Brasil deveria investir mais em energia nuclear, indica estudo
08/09/09
SÃO PAULO – Investir em usinas nucleares no Brasil é uma alternativa válida de complementação da matriz energética nacional. Esta é a conclusão de um estudo realizado pelo Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo Nivalde de Castro, economista e professor do Instituto de Economia e Coordenador do Gesel, o Brasil possui tecnologia e combustível para viabilizar a adoção dessa fonte de geração, que, segundo o Plano Nacional de Energia ( PNE 2030), deverá contemplar o País com mais 4 mil megawatts (MW) oriundos dessa fonte de geração em quatro usinas a serem instaladas na Região Nordeste.O primeiro passo para esse plano é a retomada das obras da usina de Angra 3, no Rio de Janeiro. Segundo a Eletronuclear, empresa responsável pelas centrais de geração dessa fonte, o reinício das obras está previsto para setembro, depois da assinatura de um aditivo contratual com a Andrade Gutierrez, vencedora da licitação de 1983, que prevê a redução do valor da obra em R$ 120 milhões por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU). A nova usina terá potência instalada de 1.405 MW, podendo gerar cerca de 10,9 milhões de megawatts-hora (MWh) por ano.Um dos motivos que o Gesel vê como positivos para o desenvolvimento da energia nuclear no Brasil é a disponibilidade de reservas de urânio, combustível para a geração dessa fonte. De acordo com dados da Eletronuclear, o País possui 309 mil toneladas do mineral, volume que coloca o Brasil na sexta posição dentre os maiores detentores de reservas do mundo, e isso, ressalta a empresa, com apenas 30% do território nacional pesquisado. Esse volume, segundo informações da empresa responsável pelo enriquecimento do urânio em Resende (RJ), a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), é o suficiente para alimentar 32 usinas como Angra 3 por toda a sua vida útil: 40 anos.”As usinas nucleares despacham na base [do sistema] e ajudam a preservar os reservatórios das hidroelétricas. Isso é cada vez mais importante ante as novas usinas hídricas -que não formam grandes lagos, como antigamente, por questões ambientais-, que passaram a utilizar a tecnologia de fio d` água”, explicou o professor da UFRJ.É justamente por esta característica das novas hidroelétricas, chamadas de estruturais, aquelas que possuem maior potência e geram energia para todo o País, que a capacidade de geração nuclear se torna atrativa. Ainda segundo os dados da Eletronuclear, de todas as fontes térmicas disponíveis, incluindo nessa conta o gás natural, o carvão e o óleo combustível, o urânio possui o maior conteúdo energético específico, com 60 MWh por quilo, ao ser utilizado nas usinas nucleares brasileiras.Apesar disso, o professor disse que a geração de energia nuclear é uma forma complementar, assim como outras a que o Brasil tem vocação. Somam-se a ela a eólica, cujo leilão específico de energia de reserva está marcado para 25 de novembro, e a de biomassa. “Essas três fontes são complementares à matriz energética brasileira, que é essencialmente hídrica”, disse ele. “O Brasil tem esses três combustíveis em abundância, a tecnologia para a construção das usinas e para o enriquecimento do urânio, no caso da nuclear; o que precisamos ainda é de escala: por isso a decisão sobre Angra 3 e as demais centrais no nordeste é adequada para uma política industrial”, afirmou Castro.Outro aspecto que o estudo do Gesel cita é a questão da emissão de gases de efeito estufa, que este ano será tema da reunião sobre as mudanças climáticas, na Dinamarca. Segundo o pesquisador, usinas nucleares não emitem o gás, ao contrário das usinas que têm predominado nos últimos leilões de energia elétrica no País. O relatório cita um levantamento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que aponta a existência de 438 reatores de geração termonuclear em 31 países e que no ano disponibilizará capacidade instalada de 370 gigawatts (GW). Além disso, há ainda a construção de 45 novos reatores, que adicionarão mais 40 GW de capacidade de geração.
DCI