Crise dos EUA acirra negociação do minério de ferro
01/02/08
A recessão econômica dos Estados Unidos pode acirrar mais as negociações entre mineradoras e usinas de aço para o aumento do preço do minério de ferro este ano e arrastar este processo por mais um mês, pelo menos, segundo avaliação de especialistas. Para eles, o reajuste de preços para 2008 não deverá ser afetado porque os fundamentos de mercado são muito fortes, a favor das mineradoras. “Não há estoques de minério de ferro em lugar nenhum do mundo hoje”, disse o presidente do Instituto Brasileiro da Indústria de Mineração (Ibram), Paulo Camilo.Luciano Ramos, presidente da mineradora London Mining Brasil, disse que as previsões de aumento de preços estão sendo ajustadas mesmo com a expectativa de recessão ou de baixo crescimento americano. “Já ouvi falar em reajuste de até 75%”, disse o executivo. Ele trabalha com uma expectativa acima de 50% e está otimista quanto ao futuro. “As previsões são muito boas para 2008 e também 2009. Aguardo alta de 20% para ano que vem, com estabilidade a partir de 2010″. Ramos não espera nenhum impacto significativo na produção de aço da China no curto prazo. E prevê déficit entre oferta e demanda de minério de 25 milhões de toneladas neste ano e no próximo.”A procura por minério vem de todo lado, principalmente da China e Taiwan” relata um executivo de uma mineradora brasileira que disse receber telefonemas diários dos mais variados tipos de representantes comerciais desses países no Brasil. Um parâmetro que sustenta um cenário favorável às mineradoras é o preço no mercado “spot” de minério indiano na China, de até US$ 180 a tonelada, afirmou o executivo.
A análise dos especialistas é de que o reajuste do minério pode ficar dentro dos parâmetros entre 50% a 55%. O banco Credit Suisse reviu sua projeção de alta do minério de 35% para 55%, mas este percentual é assumido como “conservador” pelo banco suíço. E sugere que o aumento este ano possa ser maior, talvez 70%, dadas as semelhanças da situação atual de mercado com o ano de 2005, quando o minério registrou 71,5% de reajuste, o maior de sua história. Para Roger Downey, analista de mineração do Credit Suisse, há uma boa chance de o minério atingir alta acima de 70%, apesar das ameaças de um menor crescimento nos Estados Unidos. “O preço do spot na China subiu 80%, de US$ 100 para US$ 180 a tonelada, indicando aperto do do mercado chinês. Por que o minério, cuja base de preço no Brasil é US$ 50 por tonelada, não pode subir em proporções próximas disto?”, indaga. Ele projeta comércio de 870 milhões de toneladas de minério no mercado transoceânico este ano. As usinas chinesas vão importar 440 milhões. No ano passado, esse mercado movimentou 790 milhões de toneladas do produto. Camilo, do Ibram, diz que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está prevendo crescimento de 10% para a economia chinesa em 2008, abaixo dos 11,4% de 2007. Esta diferença de 1,4 ponto percentual, porém, não o impressiona. Para ele, a queda-de-braço presente nas negociações entre siderúrgicas e a Vale do Rio Doce vem demonstrando que os produtores de minério estão com poder de barganha absoluto. A redução da atividade americana até agora não afetou o mercado local de aço, informou o Instituto Brasileiro de Siderurgia. As usinas americanas usam menos minério, e tudo do país e Canadá, e a maioria da indústria siderúrgica local utiliza sucata para produzir aço. Por outro lado, projeções de bancos e consultorias estimam produção de 530 milhões de toneladas de aço bruto na China este ano, ante um consumo de 470 a 480 milhões de toneladas. “A maior parte deste aço é demandada para obras de infra-estrutura e consumida na própria China”, ressalta Camilo.Fabio Silveira, diretor sócio da RC Consultores e Rafael Biderman, analista de mineração do Bradesco, têm um olhar diferente para este cenário. Na avaliação de Silveira, se acontecer mesmo uma recessão nos EUA, a maior economia do planeta, a demanda global por bens de capital para investimentos e de bens duráveis pode ser afetada e levar a um declínio na produção e consequentemente no preço do aço, atingindo o minério de ferro. “Não há espaço para os produtos siderúrgicos continuarem subindo frente a um enfraquecimento da demanda global, incluindo a China”, alerta. Ele avalia que neste cenário, os preços do minério poderão começar a encolher em 2009. Para Biderman, o grande risco para o setor de mineração, hoje alvo de um forte processo de concentração, são as distorções do cenário macroeconômico que possam vir a afetar fortemente o mercado chinês. Ele estima reajuste de 25% nos preços do minério – a menor projeção do mercado. Outro fator favorável às mineradoras: os preços do frete entre Brasil e China, por exemplo, já caíram de US$ 90 a tonelada há três meses para US$ atualmente.
Valor Econômico