Brasil necessita recuperar sua capacidade industrial, apontam empresários
08/05/24
Proposta foi defendida durante painel de abertura do segundo dia de seminário internacional organizado pelo IBRAM.
A produção de equipamentos voltados a promover a transição energética, bem como os fertilizantes para o agronegócio – de modo a reduzir a dependência externa do Brasil – esbarra na necessidade de o país recuperar a indústria de base, a de bens de capital e a indústria de bens intermediários. O assunto foi debatido na manhã desta 4ª feira (8/5) no Seminário Internacional de Minerais Críticos e Estratégicos, organizado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em Brasília.
No ramo industrial da eletrificação, por exemplo, o Brasil tem reservas de minerais utilizados na fabricação de baterias. Mas não tem estrutura ou não é competitivo para fazer o refino dos minérios, produzir materiais e as células de bateria. Resultado: exporta os minérios e importa as baterias prontas, em vez de fabricá-las no território nacional.
Tecnologia-chave – Para Daniel Marteleto Godinho, diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da WEG, as células de bateria são a tecnologia-chave para energias renováveis (como solar e eólica) e a mobilidade elétrica. “Mas temos um ‘buraco’ na cadeia industrial”, afirma, ou seja, o Brasil não tem conseguido fazer a interligação entre os pontos da cadeia. Gilberto Martins, gerente de Assuntos Técnicos, da ANFAVEA, entidade do setor automotivo, concorda que o Brasil tem condições de produzir baterias, mas precisa resolver este gap na produção industrial local.
Para Andre Passos Cordeiro, presidente executivo na Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM) “por mais política pública que a gente faça no sentido de implantar um setor à frente (na cadeia produtiva, caso das baterias) e dar competitividade para ele, que é a produção de bem final, se a gente não recuperar a indústria de base, a de bens de capital e a indústria de bens intermediários, nós não seremos competitivos neste produto à frente. Por isso a discussão que o IBRAM está promovendo aqui é fundamental. Essa visão de cadeia (integrada) é fundamental”.
Green paper – No seminário, o IBRAM apresentou uma publicação, o green paper “Por uma política de minerais críticos e estratégicos para o Brasil e para o futuro”. O objetivo é receber contribuições de diversos setores, inclusive o industrial, de modo a auxiliar o país a planejar estrategicamente seu desenvolvimento industrial conectado à promoção da indústria mineral, de modo a expandir as ações para a transição energética e a outros campos.
A publicação foi destacada pelos participantes do painel Nova indústria do Brasil, transição ecológica e grandes setores industriais. Também participaram Carlos Leonardo Durans, diretor do Departamento de Desenvolvimento da Indústria de Insumos e Materiais Intermediários do MDIC; Maciel Aleomir da Silva, diretor técnico adjunto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); Perpétua Almeida, diretora da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). O painel foi mediado por Cinthia de Paiva Rodrigues, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do IBRAM.
Andre Passos, da ABIQUIM, disse que “o green paper foi muito bem elaborado e vai servir de referência para nossos setores trabalharem nesse tema de integração de cadeias. A indústria química, por exemplo, está interligada a todos os setores produtivos, como fornecedora e como cliente, inclusive em relação ao setor mineral. Não há indústria química sem mineração e vice-versa. E não há indústria sem mineração e sem o setor químico”, afirmou. “Pensar soberania produtiva do nosso país, pensar geração de renda, desenvolvimento industrial, desenvolvimento produtivo passa por manter essas cadeias coesas: química e mineração”, acrescenta.
Segundo ele, o desafio lançado pelo IBRAM no seminário é conseguir integrar as diversas políticas públicas aos vários setores produtivos, como automotivo, eletrificação, químico, máquinas e equipamentos. Do contrário, alertou, “vamos ter um vácuo, um meio de cadeia que não vai estar relacionado com o fim da cadeia e com o ponto inicial de suprimento (mineração por exemplo), como disse Godinho, da WEG”, afirmou.
Modelo equivocado – O dirigente da ABIQUIM citou como exemplo crítico a situação da indústria química “para demonstrar o modelo equivocado que a gente está implantando”. Ele disse que o país importa produtos químicos a um valor que é praticamente o superávit do agronegócio. “São mais de US$ 80 bilhões. O que ganhamos de um lado estamos entregando de outro”, disse. Segundo Passos, boa parte desses produtos importados são fertilizantes, que precisam de químicos no tratamento original, como nitrogênio amônia e ureia, “que podemos produzir no país”, assim como os minérios fosfato e potássio. Durans, do MDIC, disse que entre junho e agosto o governo apresentará a carteira de projetos estratégicos voltados a fortalecer a produção de fertilizantes.
Com importação, Brasil ajuda a sustentar produção com maior pegada de carbono
E como o seminário do IBRAM aborda a questão, entre outras, da descarbonização e da transição energética, Passos ressaltou que a indústria química nacional consegue produzir com até 51% menos de emissões de CO2 do que seus concorrentes. “No entanto, importamos químicos de países com uma pegada de carbono muito maior. Estamos contribuindo, infelizmente, por uma escolha econômica de alguma natureza desconhecida, para aumentar a pegada de carbono no mundo”, afirmou. Para evitar situações como as por ele relatadas, Passos defende que “é importante concatenar as políticas públicas industrial, de comércio exterior e ambiental ou vamos continuar sofrendo essas consequências”.
Sobre este tema, Perpétua, diretora da ABDI, destacou que a descarbonização é importante para “vivermos mais com dignidade, com saúde e, para isso, precisamos prolongar a saúde do planeta(…) não pode haver transição energética sem os minerais e a demanda por minerais críticos vai crescer muito”. Ela frisou que os minerais críticos e estratégicos estão no centro de intersecção das políticas industrial, ambiental e energética do país.
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