Commodities para o bem e para o mal
20/02/08
Depois de empurrar a bolsa para cima, com o reajuste de 65% do minério de ferro conseguido pela Vale na segunda-feira, ontem foi a vez de outra commodity importante, o petróleo, azedar o humor do mercado. O aumento da turbulência na maior região produtora de petróleo da Nigéria, um dos grandes fornecedores para os EUA, fez o barril sair da estagnação nas casa dos US$ 90 em que se encontrava há algum tempo. O contrato futuro do barril tipo WTI negociado em Nova York com vencimento em março atingiu nova máxima histórica, de US$ 100,10, mas fechou a US$ 100,01, em alta de 4,72%. O último recorde havia sido em 3 de janeiro, quando alcançou US$ 100,09. Essa escalada fez o Índice Bovespa entrar no campo negativo e fechar em baixa de 0,80%, aos 62.296 pontos.Petróleo fecha acima dos US$ 100 o barrilO mercado parou para pensar e se deu conta de que um novo repique do petróleo seria como um soco na boca do estômago do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que vem se empenhando arduamente para reverter o processo de desaceleração da economia dos EUA. O aumento da commodity traria o pior dos mundos, que é a alta da inflação. Conseqüentemente, o Fed teria muito menos margem de manobra para baixar mais a taxa de juros, lembra o gestor de renda variável da Infinity Asset, George Sanders. Sem contar que esse aumento do petróleo desestimularia ainda mais o consumo do americano, que já não anda lá essas coisas. “A puxada do barril pintou esse cenário sombrio de economia ainda mais desaquecida, sem o Fed poder fazer muito, no caso da inflação voltar a incomodar”, diz Sanders. Ele acredita que só não houve essa leitura com as notícias dos gordos reajustes do minério porque aconteceram na segunda-feira, quando o mercado americano estava fechado devido ao feriado.
Contribuiu para a queda da bolsa ontem os ajustes nas carteiras dos investidores, um dia depois do exercício de opções (direito de comprar ou vender uma ação a um determinado preço). Muitos se machucaram um bocado, já que dois dias antes do exercício a bolsa caiu. Mas, no dia do vencimento, na segunda, ela subiu, graças à Vale, pegando de calças curtas quem apostava na continuação da queda. Para se ter idéia, a opção de compra de Vale a R$ 48, na sexta-feira, valia R$ 0,03, ou seja, era praticamente pó e, na segunda, ressurgiu das cinzas, chegando a valer R$ 0,90.
O lado bom da históriaNem tudo virou tristeza no campo das commodities. Os analistas estão muito otimistas com as ações das siderúrgicas, na expectativa de que repassem para os preços do aço o reajuste do minério, além do crescimento econômico brasileiro, que deve manter a demanda altamente aquecida. As ações ordinárias (ON, com voto) da CSN estão entre as queridinhas do setor, por ser a única auto-suficiente em minério com a mina Casa de Pedra. As ONs da companhia subiram ontem 3,64%. A Justiça concedeu uma liminar determinando que a Vale retome o fornecimento de pelotas para a CSN, suspenso desde o dia 1º deste mês. A CSN também informou ontem que pretende participar do leilão de venda da Cesp.Daniele Camba é repórter de Investimentos
Valor Econômico