Brasil irá quadruplicar a produção de urânio
24/05/07
O Brasil vai quadruplicar sua capacidade de beneficiar urânio, etapa essencial para processamento do combustível das usinas nucleares. Hoje, a única unidade de beneficiamento existente no País, em Catieté (BA), tem capacidade para 400 toneladas de concentrado de urânio por ano. As obras para sua duplicação estão em curso e devem ser concluídas em 2010, segundo projeção da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), órgão governamental responsável por essa etapa do processamento do minério. Há ainda um projeto para uma planta de 800 toneladas a ser construída no Município de Santa Quitéria (CE), o que elevaria a capacidade de beneficiamento de urânio para 1,6 mil toneladas anuais.
A unidade de Santa Quitéria já passa por processo de licenciamento ambiental, necessário para a execução das obras. Por isso, não há estimativa de prazo para sua conclusão. O movimento, porém, é um claro indício de que o Governo Federal está disposto a retomar o programa nuclear brasileiro, interrompido nos anos 80.
;
Para abastecer Angra 3, prevista no Plano Decenal do Ministério de Minas e Energia (MME), basta a duplicação da planta de Catieté. No plano energético de longo prazo, que prevê a oferta e a demanda de energia até 2030 e que deve ser divulgado em junho, estão previstas outras quatro a oito usinas nucleares, com 1.000 MW cada. Daí a necessidade de mais uma planta de beneficiamento.
Segundo o diretor de Recursos Minerais da INB, Luiz Filipe da Silva, somente as oito usinas de 1.000 MW necessitariam de 2 mil toneladas de urânio concentrado por ano. Caso elas venham a se concretizar, o diretor afirma que não haveria problemas de suprimento, pois 70% do território nacional está inexplorado. Paralelamente aos projetos de beneficiamento de urânio, a INB também vem se preparando para ampliar sua atividade em outra etapa do processo de produção do combustível nuclear, o enriquecimento de urânio. Hoje, essa fase do processo é feita no exterior.
Na sede da INB, em Resende (RJ), uma equipe trabalha no enriquecimento do minério em caráter experimental. O objetivo é que em 2010, quando a duplicação da unidade de Catieté estiver pronta, 60% do urânio usado no Brasil seja enriquecido em Resende.
A provável retomada do programa nuclear é uma mostra de que o pragmatismo do MME triunfou sobre a cautela do Ministério de Meio Ambiente (MMA).
Desde o primeiro mandato do presidente Lula, as duas pastas divergem sobre esse assunto e a saída de Silas Rondeau do MME não deve mudar o cenário. Ironicamente, o MME alega que a opção pela nuclear leva em conta não só fatores de competitividade como também ambientais.
Em uma avaliação comparativa entre as diversas fontes energéticas, o MME calculou que a tarifa por MW/h da energia nuclear sairia a R$ 151,6, maior apenas que a hídrica (R$ 116,4), a da biomassa (R$ 121,1) e do carvão (R$ 133,3). Em evento no Rio semana passada, o secretário executivo do ministério, Marcio Zimmermann, explicou que o potencial das duas primeiras fontes é limitado. De um lado, as hidroelétricas que podem ser licitadas neste patamar de preço somam cerca de 94 mil MW de uma oferta adicional total de 127 mil MW que será necessária até 2030.
;
As demais não são competitivas. Por outro lado, a biomassa também encontra limitações, uma vez que precisa de áreas mais extensas para plantação. Entre a energia nuclear e o carvão, a opção pela primeira deve-se ao fato de que esta é menos poluente que o segundo.
O diretor de produção nuclear da INB, Samuel Fayad, lembra ainda a necessidade de diversificação das fontes energéticas. ?O Brasil é o único país em que as fontes hídricas respondem por cerca de 80% da geração de energia elétrica. É necessário assegurar-se a base térmica adequada para a confiabilidade do sistema?, afirma. Hoje, a energia nuclear responde por menos de 3% da geração elétrica do País.
É preciso lembrar, porém, que a energia nuclear não seria solução a curto prazo para a demanda de energia. Angra 3 (1.350MW) levaria seis anos para ser erguida. Há no País 7.300 MW já licitados e outorgados, a maioria de hidroelétricas, que não saíram do papel e poderiam suprir essa demanda.
Segundo o físico José Goldemberg, da USP e ex-secretário de Meio Ambiente paulista, esses projetos estão parados por dificuldades de financiamento. Ele teme que o mesmo ocorra com Angra 3, pois a usina demandaria R$ 7,2 bilhões para ficar de pé. ?O governo deveria enfrentar a realidade, e não sonhar com soluções ?milagrosas? como as usinas do Rio Madeira?, diz Goldemberg.
DCI