Demanda da China por metais, reorganização do mercado global e mitigação da emissão de carbono vão ditar o ritmo da economia mineral
07/10/21
Um dos painéis mais esperados durante o último dia da EXPOSIBRAM 2021 (7/10) foi o que tratou das perspectivas de mercado para a mineração para os próximos anos. Foi consenso entre os palestrantes que a diminuição do uso de carbono, ou descarbonização, é uma realidade. No entanto, como todos deixaram claro em suas palestras, para isso se concretizar será fundamental um comportamento mais assertivo dos governos. “Tudo depende dos governos e dos órgãos reguladores. Precisamos sair da retórica e irmos para o campo das ações”, reforçou Julian Kettle, vice-presidente sênior e vice-presidente de metais e mineração da Wood Mackenzie, uma das mais prestigiadas consultorias especializadas em mineração do mundo.

Julian Kettle, vice-presidente sênior e vice-presidente de metais e mineração da Wood Mackenzie
Kettle também pontuou, em sua fala, que estamos vivendo uma transição no mercado e uso de energia e no acesso que todos temos nessa transição. “A corrida vai começar. Os preços de commodities estão passando por uma jornada significativa. Saímos do ciclo antigo, que foi até 2014, com operações a preços globais, e passamos há pouco por um superciclo. Entendo que agora essa revolução não será mais liderada por um único país, mas sim por um tema. E esse tema, sem sombra de dúvida, é a descarbonização e consequente redução de suas emissões”, analisa. Mas, de acordo com ele, para que isso se consolide, precisaremos buscar soluções, além de mais investimentos e, principalmente, mais investimentos verdes.
Paul Robinson, diretor da consultoria CRU Group, concorda com a tese apresentada por Appian, e reforça que o que ocorreu com as commodites nos últimos 12 meses foi algo excepcional, tanto no valor final desses bens quanto nos resultados das companhias. 36 das 38 commodites que sua empresa acompanha apresentarão aumentos em relação ao ano passado, com algo em torno de 55% de aumento, em média. No entanto, este mesmo pool de itens deverá apresentar, no ano que vem, uma substituição menor. “Da mesma cesta de 38 itens que acompanhamos, entendemos que 34 deverão apresentar redução de preços, com queda, em média, da ordem de 2,5%. Entendo que estamos passando por uma mudança importante nesta sinalização”, afirmou.
Robinson entende que os principais pontos que impactarão o mercado será a demanda da China por metais, além da reorganização do mercado global e, principalmente, políticas para mitigação da emissão de carbono. “Os chineses adotaram políticas verdes que estão mudando o mercado de metais, diminuindo o ritmo de aquisições. Ainda há muita demanda, é claro, mas deveremos ter alterações no ritmo, na produção e nos preços; assim como os Estados Unidos, que também está reorganizando sua produção doméstica, com investimentos em indústrias básicas locais. Para o fim das emissões precisaremos de uma coordenação de todos os setores, de forma a visualizar uma nova e melhor retórica governamental”, disse.

Paul Robinson, diretor da consultoria CRU Group
Neste cenário, Paulo Castellari, CEO da Appian Capital Brazil, vê uma oportunidade muito boa de novos investimentos para o Brasil, na medida em que o país realiza, há anos, uma escolha consciente de novos projetos. “Desde projetos diversos de cobre, que se mostra muito atrativo na industrialização e em toda uma revolução de eletrificação, passando pelo níquel, que é uma peça-chave nessa realidade”, apontou o executivo.
Mercado futuro
Pensando no futuro dos preços das commodities, Julian Kettle , da Wood Mackenzie, acredita que iremos passar por um período de redução de preços, com os mercados retrocedendo. “Não veremos o crescimento nos níveis atuais, principalmente devido à restrição de suprimentos, mas encaro isso como transitório. Os preços vão cair, mas não acredito que a ponto de se chegar a um déficit. No entanto, a grande pergunta que deixo é: Estes fatores vieram para ficar ou serão apenas transitórios? Só o futuro, com os governos e suas regulamentações, dirão”, analisou.
Eduardo Ledsham, CEO da BAMIN, foi o moderador do painel. Para ele, o tema do debate vem em um momento extremamente oportuno. “Os especialistas trazidos pelo IBRAM nos trouxeram visões, análises e direcionadores, que permitem uma maior clareza dos temas que serão destaque nas discussões para novos investimentos no país e no mundo. Essa visibilidade é fundamental quando pensamos em uma janela de oportunidades para o setor mineral”, salientou.

Eduardo Ledsham, CEO da BAMIN
Paulo Castellari, da Capital Brazil, entende que o futuro reserva bons retornos para forças diferentes de mercado. “A sociedade, de forma geral, busca tecnologias mais limpas. Os governos falam em redução de emissão de gases. Os consumidores buscam produtos verdes. Tudo isso, a meu ver, implica em muitas oportunidades de negócios para o Brasil de se manter na primeira linha do mercado global de commodities. Digo isso por que o país possui a maioria de seu suprimento de energia na forma renovável, além de possuímos amplas reservas de lítio e grafite”, disse.
Já Diana Kinch, editora-chefe da S&P Global Platts, apresentou um quadro amplo sobre o mercado atual e futuro de mineração. Para ela, viveremos, nas próximas décadas, um descompasso entre a necessidade dos países e indústrias e a capacidade de produção de metais. Na sua visão, a solução deve passar pelos países reverem seus estoques e reservas, além dos investimentos e da forma como eles são realizados. “Após o médio prazo, a demanda projetada de minério supera o fornecimento esperado das minas existentes e projetos em construção para a maioria dos minerais, o que significa que será necessário um investimento adicional significativo para apoiar o crescimento da demanda”, esclareceu a especialista, que passou 25 anos no Brasil trabalhando como repórter e editora de commodities para agências de notícias internacionais.
Para Kinch, uma questão que pode ajudar nesse cenário é dar-se mais atenção à reciclagem de minérios. “Não sei se seria a solução. Mas estudos revelam que se fizermos um processo bem feito, podemos reduzir em até 10% a demanda global por metais. Estamos falando, por exemplo, de 355 mil toneladas de baterias descartadas até 2025. Não é algo desprezível”, exemplificou.

Diana Kinch, editora-chefe da S&P Global Platts
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