Cenário mais otimista para a indústria
30/07/07
Economistas afirmam que a forte demanda interna continuará a impulsionar a produção neste semestre A atividade industrial deve continuar em expansão no segundo semestre do ano, impulsionada pela forte demanda do mercado doméstico. A projeção de analistas para 2007, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, é de crescimento de 4,5% da produção industrial, ante 3,1% em 2006. O cenário é considerado otimista, mas ainda está longe dos níveis de 2004 – alta de 8,3% -, ano em que o setor também foi beneficiado pelo aquecimento das exportações, agora freado pela valorização do real. Na próxima sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os resultados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) referente a junho. A expectativa de economistas é de que o primeiro semestre seja fechado com forte crescimento da produção do setor, puxado especialmente por bens de capitais e pela indústria automotiva. A LCA Consultores prevê alta de 5,8% em relação a junho de 2006, o que, após ajuste sazonal aplicado pelo IBGE, corresponderia a avanço de 0,9% ante maio – 0,6% pelo método de ajuste sazonal utilizado pela consultoria. O crescimento acumulado da produção manufatureira seria então de 4,7% na primeira metade do ano. A projeção se baseia na variação positiva para cinco (automóveis, veículos pesados, produção de motocicletas, expedição de papelão ondulado e petróleo e gás) de oito indicadores antecedentes avaliados pela LCA entre maio e junho. O destaque, aponta relatório da LCA, é o aumento de 3,6% verificado na produção de petróleo e gás natural, expansão que se deveu à entrada em operação de três novos poços de perfuração da Petrobras e a melhorias técnicas. `A confirmação da expansão da capacidade produtiva da empresa deverá contribuir para um resultado mais positivo da indústria extrativa em 2007`, avalia a LCA. VeículosDe acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a indústria automobilística produziu, no primeiro semestre de 2007, 1,4 milhão de veículos – 6,3% a mais que o acumulado em igual período de 2006. Houve crescimento na produção de automóveis e comerciais leves (5,7%), caminhões (21,3%) e ônibus (1,8%). A produção de motocicletas também registrou importante expansão, de 23,1%, na mesma comparação (dados da Abraciclo, a associação do setor). Na quarta-feira passada o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) divulgou alta de 12,8% na produção nacional de aço bruto, também justificada pelo aquecimento da demanda interna, especialmente da própria indústria de automóveis, bens de capital e construção civil. Os diversos resultados positivos da atividade econômica observados no segundo trimestre – incluindo não apenas a indústria, mas também o comércio varejista, e a criação de empregos – levaram a LCA a revisar de 4% para 4,3% sua expectativa de crescimento para a produção industrial em 2007. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também elevou de 4% para 4,5% sua projeção para a atividade da indústria no ano. `A aceleração apresentada no segundo trimestre deve ter continuidade. Ao contrário de 2004, este ano os setores ligados à exportação estão dando lugar a outros voltados ao consumo interno, como o segmento de alimentos, que cresce a reboque do aumento da renda real, e automóveis, no qual a expansão dos prazos de financiamento está sendo fundamental`, diz Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi. O coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales, avalia que o aumento da ocupação, da massa salarial e o recuo do desemprego, apontados pelo instituto na última semana, somados à inflação em queda, se refletirão em um aumento do consumo das famílias, que continuará puxando a indústria neste semestre. `As sondagens mostram uma percepção do empresariado de que é preciso se preparar para produzir mais`, constata. Edgard Pereira, do Iedi, acredita que a percepção de que a melhora da demanda doméstica será contínua é fundamental para estimular investimentos de ampliação de capacidade na indústria. No caso dos setores exportadores, o investimento se restringe àqueles que vendem em escala suficiente para não perder margem demasiada com a apreciação cambial, como mineração e celulose. O Iedi observa que os dados da produção até maio mostram que os aportes para ampliação de capacidade produtiva já se tornam realidade. O segmento de máquinas e equipamentos, de maior peso na categoria de bens de capital e que desempenha papel crucial na ampliação da capacidade instalada da economia está em trajetória de forte aceleração: as taxas acumuladas no ano até março, abril e maio, foram, respectivamente, de 13,1%, 15,2% e 17,4%. `É importante porque antes havia uma forte concentração em equipamentos de informática e outros segmentos que podem aumentar a eficiência, mas não capacidade física. Já máquinas e equipamentos são tipicamente compras para ampliação de oferta`, diz Pereira. InflaçãoA constatação é considerada um alívio no sentido de afastar pressões inflacionárias decorrentes de um descompasso entre oferta e demanda, especialmente tendo em vista que o aumento da produção nacional vem sendo complementado pela importação de bens. A interpretação de que a atividade econômica está sendo muito intensa por parte do Banco Central desperta a preocupação de que a autoridade monetária repita um comportamento semelhante ao de 2004, quando voltou a elevar a taxa básica de juros e jogou um balde de água fria no crescimento econômico. A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na última quinta-feira, foi interpretada por alguns como um sinal amarelo. Em análise da ata, o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco mostra a visão do Copom sobre a indústria: `(?) a leitura do BC é de que houve aceleração na margem, com importante intensificação das taxas de crescimento e, especificamente, menciona expectativas favoráveis sobre os dados para junho e para os próximos trimestres`. Esses dados combinados ao desemprego cadente e comércio forte corroboram, na visão do BC, para uma taxa de expansão elevada em relação ao ano passado e crescimento forte da demanda agregada nos próximo trimestres (colocando um viés de alta inclusive para o PIB de 2007). O núcleo econômico do Bradesco observa ainda que, na análise do Copom, os dados de Nuci (nível de utilização da capacidade instalada) sugerem redução importante da ociosidade industrial nos últimos meses, o que não seria compensado pelo ritmo acelerado de expansão de investimentos. A conclusão é de que a leitura do BC da atividade aumenta as incertezas sobre a compatibilidade entre o ritmo atual de expansão de demanda e oferta no médio prazo e, por conseguinte, das pressões potenciais sobre preços no médio prazo. Tal quadro alerta para uma possível redução de ritmo de queda dos juros a partir da próxima reunião, em setembro. Para Edgard Pereira, entretanto, o problema maior não é a capacidade de oferta no curto prazo, mas sim no longo prazo. Nesse caso os gargalos estão relacionados não à capacidade produtiva, mas à deficiência na infra-estrutura e escassez de energia. `Esse tipo de estrangulamento pode ocorrer em 2009, 2010, caso a economia cresça a um patamar de 5% ao ano`, diz.
Jornal do Commércio – RJ