Combate à mudança climática pode situar Brasil à frente da diplomacia mineral global, aponta seminário internacional
29/05/25
Evento aconteceu nesta 4ª feira (28), em Brasília. Segundo Raul Jungmann, diretor-presidente do IBRAM, “estamos na Era dos Minerais Críticos e Estratégicos, assim como tivemos a Era do Petróleo”. No entanto, a mineração não consta, ainda, da pauta de negociações da COP30, diz Ana Toni, diretora-executiva da conferência.

Diretor-Presidente do IBRAM, Raul Jungmann. Crédito: Milca Santos
O Brasil como protagonista de uma nova diplomacia mineral global, com foco em estabelecer os minerais críticos e estratégicos (MCEs) como parte importante das soluções de enfrentamento da questão climática, permeou as discussões que dominaram a pauta do Seminário Internacional de Minerais Críticos e Estratégicos 2025, realizado em Brasília-DF, neste dia 28 de maio, pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). Um dos pontos altos do evento foi o lançamento do Green Paper que propõe redefinir o papel do Brasil na transição energética, durante painel com participação da diretora-executiva da COP30, Ana Toni. O documento sugere um “modelo brasileiro” para a gestão de minerais críticos e estratégicos (MCE), como lítio, cobalto, terras raras, entre outros, alinhando soberania nacional, justiça climática e desenvolvimento sustentável. Está disponível gratuitamente no site do IBRAM.

Crédito: Milca Santos
O Green Paper “Os minerais críticos e estratégicos na COP30 – Avançar com uma política para os brasileiros e para o mundo” destaca que o Brasil não pode se limitar a ser apenas um fornecedor de matérias-primas. O país tem potencial para se tornar um hub industrial da transição energética na América do Sul, agregando valor local por meio de cadeias verdes como baterias de lítio, magnetos de terras raras e hidrogênio verde.
Era dos Minerais Críticos e Estratégicos

Diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann. Crédito: Milca Santos
Em sua fala, Raul Jungmann, diretor-presidente do IBRAM, disse que “entramos na Era dos Minerais Críticos e Estratégicos, assim como tivemos a Era do Petróleo”. Jungmann justifica que o cenário é de crescente procura pelos MCEs por parte das nações e blocos econômicos, inclusive os produzidos no Brasil. Mas, segundo ele, o país precisa enfrentar e superar gargalos que inibem a expansão da produção de minérios, como conhecimento geológico restrito, licenciamento ambiental custoso e moroso, lacuna na concessão de crédito adequado às características e expectativas da indústria da mineração.
Mineração ainda fora da pauta da COP30
A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, informou que a mineração ainda não consta da pauta de negociações da conferência da ONU, que será realizada no Pará, em novembro, embora ela entenda que a atividade deveria ocupar lugar de destaque, como demais assuntos relacionados a energia, infraestrutura, uso da terra. “Infelizmente a palavra mineração não está na negociação, como não existe nenhum documento, ainda, que fale do papel de mineração para o tema da mudança do clima. Como assim? Como o mundo não se atentou e não fez isso porque se sabe que a mineração é fundamental para a transição energética, que a mineração é vital para quase tudo?”, questionou Ana Toni em sua fala no seminário.
A dirigente deu a entender que há abertura para a mineração ser abordada naquela cúpula. Ela parabenizou o IBRAM por trazer o tema a debate público no seminário internacional desta 4ª feira.
– “É uma oportunidade civilizada de trazer este debate. O Brasil debateu pouco sobre isso, a gente fala muito mais de mineração ilegal no Brasil, na mídia brasileira e internacional, do que de mineração. É uma contradição e a gente chega numa COP com pouco debate nacional em todos os setores sobre mineração. Mas vamos começar a fazer este debate e da maneira mais específica possível (…) e trazer sempre o tema da mineração junto com a economia circular, porque é colocar a mineração e os minerais críticos já na economia do futuro, não é só (abordar a) mineração como commodity, não é só extração”, afirmou Ana Toni.
Fernando Azevedo: devemos tratar a agenda dos MCEs com a devida urgência e interesse.

Vice-presidente do IBRAM, Fernando Azevedo. Crédito: Milca Santos
Pronunciamento do vice-presidente do IBRAM, Fernando Azevedo, marcou a abertura do seminário. Ele lembrou da importância da primeira edição do seminário, em 2024, que resultou em contribuições à elaboração do projeto de lei nº 2780/24, do deputado Zé Silva, que institui a política nacional de minerais críticos. “Agora, a edição do seminário em 2025 integra as estratégias do IBRAM rumo a COP30”, disse. Ele destacou a participação intensa de público, com mais de 400 inscritos de cinco países além do Brasil: Austrália, Canadá, França, Reino Unido e Suíça. O seminário contou com a participação ativa de 41 painelistas, sendo 46% de participação feminina, informou Azevedo.
Personalidades debateram várias temáticas relacionadas aos MCEs
Também participaram do seminário diversas personalidades, como Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, Co-Presidente IRP- UNEP e Membro do Conselho Econômico e Social da ONU; Laurent Javaudin, conselheiro de Energia, Clima e Meio Ambiente da Delegação da União Europeia no Brasil; Tomás Bredariol, analista de Política Energética e Ambiental da IEA (Agência Internacional de Energia – por vídeo); Sophie Davies, embaixadora da Austrália no Brasil; Emmanuel Kamarianakis, embaixador do Canadá no Brasil; deputados Zé Silva e Arnaldo Jardim; Mauro Henrique Moreira Sousa, diretor-geral da Agência Nacional de Mineração; além de autoridades dos ministérios da Casa Civil, Fazenda, Minas e Energia, MCTI.
Outros temas abordados nos painéis do seminário foram: Desafios da Produção Mineral e como endereçá-los por meio da Inovação e Tecnologia; Investimentos em Infraestrutura para o crescimento dos minerais críticos e estratégicos; Novas vozes no downstream para Minerais Críticos e Estratégicos; Estudo IBRAM e CETEM sobre Diagnóstico do Brasil e Rotas Tecnológicas para Minerais Críticos e Estratégicos; O papel do Brasil na agenda global de minerais críticos e estratégicos: oferta x demanda brasileira por minerais; Geopolítica e o Potencial dos minerais críticos e estratégicos.
O Seminário Internacional de Minerais Críticos e Estratégicos 2025 teve o patrocínio de: Samarco, ale (Diamante) e MineracaoTaboca (Ouro).