Em busca da adaptação a novo cenário
25/05/09
As empresas de mineração e siderurgia estão tentando se ajustar à realidade que surgiu após o início da crise econômica. Compradores tradicionais de minério e aço, como os Estados Unidos e a Europa, vivem forte aperto econômico e a Ásia desponta como novo mercado. Somente a participação da China nas vendas de minério de ferro da Vale passou de 13% no quarto trimestre do ano passado para 45% nos três primeiros meses deste ano.Este cenário não deve mudar tão cedo. Para o diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Fábio Barbosa, o crescimento da China nos últimos anos é muito semelhante ao que ocorreu no Japão após a Segunda Guerra Mundial e, segundo ele, a crise não deve fazer a China parar de crescer.De acordo com o analista da Geração Futuro, Rafael Weber, a indústria está se ajustando. “O primeiro trimestre apresentou forte retração, mas as empresas estão se adaptando a esta nova realidade. Apesar do recuo no trimestre, já podemos observar uma melhora mês a mês”, disse.A Ásia, na avaliação de Weber, é realmente o mercado a ser explorado, pois é a região com reação mais rápida aos efeitos da crise. Enquanto a maioria dos países está reduzindo suas compras, a demanda na China só cresce.O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna, afirmou que a demanda chinesa pode ser a saida para compensar a crise mundial, apesar de dificuldades. “A venda de minérios para a China pelo Brasil pode ser ainda mais complicada devido à distância, principalmente neste momento em que os preços do minério caíram mundialmente. Mesmo com descontos que os produtores brasileiros estão fazendo, o volume a ser vendido precisar ser muito grande para compensar o frete. É complicado competir com a Austrália, por exemplo”, afirmou.;O executivo explicou que a demanda interna ajudou durante esse período de crise mundial, mas não foi suficiente para contrabalançar a retração externa. “A redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) no setor automobilístico e em produtos da linha branca contribuíram para a siderurgia e mineração, mas não o suficiente para ajudar a recuperar os altos níveis de produção registrados antes eclosão da crise mundial. Outros setores, como a construção civil, por exemplo, não chegaram a ser atingidos pela crise mundial e nem deve ser”, destacou.O setor, de acordo com Penna, foi atingido não só pela contração da demanda mundial por minérios, mas também pela queda dos preços. Para ele, a recuperação no preço que alguns minérios apresentaram esse ano ainda não pode ser vista como definitiva. “Neste momento os preços pararam de cair, o que não significa uma recuperação sustentável no valor das commodities. Sabemos que o pior já passou, mas a volatilidade nos preços deve permanecer até o final do ano.SIDERURGIA. No setor de siderurgia, as companhias brasileiras aproveitam a redução do IPI na cadeia automotiva para impulsionar as vendas de aços especiais. Outro segmento que deve ser beneficiado por ações do governo federal é o de aços longos. “Os aços longos atendem basicamente ao mercado interno. São usados principalmente na construção civil e devem ter sua demanda estimulada com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa Minha Vida”, disse Rafael Weber.Segundo dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), as vendas de produtos siderúrgicos em abril no país subiram 2,2% sobre março, para 1,2 milhão de toneladas. A produção teve ligeira melhora de 0,1% na mesma comparação, para 1,7 milhão de toneladas. As exportações em abril somaram 653,4 mil toneladas, num total US$ 359,7 milhões. O volume exportado foi 22,3% superior a março, enquanto a receita cresceu 7,1%. As importações totalizaram 136,4 mil toneladas, expansão de 16,8% sobre abril de 2008.A produção de aço em março (1,73 milhão de toneladas) foi superior que a de fevereiro (1,65 milhão de toneladas) que também foi maior que a janeiro (1,62 milhão de toneladas). “Essa melhora gradativa é importante e sinaliza que a produção parou de cair, mas não é suficiente ainda. O setor está operando com 49% da capacidade instalada. Até setembro de 2008, a produção das empresas trabalhava acima de 80% da capacidade instalada”, explicou o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello LopesNo quadrimestre, as vendas de 4,3 milhões de toneladas representaram queda de 42,5% com relação a igual período do ano anterior. A produção de aço laminado em abril no país somou 1,5 milhão de toneladas, alta de 11,5% na comparação com março e queda de 33,8% ante um ano antes. Com esses resultados, a produção acumulada no primeiro quadrimestre totalizou 6,7 milhões de toneladas de aço bruto e 4,9 milhões de toneladas de laminados, o que significou quedas de 41,7% e 43,3%, respectivamente, sobre o primeiro quadrimestre de 2008.”Não tem como traçar projeções para esse ano. O governo aprovou medidas para estimular a demanda interna. Os segmentos que tiveram incentivo com pacotes como a redução do IPI e o Plano Habitacional representam 80% do consumo de aço do Brasil. Essas medidas ajudam gradativamente”, afirmou Lopes.;Os dados da World Steel Association indicam que em abril foram produzidas 89,5 milhões de toneladas de aço bruto no mundo, o que representa uma queda de 23% na comparação com o ano anterior, assim como um recuo de 2,9% frente aos números de março. No acumulado do ano, são 353,7 milhões de toneladas, um recuo de 22,7% sobre igual período do ano passado.;A produção de aço da China também recuou (-3,7%) no comparativo mensal, fechando abril com 43,4 milhões de toneladas. No acumulado do ano, foram produzidas 170,1 milhões de toneladas, praticamente o mesmo volume do primeiro quadrimestre de 2008.;Para a corretora Ativa, os números de abril mostram um leve arrefecimento da atividade siderúrgica frente ao mês anterior, que por sua vez havia apresentado forte crescimento em comparação com fevereiro. Portanto, tal ajuste em abril não surpreende. A corretora ressaltou que em abril a China bateu recorde de importação de minério de ferro, o que pode ser um indicativo da continuidade do crescimento de produção de aço daquele país.
Jornal do Commercio Brasil – RJ