Distribuidores são alvo da consolidação
03/06/08
Marisa Cauduro/Valor
Freire, do Inda e Freffer: “Grupos independentes devem ganhar escala mínima de 300 mil toneladas para poder competir”Mais um elo da cadeia produtiva do aço no Brasil começa a chamar a atenção. Depois da mineração de ferro, que teve o valor de seus ativos levados às alturas com o frenesi de aquisições motivado pela alta dos preços da matéria-prima, a distribuição e centro de serviços de produtos siderúrgicos cresce aos olhos de investidores nacionais e estrangeiros e dos próprios grupos fabricantes de aço. Bastante fragmentado, com cerca de 50 empresas, o segmento pode passar por uma onda de consolidação em dois a três anos.”Está todo mundo conversando entre si”, afirma Fabiano Ramos, sócio-diretor da Voga Advisory, consultoria especializada em fusões e aquisições que fez um estudo das potencialidades do setor e o apresentou a fundos de investimentos (de privaty equity e de hedge funds) que buscam ativos para aplicar no país. “No Brasil, a produção de aço já se consolidou em poucos grupos; agora, é a vez de garantir o controle sobre os canais de distribuição, com agregação de valor ao aço”, diz.Em breve, o grupo ArcelorMittal, que em abril comprou 50% da Gonvarri Brasil, deverá anunciar a aquisição do controle da empresa mineira Manchester Tubos e Perfilados, um centro de serviços e de distribuição de aços planos independente situado em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. “O negócio já está fechado. Só falta a finalização de detalhes contratuais da operação”, informa Ramos. A ArcelorMittal ficará com 70% do capital da Manchester, dona de um parque industrial moderno para oferecer produtos relaminados, cortados, dobrados e em outras formas aos clientes. O volume comercializado pela empresa supera a casa de 100 mil toneladas por ano. Com essas duas operações e sua controlada Belgo Distribuição, a gigante mundial do aço se posiciona na liderança desse negócio no Brasil, com participação em torno de 17% do total de produtos comercializados por esses canais, No ano passado, no país, a rede de distribuição vendeu 3,31 milhões de toneladas, com faturamento na casa de R$ 15 bilhões. A expectativa para este ano é de atingir 4 milhões de toneladas.A ofensiva da Arcelor Mittal certamente vai provocar uma reação imediata na Usiminas, principalmente, e até na CSN, comenta Christiano Cunha Freire, presidente da Freffer (distribuidora e centro de serviços independente) e do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Para a Usiminas, seria natural consolidar Rio Negro, Fasal e Dufer para ter controle total do canal de distribuiçãoA siderúrgica mineira tem participações societárias em três empresas – Rio Negro (64%), Fasal (50%) e Dufer (51%) -, mas é a única que não detém o controle absoluto desses canais de vendas. A CSN é dona de 100% da Inal e a Gerdau tem mais de 90% da Comercial Gerdau, que opera tanto com aços longos, o principal negócio do grupo, como com aços planos. Nessa área, o grupo começa a entrar gradativamente no Brasil e exterior, mas tem planos mais ousados para o futuro.”É natural que a Usiminas faça uma reorganização desses ativos, criando uma única estrutura societária, operacional e comercial”, comentam Ramos e Freire. Para especialistas ouvidos pelo Valor é uma questão estratégica, ponto a ser atacado logo pela nova gestão da siderúrgica. Juntas, as três empresas dominam aproximadamente 16% das vendas do setor.Segundo o dirigente do Inda e o diretor da Voga, a consolidação se dará em duas vertentes. De um lado, as siderúrgicas formando complexos com capacidades acima de 500 mil a 600 mil toneladas por ano. De outro, as distribuidores independentes, com escala mínima de 300 mil toneladas. “É o que se deve ter para poder sobreviver na competição com as usinas”, observa Freire, cuja empresa da família que administra operou em 2007 com metade desse volume. “A Frefer está analisando várias opções”. Para Ramos, da Voga, os pequenos deverão se unir, ganhar musculatura e buscar investidores para aportar capital na nova empresa que surgir da fusão. “O segredo será agregar valor ao aço, mas para isso terá de investir pesado em centro de serviços com aquisição de máquinas e equipamentos”. A previsão é que as usinas fiquem com 50% a 60% das vendas e os grupos independentes com 40% a 50%.Os independentes, com baixa escala, pouco capital e disposição para investir e gestão não profissionalizada – em geral são empresas familiares com várias décadas de existência -, terão de fazer uma dura escolha. Ou saem do negócio ou se tornam sócios de um outro maior e capitalizado. Essa parece ser a hora de uma decisão, com a demanda por aço no país bastante aquecida. Isso valoriza os ativos. O negócio da distribuição e centro de serviços começou a ser percebido com potencial de valor. “Analistas especializados na siderurgia já apontam sua importância para as usinas”, comenta Freire, apontando recente relatório do Unibanco que dedica um capítulo de análise sobre o segmento. Ele lembra que Lakshmi Mittal, principal acionista e presidente da ArcelorMittal, disse recentemente que até 2010 quer quer 50% dos aços planos vendidos pelo grupo sejam através de canais próprias. Atualmente, já alcança 36%.No ano passado, dois grupos independentes da distribuição foram adquiridos, abrindo caminho para outros negócios. A gaúcha Zamprogna, que figura entre os maiores distribuidores do país, com cerca de 300 mil toneladas ao ano, foi vendida em junho de 2007 ao fundo NSG, do Rio. Menos de um ano depois, o fundo já diz que negocia a compra de outras distribuidoras para ampliar a atuação geográfica no país. A austríaca Voestalpine assumiu no fim de outubro a também gaúcha Meincol.
Valor Econômico