Crise afeta geração de emprego no 1º trimestre
05/01/09
Se as previsões dos especialistas estiverem certas, já estamos passando por um dos períodos que promete ser o mais difícil de 2009, o primeiro trimestre do ano. E não apenas no que diz respeito ao desempenho da economia, mas principalmente aos efeitos da crise no mercado de trabalho. A desaceleração da atividade econômica no fim de 2008, principalmente nos setores automobilístico, siderúrgico, mineração e demais segmentos dependentes do mercado externo e de crédito, deve se estender aos trabalhadores, transformando a considerada crise econômica em uma ?crise de desemprego?, como considerou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Especialistas preveem que esse deve ser o pior trimestre na geração de postos de trabalho desde 2003, ano em que foram criados 140,8 mil vagas, resultado já considerado ruim. Até março, acredita-se que 213,5 mil postos de trabalho serão abertos, contra as 554,4 mil vagas geradas em 2008 no mesmo período. É em janeiro e fevereiro que também se concentram as previsões de retração do nível de emprego com carteira assinada do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que estima a geração de 1,8 milhão de vagas em 2009, contra os mais de 2,1 milhões de postos formais de 2008.Na virada do ano, os primeiros a sentirem os resultados da retração da atividade econômica são os trabalhadores temporários, que estão lutando pela efetivação. ?Boa parte não deve ser contratada?, afirma Cláudio Salvadori Dedecca, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). As previsões de efetivação de temporários da Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem) foram revisadas para baixo e devem voltar aos patamares de 2005 e 2006, estável em 30%. No ano passado, havia subido para 34% e tinha a meta de bater o recorde de 37% este ano. Para o comércio de Belo Horizonte, a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) espera que o índice de efetivação das vagas dos temporários seja de 15%, caindo pela metade em relação ao percentual histórico de 30% do ano passado. A estudante de publicidade Carolina Garcia de Oliveira, de 22 anos, ajuda a puxar as estatísticas para baixo. Após trabalhar como temporária em uma loja de roupas em dezembro, ela recebeu a notícia de que não será efetivada. ?Queria continuar, mas já estava esperando que não seria contratada. Com essa crise, não sei como as coisas vão ficar?, conta. Além de não ter a carteira assinada, Carolina também perdeu a vaga de estágio que havia conquistado na montadora Fiat após um longo processo de seleção. ?Eu tinha passado em todas as etapas e só estava esperando ser chamada. Mas a crise chegou e a vaga foi cortada. Fiquei sabendo de outras pessoas que também foram dispensadas?, afirma.Assim como os temporários, estagiários e trainnes podem passar por um período de restrição no número de vagas. ?Para trainees e estagiários, a situação já se complica mais um pouco. Os que se formaram no fim de 2008 vão conhecer uma situação de maior dificuldade para entrar no mercado nos primeiros meses do ano?, adverte Salvadori. Para o professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore, tudo o que as empresas puderem fazer para reequilibrar suas finanças será feito, mas sem se esquecer de seu capital humano. ?As empresas tentarão de tudo para evitar as demissões, o que seria um resultado desastroso para os dois lados?, avalia. É também no primeiro trimestre que muitos empregados que entraram em férias coletivas em dezembro devem reassumir os postos abandonados com a desaceleração da produção. ?Boa parte desses empregados devem retornar, mas agora vão enfrentar nova fase nas empresas, como planos de demissão voluntária e até redução do salário, mecanismo que deve ser muito utilizado?, avalia Pastore. Para ele, os setores mais atingidos serão os exportadores como a mineração e siderurgia, além da construção pesada e civil, o setor automobilístico e energia.
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