Avanço após a privatização
23/10/06
Agnaldo Brito
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O lance no Canadá torna a Companhia Vale do Rio Doce uma empresa mundial de fato e coroa uma trajetória de expansão que completa dez anos em maio de 2007. Em uma década, desde a sua privatização, a Vale saltou de sétima para quarta mineradora do mundo e se prepara para chegar hoje – caso confirme a compra da Inco – à segunda posição. Ficará a alguns bilhões da líder, a BHP Billiton.
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Sob qualquer ângulo que se tome, os números da empresa surpreendem não só pelo gigantismo, mas sobretudo pela aceleração dos negócios empreendida pela empresa em uma década. O lucro líquido, por exemplo, é uma boa medida. Em 1997, quando foi privatizada, o lucro da empresa era de R$ 800 milhões. A projeção do mercado para este ano não é menor do que R$ 12 bilhões – ou seja, um crescimento de 15 vezes.
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O ânimo dos mercados em relação a Vale seguiu a mesma toada. No mesmo ano de 1997, o valor da companhia conferido pelo mercado era de US$ 9 bilhões. Atualmente, a reunião das ações da Vale, conforme o preço dado pelo mercado, renderia aos controladores cerca de US$ 60 bilhões.
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Com mais recursos, a companhia comprou novos ativos no Brasil e no exterior, e toca um programa de investimento comparado apenas ao que a Petrobrás tem realizado neste momento. O desafio é investir mais de US$ 4 bilhões este ano, valor, aliás, que também foi gasto em 2005. De 2000 para cá, a empresa empreendeu uma política de fortes investimentos.
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Até 2004, a companhia aplicou entre US$ 1,6 bilhão e US$ 1,9 bilhão por ano. A partir de 2005, acelerou. Tem metas de gastar US$ 10 milhões por dia.
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O cenário internacional também favoreceu a companhia, principalmente a partir de 2000, quando teve início um novo ciclo de investimentos mundiais no setor de mineração e siderurgia. A China, obviamente, teve papel central neste avanço. A demanda mundial por minério ficou tão aquecida que a Vale decidiu, em 2005, repassar para seus produtos reajuste superior a 70%. O mercado reclamou, mas pagou. Neste ano, o aumento do minério foi de 19%. O resultado disso foi um excepcional reforço do caixa da companhia. Sobrou dinheiro para investimentos e capacidade de empreender um lance mundial como o que fez pela Inco.
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Não sem, claro, um bom suporte financeiro. Trinta e quatro bancos liberaram um limite de US$ 34 bilhões para a Vale comprar a mineradora de níquel canadense – uma espécie de cheque especial bastante generoso. Os recursos levantados pela empresa com os bancos foram quase o dobro do necessário para a compra. O recado do mercado mundial foi cristalino, segundo analistas. A Vale ganhou, de fato, dimensões mundiais.
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A compra que deve ser fechada hoje confere duas virtudes ao negócio da Vale do Rio Doce: reduz a importância relativa dos ativos localizados no Brasil – que hoje respondem por 98% da receita da empresa – e amplia o portfólio de produtos. Combinadas, essas mudanças darão à Vale acesso a crédito mais barato. O custo de capital mais em conta é condição elementar para formação da competitividade de uma companhia no mundo.
O Estado de São Paulo