28/01/08

É difícil encontrar uma ação que não tenho sofrido com os chacoalhões do mercado neste início de ano, especialmente desde o dia 15, quando ganhou força a percepção de que a economia americana pode entrar em recessão. No entanto, as ações das grandes multinacionais brasileiras – aquelas que possuem operações em outros países – estão apanhando de forma especial. Alguns desses papéis sofrem duplamente, já que além de terem negócios fora do Brasil, são produtoras de commodities como petróleo, minério e aço, que podem ser prejudicadas dependendo da magnitude da queda da economia dos EUA e os reflexos no mundo.Entre essas multinacionais estão: Vale, Gerdau, Gerdau Metalúrgica, Weg, Perdigão, Sadia, Marcopolo, Randon, JBS-Friboi, Embraer e Marfrig. A Gerdau é um caso emblemático. Desde o dia 15, suas ações preferenciais (PN, sem voto) já caíram 13,76% ante 7,60% do Índice Bovespa. A Gerdau Metalúrgica também não passa ilesa: suas PNs se desvalorizam 14,96%. A desaceleração ou recessão dos EUA acerta em cheio a siderúrgica brasileira, já que ela atua em solo americano por meio da Gerdau Ameristeel, sem contar as dúvidas de como ficarão os preços do aço com a deterioração internacional.Gerdau e JBS estão entre as perdedoras

“A Gerdau é uma das companhias brasileiras que mais seriam prejudicadas com uma recessão nos EUA e é exatamente esse temor que está fazendo os investidores venderem essas ações”, diz o chefe de análise da Planner Corretora, Ricardo Tadeu Martins. O frigorífico JBS-Friboi também está nesse grupo, após a compra da americana Swift Foods Company. “A JBS tem outros problemas, além do lado ruim da internacionalização neste momento; o investidor apostou na empresa, não está vendo resultado e, por isso, resolveu vender os papéis”, diz Martins. Desde o dia 15, as ações ordinárias (ON, com voto) da JBS-Friboi já caíram 21,63%, a maior queda entre as principais multinacionais “made in Brazil”.Muito além da terra do Tio SamOs investidores não estão evitando ficar longe apenas das companhias que têm um pé em solo americano. Com medo de que o enfraquecimento dos EUA se alastre, estão vendendo as ações de empresas que se expandiram para outros países. É o caso das companhias de alimentos Sadia e Perdigão, que estão em lugares como França, Japão, Rússia, Reino Unido e Oriente Médio. É também o caso das empresas de peças e equipamentos Weg, Marcopolo e Randon, que têm negócios na África do Sul, Portugal, China, Colômbia, entre outros. “É precipitado sair dessas ações na expectativa de que o mundo inteiro irá baquear com os EUA; se for assim, então é melhor não ter ação alguma “, completa Martins, da Planner.Na visão do chefe de análise da Link Investimentos, Celso Boin Júnior, já que segurança não faz mal a ninguém, vale a pena neste momento concentrar a carteira em ações voltadas ao mercado interno – como varejo e consumo – com um pequena pitada de papéis de commodities, mas de empresas também voltadas ao Brasil, como Usiminas, CSN e Suzano.Daniele Camba é repórter de Investimentos

Valor Econômico