Coura acredita que economia americana poderá puxar a brasileira
02/01/17
O setor mineral foi um dos mais atingidos pelas turbulências internacionais e pela crise política e financeira do país. Mas 2016 foi um ano de rearranjo do setor. Além de contar com a retomada da economia brasileira, outras questões devem impactar o setor, segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Fernando Coura (foto). A começar do grande projeto desenvolvido em Carajás, passando pelos projetos de infraestrutura que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falou que pretende fazer. Se isto acontecer, ele vai precisar de produtos minerais e metalúrgicos e nesse caso, os Estados Unidos podem puxar a economia brasileira.Muitos setores da economia consideram 2016 como um ano perdido. Como este ano foi para o setor mineral?Para o nosso setor este foi um ano de reposicionamento. Nós assistimos agora a retomada dos preços internacional das commodities, com os projetos sendo relativamente repensados para serem retomados. O Brasil tenta encontrar o seu caminho e espero que em 2016 tenhamos construído uma ponte para 2017 e que em 2018 nós retomemos o caminho do crescimento e da geração de emprego e renda.Havia uma expectativa de que a mudança de governo iria alterar a rota da economia. Foi frustrante nesse sentido?Não, eu já vivi essa experiência. Quando o presidente Itamar Franco sucedeu o presidente Fernando Collor, nós vivemos períodos de extrema turbulência e, no entanto, foi o governo que mais marcou, ao lançar o Plano Real. O que eu espero, de verdade, é que esse governo possa encontrar um plano real para deixar para o futuro.A apresentação da reforma da Previdência no final do ano sinaliza para o encaminhamento dessas questões mais espinhosas?Evidente que são questões que tem que ser debatidas com muita responsabilidade. Nós temos que ver essa questão de não gastar mais do que recebe. Isso é fundamental na vida de cada um. A expectativa de vida hoje é diferente. Uma pessoa de 65 anos hoje é um jovem, apto a trabalhar e a produzir. Acho que todos têm que dar a sua cota de sacrifícios e na medida em que formos encontrando pontos na reforma trabalhista, por exemplo, sem cortar os direitos adquiridos, nós vamos dar a oportunidade do empresário que quer gerar emprego. O que as pessoas mais querem no país é emprego e emprego de qualidade.As pessoas questionam como fazer a reforma da Previdência aumentando o tempo de contribuição sem emprego? Quando o setor produtivo vai voltar a investir e gerar postos de trabalho?Na hora que os sinais específicos de mudança estruturais acontecerem, os empresários vão tirar os seus projetos da gaveta. O Brasil é o país das oportunidades. Nós temos um país com 8,5 milhões de km² com todas as demandas a serem atendidas: casas, rodovias, ferrovias, aeroportos, hospitais, saneamento básico, portos Então, tudo isto tem demanda para crescermos e este é um país de oportunidades, diferente de alguns países da Europa, que já estão consolidados. Nós temos uma juventude chegando, nós temos uma boa educação e nós temos condições, com essa retomada dos projetos, gerar empregos. Na hora que o emprego vier, pode ter certeza de que os superávits virão.Os estados estão falidos. Já são três os estados que decretaram calamidade financeira. Fica mais difícil recuperar a economia em um ambiente com tantos problemas?O que a gente vê não são problemas só com os estados. São os estados e municípios. A diferença é que os déficits da União podem ser cobertos por empréstimos e os estados e municípios não tem essa oportunidade. Isso é uma demonstração clara e evidente de que é necessário fazer algo. É preciso fazer algo profundo, no sentido de ajustar e isso custa sacrifícios e esse sacrifício tem que ser distribuído igualitariamente para todas as camadas da população. A única forma é ter essa distribuição igualitária.Para 2017, o senhor acredita em melhoras? É possível ter expectativas positivas?Nós temos expectativas positivas. Nós inauguramos o maior projeto de minério de ferro do mundo, em Carajás, com inovação tecnológica, que é o caminho da mineração. Nós temos ainda a estabilização de alguns projetos, as commodities começam a melhorar de preço e eu estou com muitas expectativas para 2017.Com Donald Trump no comando dos Estados Unidos vai prejudicar o setor?O Trump fala em investimentos muito fortes em infraestrutura. E investimentos em infraestrutura demandam produtos minerais e produtos metalúrgicos. O crescimento americano pode nos puxar.O que seria mais importante agora: a reforma trabalhista ou a reforma PrevidenciáriaA reforma Previdenciária impacta diretamente no cofre. Não sou especialista no tema, mas pelo que eu leio, se nós não fizermos o dever de casa em relação a reforma Previdenciária, em 2024 nós vamos estar pagando só saúde e educação. Estamos no time certo, primeiro ajustar as contas, fazer a reforma da Previdência e depois fazer a reforma trabalhista bem negociada.
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