ainda nesse mês, fomos comunicados pelo grupo Votorantim de que, para garantir o abastecimento, seria preciso importar 30 mil toneladas por mês do produto, o que, segundo eles, trouxe um custo adicional”, conta.
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De acordo com Valente, com a despesa extra, houve aumento de R$ 1,90 por saco de cimento. Ele explica que comprar o material de estados distantes não compensa para as construtoras, pois o transporte rodoviário inviabiliza os custos.
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Conforme o presidente do Sinduscon, nesta semana, o preço do saco de 50 quilos para as construtoras associadas ao Sinduscon está saindo por R$ 17,89. Ele acredita, contudo, que, para o varejo, o valor do cimento deverá cair um pouco, apesar de ainda ser considerado elevado. “Na semana passada, os varejistas chegaram a vender o saco a R$ 28. Esta semana, o preço poderá ficar abaixo dos R$ 25 por conta da distribuição do cimento importado que está entrando no mercado”, projeta Roberto Sérgio, ressaltando, ainda, que, normalmente, o preço de revenda no setor varejista não deve ultrapassar 25% do valor de fábrica. “Era para o saco custar R$ 21 ou R$ 22. Mas as pessoas aproveitam a falta do produto. É aquela velha história da oferta e da procura”, pontua.
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Principais fontes
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Segundo o presidente do Sinduscon, as principais fontes de abastecimento se localizam em Mossoró (Rio Grande do Norte), João Pessoa (Paraíba) e Codó (Maranhão), além das situadas no Ceará, em Sobral e Barbalha. Conforme seus respectivos presidentes, Sinduscon e Coopercon tentam driblar as dificuldades na compra do cimento favorecendo os associados. Roberto Sérgio afirma que as construtoras vinculadas ao sindicato obtêm um ganho real médio de 7% a 8% na aquisição de materiais. Já os intermédios da Coopercon proporcionam ganhos médios de 5% a 10%. Conforme Valente, no entanto, há itens, como elevadores, que chegam ao patamar de 25%.
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Apodi
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A partir de outubro, a construção civil ganhará uma aliada que promete trazer alento à produção deficitária de cimento: a Companhia de Cimento Apodi, no Pecém, empresa com 50% de capital do Grupo M. Dias Branco, 25% do Grupo Cedro, de Goiânia, e 25% da Coopercon. De acordo com o presidente da cooperativa, a Apodi produzirá, mensalmente, 30 mil toneladas de cimento, quantia necessária, conforme ele, para equilibrar o abastecimento no Estado, evitando, assim, importações. Inicialmente, a produção será destinada para o abastecimento da indústria da engenharia (construtoras e concreteiras), prioritariamente, as empresas associadas à cooperativa cearense. Ele pondera que, apenas daqui a aproximadamente dois anos, quando a produção passará a 90 mil toneladas mensais, será possível prover, com maior eficiência, as demandas locais.
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REAJUSTE DE 10% – Preço do aço também vai subir
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A inflação do aço medida pelo Índice Geral de Preços -10 (IGP-10) registrou alta, neste mês, de 1,3%
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Enquanto a escassez de cimento causa a elevação dos valores às construtoras, outro item fundamental para o segmento, o aço, deve subir em breve.
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No início do mês, o governo cogitou zerar as tarifas de importação de aço para conter o impacto da alta do preço do produto na inflação. No entanto, recuou, acreditando não haver anormalidade nos números
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Novo aumento
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Depois de elevar os preços entre 10% e 15% em abril, as siderúrgicas negociam com os clientes um novo reajuste de 10% para junho ou julho. A justificativa é o aumento do preço do minério de ferro – essencial também para produção de bens como carros e eletrodomésticos – promovido pela Vale. A mineradora dobrou os preços do produto em abril e vai aplicar mais um aumento de 35% a partir de julho. Para Otacílio Valente, o possível aumento no valor do insumo “não tem justificativa”.
“Se fizermos um histórico do aço nos últimos tempos, percebe-se que ele já tem subido além da inflação”, lamenta. Segundo ele, um aumento de 10% no valor do insumo causaria um incremento no custo final da obra de 1,5%, classificado por ele como bastante significativo.
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Inflação
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A inflação do aço medida pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) registrou alta neste mês de 1,3%, ante 1,11% em maio, acumulando avanço de 5,5% no ano e de 5,03% nos últimos 12 meses, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). A alta foi puxada pelo reajuste do minério de ferro, de 51,84% em junho. O aumento do minério de ferro levou várias siderúrgicas a reajustarem seus preços, em meio a uma demanda aquecida, motivo pelo qual o governo cogitou reduzir a tarifa de importação de aço.
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CLUBE DA REFORMA
Entidades querem qualificar moradias
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Com a intenção de melhorar a qualidade da moradia de aproximadamente 1 milhão de famílias de baixa renda no País, nos próximos cinco anos, 38 entidades (entre organizações sociais e empresas ligadas a produtos e serviços do setor da construção civil) se mobilizaram para criar o Clube da Reforma. O projeto pretende traçar estratégias para superar problemas habitacionais históricos, e resgatar o tema valorização da casa – há algum tempo esquecido pela sociedade brasileira.
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De acordo com o gerente de Desenvolvimento de Mercado da ABCP, Valter Frigieri, foram montados grupos de ação para propor soluções em diversas frentes conforme a identificação de cada problema. “A primeira fase foi reunir algumas empresas com prática em processos de transformação. Depois, estabelecemos um entendimento coletivo comum do que é necessário ser feito. Em terceiro lugar, criamos os grupos de trabalho específicos para resolver os gargalos, como pouca oferta de crédito, problemas técnicos na utilização de profissionais e materiais não qualificados na construção”, reforça Frigieri.
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Poucos reformam
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A expectativa do Clube da Reforma é reverter ou, pelo menos, amenizar, a constatação de uma pesquisa, feita em 2008, pela Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) e Latin Panel. Conforme o estudo, aproximadamente 25% das moradias brasileiras passam por processos de reformas e ampliações. O problema, segundo Frigieri, é que apenas uma de cada quatro famílias que querem melhorar suas casas consegue realmente concretizar o sonho. Índice que poderá ser maior com o apoio do Clube. “No longo prazo, a nossa expectativa é de que, de fato, as famílias possam usufruir todas as soluções propostas pelo Clube”, afirma.
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Otimizar gastos
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O Clube da Reforma pretende otimizar os gastos, através da orientação de produtos e profissionais de qualidade, diminuindo, dessa forma, o desperdício de dinheiro, material e de tempo. “No Brasil, mais de 50% dos domicílios foram construídos a partir da autogestão. As próprias famílias organizaram o processo de construir e melhorar suas casas. Essa metodologia, muitas vezes, traz frustrações para o consumidor, que, por não saber destinar corretamente os recursos na construção, acaba tendo prejuízos em ter de refazer o serviço, além de ficar com a obrigação do crédito”, explica Frigieri.
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Bom momento
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Na opinião dele, o momento é oportuno, pois está ocorrendo um aumento na procura por linhas de crédito destinadas à aquisição de material de construção. “Queremos aumentar ainda mais o acesso ao crédito. Mas também é importante que esse dinheiro seja bem utilizado, com o auxílio da assistência técnica”, diz. Entre outras instituições que também fazem parte do desenvolvimento do Clube da Reforma estão a Ashoka, Fundação Bento Rubião e Votorantim Cimentos.
Diário do Nordeste