China começa a investir em produção no País
23/03/10
A China deixou de ser apenas um fornecedor de mercadorias para começar a ser um investidor no mercado brasileiro. Em fevereiro, o gigante asiático foi a terceira maior fonte de investimento produtivo no Brasil, com US$ 354 milhões. Segundo relatório do Banco Central, essa foi a primeira vez que o capital chinês surgiu como fonte relevante de Investimento Estrangeiro Direto (IED).
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Até janeiro passado, o país sequer aparecia nesse ranking. O ingresso dos dólares chineses reflete o fechamento do negócio entre a MMX, braço de mineração do grupo do empresário Eike Batista, e a siderúrgica Wuhan Iron & Steel (Wisco). Pelo negócio concluído em 26 de fevereiro, 21,5% das ações da companhia brasileira foram vendidas para os chineses.
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Mais que uma mera compra de parte do capital de uma empresa do Brasil, os chineses, ao celebrarem um contrato de 20 anos para compra de minério, dão mais um passo em sua estratégia de garantir suprimentos de matéria-prima para sua indústria exportadora. No acordo com a MMX, foi acertado que pelo menos metade da produção da unidade Serra Azul, no chamado Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, será exportado para a Wisco. Há, ainda, previsão de aumento de até 50% na venda para a China da matéria-prima extraída da unidade Bom Sucesso, também no interior mineiro.
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Os dados do BC mostram também que a indústria voltou a liderar o investimento produtivo no Brasil, desbancando o setor de serviços. Em fevereiro, o segmento respondeu por US$ 937 milhões em IED, cerca de 32,9% do total que ingressou no País. Em relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IED) observa que 75,8% do dinheiro destinado ao setor foi usado em um único setor, o de combustíveis. “Assim, o crescimento mais generalizado do investimento industrial, num contexto de aceleração do crescimento, ainda não deslanchou”, reconhece o instituto. Para 2010, o BC manteve a previsão de ingresso de US$ 45 bilhões em investimento produtivo no País.
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A estimativa é idêntica à feita em dezembro de 2009 e será insuficiente para cobrir o rombo das contas externas que deve chegar a US$ 49 bilhões. A diferença terá de ser compensada pelos dólares que ingressarem no Brasil por meio de outras fontes, como os investimentos em ações e títulos de renda fixa. Em meio à expectativa crescimento econômico e aumento do juro em breve, o BC elevou de US$ 25 bilhões para US$ 35 bilhões a projeção de ingressos para investimentos em ações e renda fixa.
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O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, informou também que o Investimento Brasileiro Direto (IBD), aquele realizado por companhias nacionais em outros países, somou US$ 4,18 bilhões em fevereiro, recorde histórico para o mês. No bimestre, a cifra atingiu US$ 5,42 bilhões, outra marca histórica. O forte resultado coincide com a finalização da compra da norte-americana Pilgrims Pride pela brasileira JBS.
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Em fato relevante, o frigorífico afirma que o negócio envolveu US$ 800 milhões em dinheiro para a aquisição do controle acionário e o pagamento de US$ 2 bilhões em dívidas para retirar a empresa estrangeira da concordata. Com o bom desempenho recente do IBD, que reflete a volta do processo de internacionalização das empresas brasileiras interrompido pela crise internacional, o BC triplicou a previsão de investimento brasileiro no exterior em 2010, de US$ 5 bilhões para US$ 15 bilhões.
Agência Estado