China reage à reajuste do minério e acusa mineradoras de cartel
13/04/10
A reação do governo chinês ao reajuste do minério de ferro, com ameaça de iniciar investigação por suspeita de formação de cartel, ocorre pouco mais de uma semana depois de a World Steel Association, que reúne as maiores siderúrgicas do planeta, ter pedido ações por parte das autoridades antitruste de todo o mundo contra as três mineradoras, que controlam quase 70% do comércio global do produto que é a matéria-prima do aço.
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Segundo o jornal econômico Jingji Cankao Bao, editado pela agência oficial de notícias, Xinhua, o governo chinês se prepara para iniciar investigação por suspeita de formação de cartel contra os três maiores produtores mundiais de minério de ferro – a brasileira Vale e as australianas BHP Billiton e Rio Tinto.
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No fim de março, a Associação da Indústria de Ferro e Aço da Europa (Eurofer) já havia solicitado ao organismo responsável pela defesa da concorrência na União Europeia que investigasse a suspeita de abuso de posição dominante por parte das mineradoras. Em contrapartida, no início do mês, a Vale pediu à Comissão Europeia que investigue as siderúrgicas do continente por prática de concorrência desleal.
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No pedido, a mineradora brasileira acusa as siderúrgicas europeias de agir de maneira orquestrada e ilegal nas negociações para reajuste do preço internacional do minério de ferro. O confronto entre os produtores de minério de ferro e as siderúrgicas ao redor do mundo se intensificou depois que a Vale negociou com clientes japoneses reajuste de 97% na cotação do minério e alterou o sistema de revisão de preços, que deixou de ser anual e passou a ser trimestral.
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Em seguida, a BHP anunciou que também modificaria seu mecanismo de negociação e, na sexta-feira, a Rio Tinto disse que seguiria o mesmo caminho. A mudança quase simultânea no formato do reajuste de preços é um dos argumentos dos chineses para sustentar que há uma ação coordenada dos fornecedores nesse mercado.
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A imprensa oficial do país afirma que as ?três gigantes? atuam de maneira semelhante em relação a fornecimento, definição de preços, transporte e prazos, o que indicaria um ?claro abuso monopolístico?. A reportagem cita declarações de uma autoridade não identificada do setor, segundo a qual o governo já está colhendo provas para dar início à investigação.
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Em nota divulgada no dia 1º de abril, a World Steel Association afirmou que o poder das mineradoras de ?impor? mudanças no mecanismo de reajuste decorre da ausência de competição no mercado internacional de minério de ferro, com a Vale em posição monopolista no Oceano Atlântico e as duas australianas, no Pacífico.
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As autoridades precisam ?decidir se a natureza não competitiva desse negócio é do interessepúblico, considerando que o aço é utilizado em virtualmente todos os aspectos da economia moderna?, ressaltava a nota da entidade, que reúne siderúrgicas responsáveis por 85% da produção de aço mundial. A ameaça de abertura de processo por suspeita de cartel é realizada em meio às negociações para definição dos preços do minério de ferro para 2010.
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No início do mês a Vale divulgou que fechou acordo para mudar as condições para o reajuste do minério de ferro, baseado em referências de mercado com mudanças automáticas de preços em bases trimestrais. Na ocasião, os acordos realizados, segundo a mineradora compreendiam 97% da base de clientes de minério de ferro da empresa em todo o mundo, o que correspondia a 90% dos volumes contratuais.
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A China é o maior fabricante de aço do planeta, com produção de 567,84 milhões de toneladas em 2009, o equivalente a 46,5% do total global – o Brasil fabricou 33,7 milhões de toneladas em 2008, antes do impacto da crise financeira global.;
Agência Estado