Asiáticos buscam parcerias com grupos no Brasil
14/03/08
Silvia Constanti/Valor
Sinosteel estuda projetos e tem interesse em jazidas de grupos menos conhecidos, diz Weixian Zhang, presidenteA siderúrgica indiana Tata Steel e a chinesa Sinosteel buscam investimentos em mineração e siderurgia no Brasil em parceria com empresas locais. A Tata, quinta maior produtora de aço do mundo, admite fazer acordos com companhias do país para produzir aço, mas tudo depende de custos. Já a Sinosteel, trading que fornece matérias-primas e serviços para usinas chinesas, quer encontrar jazidas minerais para explorar minério de ferro no Brasil com sócios nacionais. “É possível fazer uma parceria com a Vale do Rio Doce (em siderurgia) no Pará”, admitiu ontem Amit Chatterjee, consultor da diretoria executiva da Tata Steel. Segundo ele, no mundo competitivo de hoje, a indústria do aço pode estar localizada em qualquer lugar. A escolha depende basicamente da proximidade da matéria-prima e do mercado consumidor. Ele disse que a empresa fez aquisições de usinas de aço, entre as quais a Natsteel, de Cingapura, e Milleniumm Steel, da Tailândia, que precisam de tarugos para operar. Ele disse que as parcerias da Tata com empresas brasileiras poderiam considerar um potencial fornecimento desse produto para as usinas do grupo. A Tata mantém parcerias em minas de carvão em Moçambique e na Austrália. “Parcerias com produtores de minério de ferro no Brasil são possíveis, mas não há ainda nada concreto”. O executivo adiantou também que a empresa indiana iniciou entendimentos com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na área de minério de ferro. A Tata leva em conta o plano da CSN de produzir 100 milhões de toneladas de minério de ferro por ano a partir de 2012, das quais a maior parte, cerca de 80%, irá para a exportação. “Se o minério de ferro brasileiro for mais barato do que o de outros produtores, nós vamos olhar”, disse o indiano. Ele previu que em 2020 a Índia estará produzindo 180 milhões de toneladas de aço, com acréscimo de quase 250% sobre as 52 milhões de toneladas produzidas em 2007.As negociações entre a Tata e a CSN, se evoluírem, poderiam incluir desde um simples contrato comercial de compra e venda de minério de ferro até uma joint- venture para exploração de novas jazidas do minério, segundo fontes do setor de mineração. Juarez Saliba, diretor-executivo de mineração da CSN, informou que a empresa está buscando parceiros potenciais para explorar novas minas no Brasil. O foco da CSN recai sobre minas pequenas, que possam garantir à empresa um volume entre 7 milhões e 10 milhões de toneladas de minério, para fechar a conta de 100 milhões de toneladas nos próximos cinco anos. Deste total, a mina de Casa de Pedra, em Congonhas (MG), responderá por 70 milhões de toneladas. A Nacional de Minérios S.A (Namisa), subsidiária da CSN criada para comprar e vender minério de terceiros, contribuirá com 23 milhões de toneladas, das quais 16,5 milhões de toneladas de produção própria e o restante será fornecido por minas a serem adquiridas pela CSN, em parcerias ou sozinha. A Tata e a CSN brigaram pela inglesa Corus há dois anos, com a indiana vencendo a disputa. A Tata e a CSN têm, respectivamente, os menores custos de produção de aço do mundo, segundo as consultorias World Steel Dynamics, dos Estados Unidos, e CRU, da Inglaterra. A CRU promove, no Rio, a Conferência Mundial de Aço, que termina hoje e serviu ontem de palco para as discussões sobre o impacto das matérias primas sobre os custos da siderurgia. Saliba não confirmou nem desmentiu as conversas com a Tata. Ele adiantou que ainda neste semestre a empresa deve anunciar a compra de pequenas mineradoras, empresas cujo perfil também são alvo da Sinosteel e da ArcelorMittal. Weixian Zhang, diretor-presidente da Sinosteel Brasil Metalúrgica Trading, disse que o objetivo da empresa no país é fazer parcerias para explorar minério. O alvo da negociação são empresas menos conhecidas no mercado e que se localizam em estados do Nordeste, como a Bahia, e do Norte, caso do Amapá. Segundo Weixian, a Sinosteel poderá concluir até o fim de 2008 alguns estudos e pesquisas sobre projetos de mineração. “Temos foco em minério de ferro, minério de manganês e níquel”, disse. Weixian não quis falar em valores, mas previu que o investimento no Brasil não será pequeno. Na China, a Sinosteel, estatal, está em processo de abertura de capital na bolsa de Xangai. “O primeiro objetivo da empresa são os recursos naturais”, disse ele. Na China, a trading importa entre 25 milhões e 30 milhões de toneladas de minério de ferro para abastecer as siderúrgicas do país. Deste total, 10 milhões vêm de uma parceria que a Sinosteel tem na Austrália. Ao que parece, a empresa chinesa tenta repetir a fórmula no Brasil. Weixian previu que em 2008 a China vai produzir 500 milhões de toneladas de aço, acima das 489 milhões de toneladas de 2007. O número indica uma necessidade de pelo menos 750 milhões de toneladas de minério de ferro, considerando que para cada tonelada de aço é preciso uma tonelada e meia de minério.José Armando de Figueiredo Campos, diretor-presidente da ArcelorMittal Brasil, disse que o conglomerado, maior produtor mundial de aço, tem política mundial de buscar auto-suprimento de suas matérias primas a longo prazo. A meta da empresa é ter 75% de suas necessidades de insumos básicos cobertas pela sua própria produção. Hoje, a companhia produz mundialmente cerca de 45% das matérias primas que precisa. “No Brasil, a situação é diferente porque estamos junto dos maiores produtores de minério de ferro do mundo”, disse Campos. Mesmo assim a empresa não descarta novas oportunidades na área de mineração sempre que elas surgirem.
Valor Econômico