Empresas antecipam demissões
01/12/08
Pior do colapso só chega em 2009, mas indústrias já começaram a recompor margens
Leda Rosa
SÃO PAULO
Há dois meses, a crise era uma das maiores preocupações da jornalista Patrícia Guitti Peixoto. Desempregada, ela temia que as vagas sumissem tão rápidas quanto a liquidez dos mercados.
? Via empresas grandes demitindo no exterior, queria trabalho fixo para me sentir mais confortável ? lembra Patrícia.
Ela conseguiu emprego em outubro, mas a insegurança que viveu aumenta a cada dia no país. Apesar das promessas e ações do governo em prol dos setores que mais empregam, as perspectivas para o mercado de trabalho são, na maioria, pessimistas. Com a desaceleração do crescimento, o ritmo da criação de novas vagas perderá fôlego. Em todos os setores.
As piores previsões pairam sobre a indústria e o agronegócio. Algumas metalúrgicas do Rio já dispensam. Desde outubro foram perto de 230 trabalhadores. Os sindicatos questionam os motivos. Já setores como a construção civil, têm de lidar com o sumiço das vagas.
? Têm havido demissões desde outubro. As empresas alegam a crise. Vivíamos um momento de contratação e os empresários agora apontam dificuldades nos insumos e nas vendas, especialmente para o exterior ? diz Maurício Ramos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, ao lembrar que, entre 2004 e 2008, o setor cresceu em média 10% ao ano. ? Algumas empresas chegam ao ponto de colocar o trabalhador na rua sem nada e propõem parcelar o pagamento dos direitos.
Os cortes mais recentes aconteceram nas empresas Forjas (em Queimados), Valesul (de Santa Cruz) e Masterfrio (em Piedade), que colocaram na rua perto de 100, 70 e 60 empregados, respectivamente.
? Caso venha uma onda de demissões, faremos o que for necessário para mobilizar a categoria e manter os nossos postos de trabalho ? diz Alex Ferreira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, cuja base congrega 45 mil trabalhadores espalhados por 11 municípios da Região Metropolitana.
? Neste momento, muitas empresas se aproveitam da perspectiva e dos anúncios da crise para dispensar. São empresários que gostariam de fazer ajustes através de demissões, mas não tinham desculpas no cenário anterior de crescimento econômico ? diz José Lopez Feijóo, da diretoria plena do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e membro da executiva nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
A entidade incluiu as contrapartidas em sua pauta de reivindicações ao governo.
? A CUT reconhece as medidas adotadas pelo governo contra a crise, mas exige a adoção de contrapartidas de garantia do emprego por parte das empresas beneficiadas com recursos fiscais ? diz o sindicalista, que discorda dos cortes feitos pela Vale.
? A Vale ganhou muito dinheiro nos últimos anos. Não pode anunciar demissões num primeiro momento. Há muitas outras políticas que devem ser adotadas, como férias coletivas, antes de cortar pessoal. Este deve ser sempre o último dos últimos dos recursos ? avalia.
Energia cara
A Valesul, através de sua proprietária, a Vale do Rio Doce, informou em nota que as atividades foram reduzidas “em 40% em função do alto custo de energia elétrica, insumo extremamente importante para produção do alumínio”. Procuradas pelo Jornal do Brasil, as demais empresas não se manifestaram sobre os cortes.
? A crise se refletirá de modo diferente nos vários setores da economia. Em alguns, os níveis de ocupação ainda se expandem. Outros, como indústria e agropecuária, terão efeitos mais intensos. Há chances até de demissões em massa na indústria ? diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores, cujas previsões indicam crescimento do PIB de 3,3% em 2009 e, no mesmo período, crescimento de 2,2% do contingente de ocupados, ante 3,4% este ano.
Mais pessimistas, as perspectivas da RC Consultores indicam um PIB apenas 2% maior em 2009, e mostram crescimento de 1,5% do pessoal ocupado no próximo ano, face a 3,7% em 2008.
De fato, quanto menor o crescimento, menos empregos.
? Se o país crescer de 3% a 4%, teremos chance de manter estável o emprego, isto é, uma situação que rompe a tendência de melhora do mercado de trabalho observada nos últimos anos ? diz Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). Mas, se o PIB for menor que 3%, haverá desemprego e “deterioração do mercado de trabalho brasileiro”.
Jornal do Brasil