Entrevista Newton de Mello – Presidente da ABIMAQ
30/04/07
Entrevista à repórter Rita Karan
As vendas da indústria brasileira de bens de capital tiveram queda de 3,2% até setembro e somaram R$ 40,58 bilhões pelas contas da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos, Abimaq, que considera as máquinas estacionárias.
A estimativa da entidade é de que o montante comercializado no Brasil, considerando também as importações, ficará entre 2% e 2,5% abaixo de 2005, apesar do dólar barato para compras externas que tem estimulado algumas atualizações com maquinário estrangeiro. Um dos pontos para essa redução é a falta de demanda. Falta consumo para garantir o investimento, diz o presidente da Abimaq, Newton de Mello, nesta entrevista em que defende medidas para valorizar o dólar beneficiando também a exportação de produtos de maior valor agregado.
Gazeta Mercantil – O que dificulta o investimento hoje ?
Newton de Mello – Não há demanda suficiente e a exportação está prejudicada. O dólar barato e a importação não conseguiram ampliar mais fortemente o investimento porque a indústria não tem demanda e, portanto, não investe. Setores como o de calçados e têxteis, por exemplo, não consomem nem máquinas nacionais nem importadas. O consumo aparente (produção, menos exportação, mais importação) no Brasil caiu 1,2% até setembro, para R$ 41.27 bilhões. Estimamos que no ano será 2,5% mais baixo e as vendas da indústria local vão cair 4,5% em 2006. As fabricantes de máquinas aumentaram as exportações para compensar a queda no mercado doméstico.
GZM – Quanto aumentaram as vendas externas e quais os principais mercados compradores?
Mello – As exportações cresceram 10,8% e somaram US$ 7,8 bilhões até setembro, apesar do câmbio desfavorável. Os Estados Unidos são o primeiro destino, depois vem a Argentina, Alemanha, México e Reino Unido. A Argentina se destacou este ano devido à retomada da economia. Nossas exportações para o país subiram de US$ 691 milhões em 2005, para US$ 855 milhões este ano, comparando os valores até setembro.
GZM – E as importações?
Mello – As importações subiram mais do que as exportações. As compras no exterior alcançaram US$ 7,31 bilhões, 16,5% mais do que até setembro do ano passado. Compramos principalmente dos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Japão e China. Da China, entretanto, compramos este ano 91% mais. Saltamos de US$ 185 milhões, para US$ 353 milhões. São principalmente máquinas seriadas e os preços são entre 30% e 50% menores do que os nossos. Mas conseguimos avançar na questão das importações fraudulentas, as denúncias à Receita Federal têm coibido as compras ilegais.
GZM – Algumas fabricantes de bens de capital já fizeram cortes. Qual é hoje o nível de pessoal ocupado?
Mello – O setor tinha 214 mil funcionários em setembro de 2005. Em setembro deste ano eram 207 mil. As demissões estão ocorrendo.
GZM – O BNDES reduziu taxas para a compra de máquinas nos empréstimos do Modermaq, programa de modernização do parque industrial e incluiu equipamentos hospitalares na lista de itens que podem receber esse financiamento. O Banco do Brasil também liberou este ano R$ 600 milhões para o Fatgiro setorial para a compra de máquinas agrícolas. O BNDES também tem liberado mais verbas para investimentos. Essas ações já dão resultados?
Mello – São ações importantes mas não conseguem avançar mais pela falta de uma demanda mais aquecida.
GZM – Que medidas o setor defende para mudar esse cenário?
Mello – Pleiteamos junto ao ministro Mantega (da Fazenda) e ao presidente Lula medidas que promovam uma revalorização do dólar. Medidas de melhoria da infra-estrutura , menor gasto do governo e maior superávit são positivas mas de muito longo prazo. A reação do dólar poderá ser induzida por medidas como a permissão para manter no exterior a totalidade dos recursos obtidos na exportação, trazendo menos dólares para o Brasil; à volta do Imposto de Renda de 15% sobre os resultados das aplicações financeiras feitas por estrangeiros em papéis brasileiros; volta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre aplicações estrangeiras no Brasil; uma política de exportações que estimule a venda de mais mão-de-obra, agregadora.
GZM – Como se daria essa política de exportações?
Mello – Estimular mais a exportação de automóveis e eletrodomésticos do que a de aço, por exemplo. E tornar a de aço mais atrativa do que a do minério de ferro. Os setores poderiam receber vantagens tributárias progressivas, de acordo com a agregação de valor, na reintegração de impostos futuros, por exemplo. Quem exporta um automóvel pode ter reintegração máxima de créditos sobre os impostos recolhidos e também um prêmio adicional. Exemplo, exportou 100 tem direito a abater 5% no imposto de renda ou mesmo receber o valor na boca do caixa do Banco do Brasil. As empresas produtoras dos insumos mais básicos contariam com mais clientes internos.Outro entrave para o desenvolvimento e consequente alta no investimento, mas com solução de mais longo prazo, é a infra-estrutura, estradas, portos. A desburocratização não está sendo bem cuidada.
GZM – Quais os setores que têm apresentado os melhores desempenhos este ano?
Mello – Bombas e válvulas têm bom desempenho por causa das vendas para a Petrobras e equipamentos para mineração.
GZM – E quais apresentam os piores resultados?
Mello – Equipamentos para plásticos, agrícolas, têxteis e ferramentas para trabalhar metais.
GZM – Quais os cenários com que o setor trabalha para 2007?
Mello – Se continuar sem mudanças haverá queda mais acentuada, que pode chegar a 10% no consumo aparente e a 15% na venda da indústria brasileira no mercado local. Se o governo acelerar o corte de juros e introduzir medidas de estimula a valorização do dólar e da produção poderíamos voltar a crescer algo próximo a 5%.
Gazeta Mercantil