China investirá US$ 16 bilhões na Índia
03/01/11
Dragão chinês tenta evitar a expansão da influência dos EUA sobre o Tigre da Ásia
Hong Kong – Se o número de empresários que acompanham um líder em sua visita a um país estrangeiro é indicativo de importância da visita, a Índia deverá situar-se em ponto muito alto da agenda da China, com objetivo mais provável a contenção da influência norte-americana sobre a economia concorrente número um da China.
Chegando há alguns dias a Nova Deli acompanhado por uma comitiva de 400 empresários, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, trouxe embaixo do braço acordos no valor total de US$ 16 bilhões que foram formalizados por empresas dos dois países em um amplo espectro de setores, desde telecomunicações até energia.
Paralelamente, Jiabao prometeu aumento do comércio bilateral, com especial providência equilibrar a balança de pagamentos, a qual, obviamente, pende a favor da “exportadora” China. Ainda, prometeu aumento dos até agora limitados investimentos chineses em sua principal concorrente, assim como o apoio político do governo de Beijing à candidatura da Índia ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Com sua sonora declaração de que “o mundo é bastante grande para crescer tanto a Índia, quanto a China”, Jiabao eliminou a desconfiança entre os dois países, os quais não conseguiram – até agora – conformar uma frente única a não ser sobre comércio internacional e sobre mudanças climáticas.
E isto porque 40 anos após a guerra em que se envolveram, continuam existindo suas diferenças territoriais, enquanto a Índia continua temendo as disposições hegemônicas da China sobre amplos espaços do Continente da Ásia.
Quatro por um
Os dois países que frequentemente apresentam-se como gêmeos sob a característica de economias em crescimento veloz, na realidade estão muito distantes da paridade: o Produto Interno Bruto (PIB) da China – que permanece sendo o mais importante parceiro comercial da Índia – é quatro vezes maior do que o da Índia, cujas miseráveis infra-estruturas demonstram sua carência.
O Governo da Índia teme que a China esteja tentando restringir o acesso de empresas indianas ao mercado chinês. Neste campo, o resultado palpável da visita foi a meta para o aumento do comércio bilateral em US$ 100 bilhões até 2015 formalizada por Jiabao e seu colega indiano, Manmohan Singh.
Objetivo bastante ambicioso, considerando que o comércio entre o Dragão e o Tigre da Ásia, embora tenha aumentado dez vezes nos últimos dez anos, calcula-se que não deverá superar os US$ 60 bilhões neste ano.
E obviamente, favorece, principalmente, a China, considerando que, na década anterior, o déficit comercial da Índia para com a China explodiu a US$ 16 bilhões, de US$ 1 bilhão que havia atingido no biênio 2001-2002.
Entretanto, de acordo com o jornal indiano em língua inglesa Hindustan Times, o premiê indiano utilizou a visita de seu colega chinês – a primeira de um líder chinês após cinco anos – para exercer pressões em busca da permissão do governo chinês para expansão das indústrias farmacêuticas e empresas de alta tecnologia da Índia no mercado da China.
Reter commodities
A propósito, nos últimos meses a liderança política da Índia enfrentou forte debate sobre se era correta a opção do país de exportar minérios e matérias-primas vitais à sua concorrente que dispõe de gigantesca indústria de transformação do minério de ferro e é o maior produtor mundial de aço. A discussão concentrou-se na questão do minério de ferro, porque metade da produção anual da Índia é exportada à China.
Aliás, o Governo da Índia chegou há alguns meses ao ponto de examinar a perspectiva de total proibição das exportações de matérias-primas, incluindo carvão de pedra e petróleo, enquanto vários políticos indianos sustentam que o país deverá utilizar seus metais e minérios para a modernização de sua pré-histórica infra-estrutura.
Igualmente visíveis são esforços empreendidos pelo Governo da Índia para concorrer com a China na disputa para garantir ativos patrimoniais de gigantes energéticos internacionais. Além dos acordos que formalizou nas últimas semanas com EUA e França, a Índia busca formalizar acordos entre a sua empresa estatal de petróleo e gás natural (ONGC) e os colossos energéticos Reseneft e Gasprom, da Rússia.
A economia indiana, de US$ 1,3 trilhão, é uma consumidora de energia igual à chinesa. Produz apenas 700 mil barris de petróleo por dia e importa mais de 2 milhões de barris por dia, com os quais atende a cerca de 75% de suas necessidades energéticas.
Os investimentos chineses na Índia são limitados e ano passado totalizaram apenas US$ 221 milhões. Como medida de comparação poderão ser utilizados os US$ 600 bilhões prometidos pelo Secretário de Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, em investimentos norte-americanos na Índia ao longo dos próximos cinco anos, principalmente em obras de infra-estrutura, portos, redes viárias e comunicações.
Já os investimentos chineses na Índia representam apenas 0,1% do total dos fluxos de investimentos chineses, enquanto são sete vezes menores do que os investimentos chineses no Paquistão.
Monitor Mercantil