27/03/19

Você já parou para pensar por que as mulheres ainda são minoria no setor da mineração? Seria porque a mineração é um ambiente tipicamente masculino? Seria porque as mulheres não se interessam pelas profissões mais relacionadas ao setor? Essas questões foram debatidas na última terça-feira (26), no Mining Hub ou Hub da Mineração, em Belo Horizonte (MG).

Com o tema “A Força e o Poder da Mulher no Ramo da Mineração”, a palestra foi ministrada pela gerente de Comunicação da Anglo American, Mariana Rosa.

Jornalista, autora de blog e livro sobre diversidade e inclusão, Mariana atua há mais de 15 anos no setor da mineração. O Portal da Mineração realizou uma entrevista com ela para falar mais sobre essa temática. Confira:

Gerente de Comunicação da Anglo American, Mariana Rosa.

Portal da Mineração: Quais são as principais barreiras que a mineração precisa superar em relação à contratação de mulheres?

Mariana Rosa: As pesquisas mais atuais sobre o tema mostram que as principais barreiras à contratação de mulheres residem nos vieses de gênero, que fazem parte da nossa cultura. Assim, para que o processo de contratação possa ser justo com mulheres e homens é preciso olhar para o incentivo às carreiras das mulheres nas áreas de Exatas, por exemplo, assim como investir em processos de contratação que eliminem perguntas ou informações que reforçam tais vieses (perguntas sobre estado civil, filhos etc.), além, é claro, de uma revisão das políticas de contratação, promoção e da própria licença maternidade.

Portal da Mineração: Pode-se dizer que para as mulheres ainda é mais difícil evoluir na carreira do que para os homens no setor mineral? Ou esse cenário já está mudando?

Mariana Rosa: O cenário está em permanente mudança, o que é positivo, mas ainda há muito a caminhar. Basta olhar para os indicadores de homens e de mulheres em cargos de lideranças e a linha sucessória dentro das empresas. As mulheres ainda são minoria nesses espaços de poder, e não por falta de competência.

Portal da Mineração: Quais ações poderiam mudar esse quadro de desigualdade de oportunidades e de salários?

Mariana Rosa: Um processo profundo e verdadeiramente de transformação de liderança pela inclusão, a partir da compreensão de que o caminho para inovar, ser competitivo e ter bons resultados passa, necessariamente, pela diversidade dentro das organizações.

Portal da Mineração: Na sua opinião, políticas de incentivo podem facilitar a ascensão das mulheres na economia e no mercado de trabalho?

Mariana Rosa: A depender das políticas, sim. Mas, penso que precisamos fazer uma reflexão mais profunda. As pesquisas mostram que as mulheres já são maioria nas universidades, que possuem formação robusta e competitiva, o que nos leva a crer que não é falta de oferta de mão de obra qualificada. É preciso questionar também como está a divisão do trabalho doméstico, por exemplo, como está a carga mental das mulheres que acumulam jornada profissional e doméstica, quais os papéis desempenhados pelo homem nos cuidados com a casa e com os filhos. O equilíbrio no mercado de trabalho passa, necessariamente, pelo equilíbrio dentro de casa.

Portal da Mineração: Para você, qual a importância de colocar a mulher como protagonista em uma empresa de mineração?

Mariana Rosa: A diversidade é o berço da inovação. O setor está passando por um momento desafiador e contar com diferentes perspectivas para propor caminhos que impactem positivamente a vida das pessoas será fundamental. Há um grande potencial de aprendizado na troca entre homens e mulheres que pode, como consequência, incrementar as práticas do setor.

Portal da Mineração: Você acredita que o Brasil alcançará a igualdade de gêneros no mercado de trabalho? O que será preciso para chegar a esse patamar?

Mariana Rosa: Os dados mais recentes de pesquisas dão conta que serão necessários 200 anos para termos a equidade de gênero. Ou seja, é como plantar uma tamareira; a colheita será nas próximas gerações. Se olharmos para os números de violência contra a mulher no Brasil fica evidente entender por que é tão difícil. Mas isso não é motivo para desanimarmos, ao contrário. É motivo para arregaçarmos as mangas e trabalharmos juntos, mulheres e homens, pelo equilíbrio e pela saúde das relações e do mundo.

Portal da Mineração: Quais são os principais obstáculos enfrentados pelas mulheres que buscam uma carreira na indústria mineral?

Mariana Rosa: Desde a contratação até a ascensão profissional, são inúmeros os desafios. Ocupar espaços e funções que, historicamente, vêm sendo ocupadas majoritariamente por homens faz com que diversos aspectos precisem ser repensados. Não é raro, em uma reunião composta por mais homens do que mulheres, ser destinada à mulher a função de fazer a ata, ou de servir a água, ou de viabilizar uma ligação telefônica, mesmo que a profissão dela seja de geóloga, por exemplo, assim como a de seus colegas homens. Há uma tendência a perceber a mulher como apta a realizar os trabalhos administrativos mais do que os operacionais, e os trabalhos táticos mais do que os de liderança. Mas, ao mesmo tempo, elas vão assumindo o volante dos caminhões fora de estrada, performando bem em produção e segurança, e, com isso, contribuindo para uma visão mais ampliada do que pode uma mulher no setor. Ela pode tudo, basta ter a oportunidade.

Portal da Mineração: Como foi sua experiência ao fazer a escolha de trabalhar neste setor?

Mariana Rosa: Tem sido de aprendizado e de realizações, não só pela oportunidade de atuar na Comunicação, que é a profissão que abracei, e contribuir para relações duradouras e de qualidade ente as mineradoras e seus diversos stakeholders, mas também por viver esse processo de transformação, alavancado pela valorização da diversidade nas organizações.