China e câmbio prejudicam setor de máquinas
04/09/07
Crescimento superior a 10% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006 não é visto com otimismo pela Abimaq, pois não representa o desempenho do setor como um todo. A associação cita como vilões o aumento das importações, os juros altos e a desvalorização cambial, que diminuíram a competitividade do produto nacional. Entre janeiro e julho deste ano, a indústria de bens de capitais registrou faturamento de R$ 33,8 bilhões, segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o que representa um crescimento de 10,4% em relação ao mesmo período de 2006. Mesmo positivos, os resultados preocupam o presidente da entidade, Luiz Aubert Neto. “O prognóstico para o setor é de um déficit de US$ 3,5 bilhões neste ano. Enquanto há a expectativa de aumento de 18% das exportações, a tendência é de que as importações cresçam 30%”, disse. Entre os produtos mais importados pelo Brasil, no topo da lista estão os equipamentos pesados, com US$ 8.148,20, de janeiro a julho deste ano, seguidos por transmissão mecânica, equipamentos de controle de qualidade e máquinas-ferramentas. Para Aubert, grande parte do desempenho é resultado de apenas alguns subsetores, como açúcar e álcool, petróleo e gás, siderurgia, mineração, papel e celulose e agricultura. “O maior problema hoje é a importação de produtos, principalmente da China. De janeiro a julho deste ano, as importações movimentaram US$ 8,14 bilhões, um aumento de 32,1%”, disse. Hoje, os Estados Unidos são o país que mais exporta para o Brasil, seguidos pela Alemanha e Japão, mas segundo a Abimaq, a China, que está na quinta posição neste ranking, em dois anos, chegar ao segundo lugar. “A qualidade das máquinas da China é inferior, não pode ser comparada à dos produtos brasileiros, mas é o preço que está fazendo a diferença”, falou o presidente. Para ele, este fato é que está prejudicando o setor. “O Brasil não tem política industrial e isso é muito prejudicial, pois falta inovação tecnológica. Em três ou quatro anos, a China, que investe em tecnologia, produzirá maquinas com qualidade superior e, aí, não teremos como competir se nada for feito agora. É só vermos o caso da Coréia, que teve trajetória parecida e já ultrapassa o Brasil em todos os índices de desenvolvimento humano.” A solução, segundo Aubert, seria diminuir a tributação de bens de capitais em máquinas produzidas no país. “Os juros são menores para máquinas, mas há muitos impostos. Ninguém compra uma máquina por status, mas para melhorar a competitividade. Nosso setor tem 70 anos de tradição e queremos isonomia. Só podemos enfrentar a China se tivermos condições iguais”, disse. O presidente da Abimaq afirma que o cenário de investimentos a longo prazo é positivo. “Até 2015, o BNDES divulgou que pretende investir R$ 1 trilhão no país, o que é um bom sinal. O maior entrave é a exigência de uma certidão negativa de impostos para que as empresas tenham acesso às linhas de crédito. Hoje, 80% dos nosso associados têm problemas com impostos e, por isso, não conseguem o financiamento.” Um outro problema enfrentado pela indústria de bens de capitais, segundo Aubert, é a desvalorização cambial. “Já existem países, como a Argentina, para os quais não vale a pena exportar”, afirmou, explicando que os contratos de exportação já firmados não foram rompidos, mas que as empresas estão esperando a situação se estabilizar para fechar novos negócios. De acordo com a entidade, a desvalorização cambial tem como conseqüência a perda de competitividade do produto nacional, e os juros altos apenas favorecem a especulação. OUTROS RESULTADOS – O balanço do primeiro semestre também mostra crescimento de 12,2% nos pedidos em carteira. Este número sobe para de 17,14%(janeiro-julho de 2006) para 19,24 (janeiro-julho de 2007) semanas de atendimento, e o nível de utilização da capacidade instalada subiu 4,7% no período. Quanto às exportações, o setor totalizou US$ 5,53 bilhões entre janeiro e julho deste ano, um aumento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2006. Entre os setores que apresentaram melhor desempenho, estão o de máquinas e equipamentos para madeira, com crescimento de 77,7% no faturamento de janeiro a julho de 2007, em comparação ao mesmo período do ano anterior, e de 85,82% do nível de utilização da capacidade instalada. Já o segmento de válvulas industriais teve incremento de 37,6% no faturamento e de 77% na capacidade instalada. O setor de máquinas e implementos para agricultura registrou faturamento 38,4% superior no faturamento, no mesmo período. Segundo Aubert, tal resultado é inferior ao dos anos anteriores, em que a média de crescimento era da ordem de 80%. Resultados negativos registram os subsetores de máquinas e acessórios têxteis, com decréscimo de 0,8%, e o de máquinas para artigos plásticos, com crescimento de 0,5% no faturamento, ambos prejudicados pelas importações da China. ANTIDUMPING – A partir desta semana e por um período de cinco anos, todos os importadores que trouxerem talhas manuais de origem chinesa terão de recolher alíquota específica no valor de US$ 114,14 por peça. Tal decisão foi tomada pelo governo como medida antidumping na importação dessas talhas. “O dumping é uma prática desleal de comércio. A talha chinesa chegava ao Brasil praticamente ao valor das matérias-primas”, disse Aubert. O mercado nacional de talhas manuais é de 42 mil peças, e os chineses estão participando com 51% deste total _há cinco anos, esta participação era de 23%. Este é o primeiro processo brasileiro antidumping no setor de bens de capital e, também, o primeiro concedido em caráter definitivo, e foi publicado no Diário Oficial do dia 24 de agosto, após um ano de investigação e manifestações das partes interessadas.
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