Brasil responde por 76% do corte da Vale
04/12/08
A Vale do Rio Doce anunciou ontem ter demitido 1.300 empregados, sendo 76% dos desligamentos efetivados no Brasil, principalmente nas áreas de administração, mineração e logística da Estrada de Ferro Vitória a Minas que teve redução na carga de minério. As operações em Minas Gerais foram as mais afetadas, onde a Vale cortou produção nas minas de Feijão, Mar Azul e Jangada, o equivalente a 30 milhões de toneladas anuais. O número de demitidos equivale a 2,1% dos 62 mil funcionários da mineradora em 30 países.
O presidente da empresa, Roger Agnelli, já havia antecipado em entrevistas que a companhia está “fazendo ginástica” para demitir o mínimo possível de pessoal. Mas, segundo porta-voz da mineradora, Fernando Thompson, a direção da empresa reconhece que quem vai dar o limite desse ajuste é o mercado de minério de ferro, que está praticamente parado por falta de demanda das siderúrgicas, também envolvidas com a forte desaceleração do setor e com expressivos cortes de produção, como a ArcelorMittal.
Várias alternativas têm sido usadas pela Vale para evitar corte de trabalhadores. É o caso de férias coletivas. No comunicado de ontem, a empresa informou que dará férias coletivas a 5.500 funcionários no mundo. Além dessa medida, está treinando pessoal de atividades desativadas para exercer função em outras áreas como segurança, saúde e ambiental. No momento, 800 pessoas já foram transferidas para outras atividades e 1.200 estão em treinamento. A companhia decidiu também rever contratos de prestação de serviço com empresas de mão-de-obra. Também tem conversado com sindicatos para descobrir instrumentos dentro da lei trabalhista que permitam uma brecha para evitar dispensa de trabalhadores.
João Batista Cavalieri, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Vale e presidente do Sindicato de Tubarão, que representa funcionários da Vale no Espírito Santo e ferroviários da Vitória a Minas em Minas Gerais, disse ao Valor que deve marcar uma nova reunião com área de Recursos Humanos da Vale até a semana que vem para outra rodada de conversas sobre as demissões. Quer, com isso, dar tranqüilidade aos trabalhadores. Vai falar também com acionistas.
O sindicalista informou que a partir do anúncio do corte de produção de minério de ferro, no fim de outubro, a Vale fez 200 demissões em novembro pessoal da Vitória a Minas, que tem cerca de 3 mil funcionários. Na região das minas, em Minas Gerais, foram dispensados 260. Essas demissões estão computadas no total de 1.300.
Na primeira reunião com o RH da Vale, em meados de novembro, Cavalieri conseguiu que a companhia concordasse em estender aos demitidos os benefícios de assistência médica por seis meses. “Também tentamos que ela pagasse o INSS aos trabalhadores dispensados que estivessem a apenas 3 anos da aposentaria. Não conseguimos, mas vamos tentar novamente”. Cavalieri contou que a Valia, fundo de pensão dos empregados da Vale, concordou em pagar parte da empresa e parte do empregado para os demitidos para os quais falta apenas um ano para adquirir direito de aposentadoria. A Vale, segundo ele, também aceitou a sugestão dos trabalhadores de fazer um cadastro das pessoas que estão saindo e dar prioridade a sua recontratação quando a economia voltar a funcionar, pois trata-se de mão-de-obra qualificada.
Ele disse que funcionários das usinas de pelotização paralisadas – Hispanobrás e Itabrasco -, passaram a fazer manutenção das unidades. “Nossa preocupação é que a Vale, que já auferiu R$ 19,2 bilhões de lucro este ano, até setembro, contribua para evitar demissões no país, como pede o presidente Lula. Se a Vale, com este lucro todo, começa a demitir em massa, o que ocorrerá com as empresas menores?”, questiona Cavalieri.
Valor Econômico