Brics vão liderar captação de investimentos
03/05/10
Projeções indicam que os quatro países estarão entre os cinco maiores receptores de investimento estrangeiro em 2011
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Recursos, no entanto, têm que ser canalizados para setores que proporcionem mais ganhos tecnológicos, alerta especialista indiana
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Projeções indicam que Brasil, Rússia, Índia e China, os países do Bric, estarão entre os cinco maiores captadores de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) em 2011, que deverá marcar a volta desses investimentos ao total de US$ 1,8 trilhão, nível anterior à crise financeira iniciada em 2007.
Mas a distribuição irregular desses recursos, os desafios que eles representam para as políticas monetária e cambial e a necessidade de canalizá-los para aplicações que gerem ganhos tecnológicos são desafios a serem enfrentados pelos quatro países, afirma a economista indiana Radikha Kapoor.
“É preciso pôr maior ênfase na captação de investimentos que sejam importantes para o desenvolvimento econômico”, disse Kapoor.
Até 2008, apenas China e Rússia estavam entre os cinco maiores receptores de IEDs, junto com EUA (primeiro lugar), Reino Unido e França. Em 2011, segundo a especialista indiana, a China deverá ultrapassar os EUA na liderança e Brasil e Índia tomarão o lugar dos dois países europeus.Ainda de acordo com os dados de Kapoor, é no Brasil onde existe maior equilíbrio na distribuição dos IEDs -em 2009, 42,6% foram para a indústria, 42,9% para os serviços e 14,5% para agricultura e mineração.
Na China, 54,7% do capital externo vai para a indústria. Na Índia, ele se concentra nos serviços (61,4%), o que também é o caso da Rússia (57,8%).
Para Kapoor, que esteve em Brasília para participar de seminário do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre o Bric, a Índia terá que melhorar sua infraestrutura e reduzir os custos burocráticos se quiser captar mais investimentos para a indústria, com capacidade de criar empregos de melhor qualidade.
No caso da Rússia, a participação externa com transferência tecnológica é fundamental para a exploração de campos de gás que ficam a milhares de quilômetros de profundidade na plataforma submarina, afirmou Svetlana Pavlovna, do Instituto de Economia da Academia de Ciência russa.No entanto, disse Pavlovna, companhias estrangeiras resistem às regras de distribuição dos lucros feitas por Moscou. “A ironia é que muitas se adaptam rápido a outras circunstâncias, como a corrupção.”
Se a abertura das contas de capital incentiva investimentos, ela não ocorre sem riscos, disse Kapoor. “O governo tem que optar entre uma política de juros independente e o controle do câmbio.”
Um caso paradigmático é o da China, onde, se quiser aumentar os juros para frear tendências inflacionárias, o governo terá que permitir uma maior flutuação do yuan, colado ao dólar desvalorizado desde o início da crise global.
Outro aspecto ressaltado no seminário foi o papel crescente dos Brics como investidores no exterior, por meio de fundos soberanos ou de novas multinacionais. A China já ocupa o 13º lugar. O chinês Liu Youfa, do Instituto de Estudos Internacionais do país, chamou a atenção para a resistência, nos países ricos, a aquisições feitas por estrangeiros.
“Ainda somos amadores. Temos que nos coordenar tanto para a promoção de investimentos mútuos quanto para combater o protecionismo”, disse Liu, que sugeriu a criação de um “consórcio financeiro” nos quatro Brics.
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Folha de São Paulo