Brasil caminha para autossuficiência na produção de urânio
22/11/10
Décimo maior produtor de urânio do mundo e detentor da sexta maior reserva no planeta do energético, o Brasil ruma para a autossuficiência do mineral com a ampliação de sua produção, que poderá tanto atender às demandas das usinas nucleares instaladas no país quanto ao mercado externo, caso o governo decida rumar nesse caminho.
Em julho de 2009, as Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) – companhia vinculada ao governo que controla todas as atividades de suprimento do combustível nuclear, da extração de urânio nas minas até o fornecimento do combustível às usinas para a geração de energia – assinaram acordo inédito de parceria com a iniciativa privada para a exploração de urânio e fosfato em Santa Quitéria (CE).
Nos próximos 25 anos, a INB e Galvani Mineração vão trabalhar juntas para colocar de pé o projeto Santa Quitéria, que poderá até quadruplicar a produção de concentrado de urânio, permitindo o aumento da participação nuclear na produção de energia elétrica no Brasil. “A partir da obtenção da licença de construção do empreendimento, o prazo de início da operação do projeto é de 30 meses, o que no cronograma inicial está estipulado para 2012”, diz o assessor especial da presidência da INB, Luiz Filipe da Silva.
“As jazidas têm fosfato associado ao urânio, então buscamos um parceiro que tivesse interesse e recursos para desenvolver os recursos de fosfatados, já que temos o conhecimento em urânio.”
Na mina de Itataia, em Santa Quitéria, a produção de urânio poderá ser superior a 1000 toneladas por ano. Hoje a extração de urânio está concentrada na Bahia, na mina de Caetité, que produz cerca de 400 toneladas por ano, que atendem às demandas das usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, cuja capacidade instalada somada chega a 2000 MW. Além de ampliar a produção abrindo a nova fronteira exploratória no Ceará, a mina de Caetité também poderia ser duplicada para 800 toneladas por ano.
O crescimento da produção ocorre em paralelo à necessidade de expansão da oferta de energia elétrica, que responde por 99% do uso do urânio no Brasil. O restante está direcionado a fins médicos e de pesquisa. Em 2015, prevê-se a entrada de operação de Angra 3, com potência de 1400 MW.
A legislação permite que o urânio seja exportado, mediante autorização especial do governo. “Com um mercado maior, será preciso definir como será a regra e como o urânio será exportado”, analisa Luiz Filipe da Silva.
O aumento da produção também deverá aumentar o interesse pela prospecção das jazidas. A Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) assinou acordo, em agosto, com a Eletronuclear, para desenvolver estudos preliminares de seleção de locais para a instalação de novas usinas nucleares de geração de energia elétrica nas regiões Sudeste, Sul e parte do Centro-Oeste. “Os estudos preveem necessidade de 2.000 MW nucleares adicionais no Nordeste e 2.000 MW adicionais no Sudeste”, diz o assessor da presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães.
Valor Econômico