Demanda interna dificilmente compensará o corte da China
10/12/08
SÃO PAULO – O mercado interno brasileiro conseguirá sustentar parte da produção das mineradoras do País, mas a crise financeira global só deixará de impactar o setor quando os pacotes chineses surtirem efeitos na economia real. “Temos aqui o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] para a parte habitacional que tem contribuído para a manutenção da demanda interna”, afirma o o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna. De acordo com o ele, o setor enfrentará um período de dificuldade. O fato é explicado pelo consumo brasileiro anual. Internamente são 60 milhões de toneladas de minério de ferro, número bem abaixo das 320 milhões de toneladas produzidas.No entanto, esse não está sendo visto como o principal impacto, mas sim a postergação da implantação e expansão de plantas. O Ibram havia anunciado, no início do segundo semestre, um levantamento do montante que seria investido entre 2008 e 2012: US$ 57 bilhões. Aportes que podem estar comprometidos. “Os adiamentos de projetos são muitos”, afirma Camillo Penna. O executivo acredita que mais da metade desse total já esteja assegurado. “Alguns projetos estão apostando na sua maturação em dois ou três anos”, diz.O mercado interno não tem balanceado o revés da demanda externa. A exemplo de mais um corte da mineradora Vale, que suspendeu a produção de mais duas plantas em Tubarão, no Espírito Santo, as paradas podem continuar caso a demanda continue em queda. A Vale, em 2007, produziu 296 milhões de toneladas de minério de ferro. Para 2009, a previsão da companhia era de 360 milhões de toneladas, número que pode ser revisto por conta da crise. A segunda maior produtora é a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A empresa produz 20,5 milhões de toneladas ao ano, sendo 16 milhões na Mina Casa de Pedra (a previsão da empresa era fechar 2009 com 50 milhões de toneladas). No entanto, no caso da CSN, metade da produção de minério é consumida internamente.Para o Ibram, novos cortes dependerão da reação do mercado mundial. Caso a demanda continue fraca, além de menos produção, haverá outros cortes de vagas. “As empresas estão evitando demitir porque o investimento em treinamento do setor é alto. O treinamento indoor em nosso setor chega a 91% dos funcionários. Por isso as empresas querem segurar até o limite”, afirma o presidente da entidade.Por outro lado, outras demissões podem ocorrer. Por conta da parada da MMX no final de novembro, cerca de dois mil trabalhadores do setor carvoeiro em Mato Grosso do Sul foram demitidos, de acordo com o Sindicato das Indústrias e dos Produtores de Carvão Vegetal (Sindcarv). Procurada, a MMX negou qualquer demissão em sua unidade no Mato Grosso do Sul.De acordo com Penna, o setor ainda não sentiu o retorno de clientes tradicionais, como o chinês. Essa volta, no entanto, já foi notada pelo setor siderúrgico. “Talvez sem os pacotes econômicos que já foram adotados a velocidade da queda da demanda estivesse maior”, afirma. Além da China, mercados relevantes para o Brasil como Alemanha, Itália e Coréia registraram queda de no volume de compras. “Dependemos dos mercado, já que a demanda interna não é suficiente para manter a indústria de mineração plena”, completa.Mercados menoresA BHP Billiton também está sentindo a queda da demanda Chinesa. A maior mineradora do mundo remeteu a partir da Austrália o menor volume de minério de ferro dos últimos nove meses. A BHP provavelmente terá de reduzir a produção em cerca de 25% no próximo ano.
DCI