China pode alavancar Brasil, diz banco
29/07/09
Morgan Stanley, que chegou a estimar queda de 4,5% do PIB brasileiro em 2009, vê chance de desempenho melhorO banco que chegou a prever uma queda de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2009 – e irritou o presidente Lula – avalia, agora, que o crescimento do País pode surpreender para melhor. Graças, sobretudo, à China. A análise está no mais recente relatório do economista-chefe do Morgan Stanley no Brasil, Marcelo Carvalho. Sua projeção para o PIB do País em 2009 está em -1% desde 15 de junho. Mas há a possibilidade de nova mudança que, ele não tem dúvidas, seria para cima. EFEITO CHINA NO BRASIL”O canal que parece mais importante é o dos preços das commodities, no qual a China tem papel muito importante. Há uma correlação empírica bastante forte entre preços de commodities e crescimento do Brasil.O aumento dos preços das commodities tende a favorecer os termos de troca do Brasil. Ou seja, o preço das exportações sobre o preço das importações tende a subir, uma vez que metade das nossas exportações é de commodities. Isso tende a valorizar nossa taxa de câmbio, o que, por sua vez, reduz o custo de importação de bens de capital. Os bens de capital são um componente importante no investimento doméstico. O segundo mecanismo importante é a inflação e a política monetária. A valorização do real tende a conter as pressões inflacionárias e, em consequência, abre espaço para um juro mais baixo, o que é bom para a atividade econômica. O terceiro canal é o do investimento direto. O aumento dos preços das commodities no mercado internacional tende a estimular investimentos internacionais nesse setor aqui no Brasil (agricultura, mineração e petróleo, por exemplo). Há, ainda, outro canal pouco explorado, mas relevante: os preços dos ativos, em particular das ações. Quando a economia chinesa se expande em velocidade maior, a bolsa chinesa tem desempenho positivo, o que tende a favorecer a percepção dos investidores internacionais sobre os mercados emergentes em geral. Para esses investidores, o Brasil ainda é a menina dos olhos. A melhora da bolsa aqui, por sua vez, facilita o financiamento das empresas e tem efeito importante sobre a confiança interna, tanto do consumidor quanto das empresas.” CRESCIMENTO CHINÊS”Nossos economistas de China dizem que o estímulo fiscal do país dará um impulso para a economia durante um ano ou dois, até que, lá na frente, haja uma recuperação mais significativa dos países desenvolvidos. Quais são os riscos? Obviamente, se a economia global, particularmente os países desenvolvidos, continuar patinando por muito tempo, é difícil imaginar que a economia chinesa sozinha consiga se sustentar. Não há, em absoluto, a ideia de um descasamento permanente, pois a China continua profundamente integrada à economia global. Há munição suficiente para ganhar tempo por um período, mas é claro que isso não se sustentaria eternamente.” ESTOQUES NA CHINA”Há uma sinalização de que realmente houve uma acumulação de estoque de commodities (no primeiro semestre), o que pode ter magnificado o papel da China sobre os preços internacionais. Outro ponto que inspira cautela é a sinalização de que parte da recente demanda por commodities vem de fluxos especulativos. Esses dois fatores inspiram algum cuidado na análise. Ainda assim, a China tem papel muito importante na definição dos preços de commodities ao longo do tempo.” DE -4,5% PARA -1%”Dois fatores mudaram. Em primeiro lugar, a economia mundial tem tido um desempenho melhor do que se imaginava no início do ano. A recuperação dos preços das commodities, da economia chinesa em particular e da economia global como um todo, teve várias implicações para o Brasil: aumentou o apetite por risco e o fluxo de capitais para países emergentes se mostrou mais forte do que se imaginava. O segundo elemento que destaco é doméstico. O consumo brasileiro surpreendeu positivamente.” PERSPECTIVAS PARA O PIB “A revisão da economia chinesa (em 17 de julho, o Morgan Stanley revisou a previsão de crescimento do PIB chinês de 7% para 9% em 2009 e de 8% para 10% em 2010) põe riscos para cima na projeção brasileira.”
O Estado de S.Paulo