Empresários criticam a interferência de Lula na Vale
15/10/09
As gestões, articulações, pressões e ingerências que o governo federal, mais especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem fazendo na direção de trocar o comando da Vale, a maior empresa privada do Brasil, recebeu críticas duras do empresariado capixaba.”Quem deve decidir a substituição de um executivo em uma empresa é o Conselho Deliberativo formado pelos acionistas dessa mesma empresa”, avisa o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Lucas Izoton. A atitude do presidente Lula, segundo ele, caracteriza “uma ingerência em uma empresa que tem apresentado bons resultados depois de sua privatização”, definiu.Para o presidente da ONG empresarial Espírito Santo em Ação, Walter Lídio Nunes, a postura do presidente “é preocupante”. A Vale, destacou, “não é mais uma empresa estatal e não pode estar subordinada aos interesses do Estado”, disse. A companhia, repetiu, tem que estar subordinada aos interesses dos acionistas, que representam uma parte da sociedade.Segundo ele, uma empresa que esteja dentro da lei, que esteja exercendo seu negócio dentro da legislação em vigor, tem que buscar seus interesses, que é a lógica do sistema empresarial. Uma empresa, explicou, pode dialogar com o governo, ou com as partes interessadas em busca da contemporização dos seus interesses, mas o diálogo tem que ser exercido “com plena liberdade de acordo com o que a legislação estabelece”.RiscosUma interferência desse tipo “é preocupante”, enfatiza Nunes, porque deixa a entender que está em curso um processo de “reestatização da Vale”. A forma como esse tipo de política se desenvolve dentro desse conceito “foge das práticas éticas”, destaca o presidente da ONG Espírito Santo em Ação. E ali, alerta, há uma mistura perigosa entre o papel do Estado e o papel do setor empreendedor.Na avaliação de Nunes, cada um dos lados deve desempenhar o papel que lhe compete. “O Poder Executivo tem que tratar da governança pública e à empresa cabe o papel do desenvolvimento econômico”, determinou.Ele lembrou ainda que a Vale é uma empresa privada que tem ações na Bolsa de Valores e que boa parte da sociedade tem recursos aplicados na mineradora, inclusive dinheiro do FGTS, convertido em ações.Para o presidente da Findes o normal, o correto é que políticos “não deveriam emitir opinião e tentar influenciar no comando de empresas privadas, principalmente aquelas que têm ações na Bolsa, porque podem gerar problemas para os investidores e até para a própria empresa”.O presidente do Sindicato dos Ferroviários, que representa os trabalhadores da Vale, João Batista Cavalieri, disse que toda expectativa dos empregados da Vale está voltada para a negociação coletiva, em curso. “Esperamos que toda essa discussão, todo esse disse-me-disse não venha atrapalhar ou dificultar o processo de negociação na qual o trabalhador está com expectativa de ganho real”, destacou.Eike Batista desconversa sobre ValeApós criticar abertamente o diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli, e de declarar que mantém interesse em um lote de ações que a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) tem na mineradora, Eike Batista, recuou o discurso contra o diretor-presidente da Vale e declarou que não pretende mais falar sobre possíveis negociações entre o grupo EBX e a Previ.Eike também não confirmou, nem negou, que tenha participação de um plano orquestrado pelo presidente Lula para desestabilizar a presidência da Vale. O presidente do grupo EBX foi um dos empresários convidados a participar do Painel Empresarial 2009, que foi realizado ontem, em São Luís, com o objetivo de discutir novos negócios no Maranhão.Questionado sobre possíveis negociações entre o grupo EBX para compra de ações da Previ , Eike desconversou: “(em relação à Previ) Isso a gente não comenta. O dia está tão bonito hoje…”, brincou o executivo. Já sobre a possível investida de Lula contra o presidente da Vale ou sobre uma eventual possibilidade de substituir Agnelli no comando da mineradora, Eike foi ainda mais evasivo.”Olha, o dia está lindo hoje. Hoje é dia do Maranhão. Vamos falar apenas no Maranhão”, disse, sem disfarçar um sorriso do rosto ao ser questionado sobre o assunto. No início da semana, Eike afirmou que via na Vale “diamantes não polidos”.Ele também confirmou o seu interesse em manter o controle acionário da mineradora declarando que “a Vale é o sonho de qualquer minerador”. Durante o Painel Empresarial no Maranhão, Eike não teceu novas críticas à mineradora, mas voltou a endossar o discurso nacionalista que tanto tem agradado ao presidente Lula.”A nossa cultura empresarial não pensa para frente. Eu penso 50 anos adiante”, afirmou Batista. No Maranhão, o grupo EBX deverá investir, nos próximos quatro anos, aproximadamente R$ 1,8 bilhões nos próximos seis anos. Destes, R$ 1,5 bilhões na construção de uma usina termelétrica a carvão com capacidade de geração de 360 MWh e mais R$ 300 milhões em pesquisas para exploração de gás na bacia do Pará-Maranhão. Também devem ser investidos R$ 60 milhões em pesquisas para exploração de gás na bacia do Parnaíba. (Agência Estado)Potência4,6% de altaÉ quanto subiram ontem as ações ordinárias da Vale, apesar da polêmica sobre a troca de direção da empresa.R$ 9,5 bilhõesÉ quanto a mineradora vai investir em Minas Gerais, em uma mina e duas usinas de beneficiamento de minério.DEM quer colocar Agnelli e Eike cara a caraA guerra entre o comando da Vale e o Palácio do Planalto transformou-se num novo campo de batalha entre governo e oposição no Congresso. O DEM agora quer colocar cara a cara o presidente da Vale, Roger Agnelli, e o empresário Eike Batista, presidente do Grupo EBX.Por iniciativa do deputado Índio da Costa (RJ), o partido encaminhou ontem dois requerimentos à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para convidar os principais personagens envolvidos no tema para discutir eventual interferência política na gestão da mineradora.”Já não é mais segredo a pressão que o governo tem feito sobre a atual diretoria da Vale. O próprio presidente Lula vem tentando desestabilizar o competente corpo dirigente da companhia”, disse Índio da Costa.Roger Agnelli: “ajuste forte” foi feito em meio à criseBelo HorizonteO presidente da Vale, Roger Agnelli, comentou ontem, durante pronunciamento em solenidade no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, os cortes de custos promovidos pela mineradora em razão da crise financeira mundial. “Fizemos ajustes doloridos e relativamente fortes nas nossas operações”, disse Agnelli.De acordo com ele, na ocasião, a companhia “não tinha nenhum horizonte”. No entanto, nos últimos meses, conforme o executivo, a sinalização é de que a situação econômica mundial mudou e a China vem mantendo o ritmo forte que deve se sustentar nos próximos anos.”Isso nos dá um conforto muito grande para fazer investimentos mais ousados e mais audaciosos”, disse o executivo em seu discurso, na solenidade em que foram anunciados projetos de investimentos de R$ 9,5 bilhões da mineradora no Estado. Agnelli, que se reuniu com o governador Aécio Neves (PSDB) antes do anúncio, não conversou com a imprensa.
Agência Sebrae