Balanços vão mostrar blindagem do setor de energia e da mineração
22/10/08
SÃO PAULO – A expectativa de divulgação dos balanços trimestrais promete trazer forte volatilidade ao mercado de renda variável nas próximas semanas. As incertezas se acentuam por conta dos possíveis impactos que a crise terá sobre os ganhos do terceiro trimestre: enquanto algumas das grandes empresas do País podem apresentar números mais robustos, outras devem sofrer com reflexo negativo em seus relatórios.A Vale do Rio Doce, por exemplo, é beneficiada e prejudicada de diversas formas. “Como é uma exportadora, seu faturamento deve ficar 20% maior, por conta da valorização cambial dos últimos meses”, avaliou Pedro Galdi, analista da SLW. “Por outro lado, o preço do níquel e do cobre caiu a uma média de 30% no primeiro trimestre, então o aumento dos ganhos não compensará essa queda”, continuou. Por fim, o especialista lembrou que 40% dos cerca de US$ 12,5 bilhões levantados em sua oferta global de ações, feita há alguns meses, está investida em moeda norte-americana – o que deve gerar reflexo positivo acentuado.Segundo Rosângela Ribeiro, analista da SLW, o setor de energia elétrica é um dos mais blindados neste cenário incerto. Em termos de receita, não há previsão de redução, visto que os ganhos das companhias são focados no consumo nacional. Os resultados operacionais devem continuar positivos. No caso do custo, a valorização do dólar vai trazer alguns problemas para as distribuidoras localizadas no sul, sudeste e centro-oeste. “Elas compram energia de Itaipu, e o preço é em dólar”, lembrou a analista. Apesar de haver um impacto direto no caixa das companhias, elas vão poder repor essas despesas quando anunciarem os seus reajustes tarifários anuais. “Então não tem qualquer efeito no resultado”, explicou. Por fim, pela média, 7% da dívida das empresas do setor estão formalizadas em dólar, o que deve gerar um impacto negativo muito baixo.Impacto negativoAlgumas empresas, como é o caso de Aracruz e Sadia, já divulgaram perdas por conta da valorização do dólar. Nesta semana, foi a vez da Net de informar um prejuízo líquido de R$ 64 milhões no terceiro trimestre, ante lucro líquido de R$ 24 milhões verificado entre abril e junho. A companhia destacou que, devido a sua dívida em dólar, a variação cambial líquida ficou negativa em R$ 117 milhões. Em relação ao consumo interno, por exemplo, um dos grandes inibidores de dados melhores pode ser a restrição de crédito. A Positivo Informática divulgou anteontem que suas vendas de notebooks somaram 142,181 mil unidades, com alta de 170% na comparação anual. “No entanto, o cenário de crédito menos favorável poderá impactar as vendas da companhia nos próximos períodos. Além disso, a valorização do dólar poderá gerar pressão negativa em suas margens”, alertou Rodrigo Ferraz, analista da corretora Brascan.O setor de construção civil também deve sentir, fortemente, os efeitos do aperto do crédito, segundo o Banco Fator. Os balanços do terceiro trimestre devem mostrar uma queda expressiva do número de lançamentos e de vendas. No total de 12 companhias o acompanhadas pela instituição, o lucro total do período deve ser de R$ 401,8 milhões, cerca de 13% inferior aos R$ 466,6 milhões verificados entre abril e junho. Os lançamentos devem atingir R$ 4,622 bilhões, cifra 32% inferior aos R$ 6,819 bilhões lançados no período imediatamente anterior. Grande parte das companhias que abriram seu capital recentemente investiram o dinheiro da captação na compra de terrenos, o que gerou a necessidade de financiamento das atividades com instituições financeiras.Os bancos, por sua vez, também sofrem com o alto custo da captação, só que de outra maneira. Enquanto analistas afirmam que as margens financeiras não devem se alterar, já que o menor volume de empréstimos liberado será compensado pelo aumento da taxa de juros, o mercado reage mal.Segundo pesquisa da consultoria internacional The Boston Consulting Group , a capitalização da indústria bancária global caiu de US$ 8,3 trilhões, no fim de 2007, para US$ 5,7 trilhões.Leia mais nas páginas A11 e B1Estudo da consultoria internacional The Boston Consulting Group (BCG) mostrou que a capitalização da indústria bancária global caiu de US$ 8,3 trilhões, no final de 2007, para US$ 5,7 trilhões, no final do terceiro trimestre de 2008 – uma queda de 30%.Nos três primeiros trimestres deste ano, o retorno total ao acionista (ou TSR, na sigla em inglês) no setor despencou 34 pontos percentuais, para menos 32,5%. Até o momento, o setor bancário brasileiro está mais blindado do que as economias maduras. De 2003 ao final do terceiro trimestre de 2008, o TSR brasileiro alcançou 40,9%, ante 9,5% da média mundial. O valor de mercado do setor bancário brasileiro cresceu 49,6%, em dólares, de 2003 ao final do terceiro trimestre de 2008, contra alta de 10,1% da média mundial.Por outro lado, as ações dos quatro principais bancos do País tiveram desvalorização entre o primeiro e o terceiro trimestres. O Banco do Brasil registrou TSR de -21,5%, seguido pelo Unibanco (-19,1%,), Bradesco (-17,5%) e Itaú (-9,7%).
DCI