Demissões crescem no setor mineral e sindicatos protestam
14/01/09
SÃO PAULO – O mês de janeiro está sendo marcado por manifestações para a manutenção do emprego nas principais regiões extrativistas do Brasil. Em Minas Gerais, estado responsável por 70% da produção brasileira de ferro – e onde a mineração responde por quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) – aproximadamente 12 mil vagas foram cortadas apenas no setor de extração mineral, a reboque do corte de produção que já chegou a 50%, de acordo com os sindicatos dos trabalhadores de extração de ferro da região mineira consultados pelo DCI.As dispensas podem ser ampliadas, já que o retorno das férias coletivas está ocorrendo desde o início do mês. “Estamos intensificando todas as nossas ações nesta semana. A Vale quis suspender os contratos de trabalho sem dar garantia de emprego, mas não iremos ser facilitadores para o desemprego”, afirmou Paulo Soares de Souza, presidente do Sindicato Metabase de Itabira, região que, de acordo com Souza, já perdeu duas mil vagas desde o início da crise financeira. Apenas Itabira produz, anualmente, 50 milhões de toneladas de ferro. A Vale produziu, em 2007, 296 milhões de toneladas do insumo. Já a produção brasileira contabilizou 350 milhões de toneladas.De acordo com o presidente do sindicato de Itabira, com a suspensão dos contratos, a Vale propôs que a remuneração viesse do seguro-desemprego do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Com a proposta negada pelo sindicato, a empresa enviará uma nova nos próximos dias.”O setor extrativo é o último a ser aquecido com a retomada do crescimento da economia. Mas nós estamos trabalhando para manter o trabalho até que a crise passe. A empresa está em uma situação muito tranqüila, nenhuma outra brasileira está como a Vale”, afirmou Souza.”Queimar a gordura” tem sido uma justificativa recorrente entre os sindicatos da categoria. Para eles, o lucro obtido pela companhia nos últimos anos é suficiente para não haver demissões no início da crise. No último balanço divulgado pela empresa no final de outubro, sobre o terceiro trimestre do ano, o lucro saltou 166% entre julho e setembro, para R$ 12,433 bilhões.”Caso ocorram mais demissões, a situação se agrava na região”, afirmou o diretor do Sindicato Metabase de Congonhas, também município de Minas. A cidade, assim como Itabira, também está promovendo atos públicos para conter as demissões na região.A Vale informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que foram cortadas 1.300 vagas diretas da empresa até dezembro – no Brasil e em outros países em que a empresa atua – sendo que 20% do total ocorreu em Minas. A empresa lembrou que em 2009 não houve nenhuma demissão e que o quadro de funcionários da companhia foi ampliado em 5 mil vagas em 2008.De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), não foi realizado levantamento sobre as demissões no estado, mas “elas estão ocorrendo”. Segundo o presidente do Conselho de Relações de Trabalho da Fiemg, Osmari Teixeira de Abreu, os meses de dezembro e janeiro são tradicionalmente mais difíceis para se fazer análises. “Agora as empresas estão voltando de férias coletivas e ainda não sabemos se elas irão demitir ou não”, disse. Ainda de acordo com o empresário, os sindicatos da categoria não buscaram a intervenção da federação mineira nas negociações com as indústrias.Sem previsõesO Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) ainda não arrisca previsões para o ano de 2009 e nem quando a retomada de produção deve ocorrer. De acordo com o presidente da entidade, Paulo Camillo Penna, projeções poderão acontecer apenas depois do término do primeiro trimestre do ano. De acordo com o executivo, as medidas governamentais começaram a surtir efeitos na economia.”Muitas empresas estão buscado nesse período, que chamamos de amadurecimento, para dar férias coletivas e antecipar manutenções programadas. E isso tem gerado notícias alarmistas”, afirmou Penna.Um outro efeito da crise, segundo analistas é a queda do preço do minério de ferro, commodities que viu seu preço no pico durante o início de 2008. A expectativa gira em torno da volta da compra do minério pela China. Segundo relatório da corretora Link Investimentos, o minério de ferro da Vale que, por ser de melhor qualidade, detém maior poder de barganha nas negociações.
DCI