Ásia é nova fronteira nas ofertas de ações
06/07/07
Segundo Roberto Nishikawa, o Itaú começa agora a levar seus IPOs à Ásia Depois de vender suas ações maciçamente a investidores dos Estados Unidos e Europa, as empresas brasileiras que fazem ofertas de ações começam a avançar sobre novas porções do globo. Países da Ásia e do Oriente Médio são os mais novos pontos de parada das companhias em busca de demanda por suas ações. Os investidores estrangeiros têm sido o grande motor das ofertas públicas de ações brasileiras e já despejaram R$ 50 bilhões nessas operações de 2004 até agora (total de compras, sem considerar vendas). O que quer dizer que, em média, responderam por 70% de todo o volume comprado nas mais de 100 ofertas realizadas no período. Até agora, os protagonistas desse movimento foram fundos dos Estados Unidos e Europa. Mas, desde o fim do ano passado, investidores asiáticos têm participado das ofertas públicas iniciais de companhias brasileiras de maneira crescente. E não é só. Vêm adquirindo participações em empresas já negociadas no pregão da Bovespa. Estimativas conservadores apontam para mais de US$ 1 bilhão investidos até agora em ofertas iniciais e na bolsa. “Em algumas ofertas, os asiáticos já representaram 15% e até 20% do total comprado”, afirma Marcelo Kayath, chefe da área de ações para a América Latina do banco Credit Suisse. Em busca de uma base mais diversificada de compradores para os papéis de empresas, os bancos de investimento têm levado os clientes para fazer “road shows” por China, Hong Kong, Cingapura e Japão. E Dubai, nos Emirados Árabes, também começa a entrar no programa. “O Oriente Médio tem tudo para ser a nova fronteira de demanda para companhias brasileiras”, diz Kayath. O Itaú começa agora em julho a fazer as primeiras apresentações de IPOs (oferta pública inicial, na sigla em inglês) pela Ásia. “Há uma grande liquidez na região e eles são exportadores de capital”, diz Roberto Nishikawa, diretor da Itaú Corretora, que abriu uma corretora em Hong Kong em setembro. Na sua avaliação, o Brasil disputa recursos com outros dois Brics asiáticos – China e Índia – e leva vantagem em termos de preço. “As ações brasileiras ainda estão mais baratas.” De acordo com ele, o índice preço/lucro médio da bolsa brasileira está em 9,2 vezes, enquanto na Índia é de 17 e na China, de 16,2. O p/l indica o número de anos de lucro para se obter retorno com o investimento, dado o preço atual da ação; quanto maior o índice, em tese, mais caro o papel. A busca por diversificar a base de potenciais compradores para os papéis brasileiros é importante para dar sustentação ao crescente volume de IPOs de companhias brasileiras e de alta da bolsa como um todo. Mas a via é de mão dupla. Em boa medida, foram os investidores asiáticos e do Oriente Médio que provocaram a ida das empresas brasileiras até eles, ao demonstrar interesse diante dos avanços macroeconômicos do esperado “investment grade”. Grandes companhias brasileiras já descobriram o caminho do oriente há mais tempo. A Petrobras faz apresentações na Ásia desde 2005. E no ano que vem estréia em Dubai para atrair fundos islâmicos que conhecem bem o mercado de petróleo. Para a Vale do Rio Doce, a Austrália é um mercado importante. A mineradora realiza o que chama de “Australasian road shows” desde o fim de 2002. Naquele ano, os investimentos de acionistas asiáticos na Vale eram inferiores a US$ 100 milhões. Hoje, chegam a US$ 4,5 bilhões, quase metade de australianos, de acordo com Fábio Barbosa, diretor financeiro da companhia. Hoje, a Vale faz apresentações em Sydney, Cingapura, Hong Kong e Tóquio. “Os países asiáticos estão acumulando reservas internacionais e os investidores têm apetite para investir em outras áreas do mundo. No caso da renda fixa, as taxas de juro daquela região estão muito baixas e isso é um atrativo natural para se investir em outras áreas”, explica Barbosa. No caso da renda variável, Barbosa diz que há uma afinidade da Ásia com alguns segmentos específicos e que mineração é um deles. O fato de a Vale ser fornecedora de minério para países da região e também concorrer com companhias australianas, como a BHP, ajuda a tornar a empresa conhecida e aumenta o interesse por sua evolução. No caso da Petrobras, no passado os investidores foram atraídos por títulos de dívida emitidos pela empresa. “Quando tínhamos muita dívida, eles compravam por causa do rendimento maior. Agora que pagamos quase toda a dívida líquida, o interesse é por ações”, explica Raul Campos, diretor de relação com investidores da estatal. Avançar sobre o Oriente em busca de investidores implica uma nova rotina para os executivos. Iniciar um “road show” em algum ponto da Ásia significa embarcar num vôo no Brasil na sexta à noite e, por causa da diferença do fuso, chegar ao destino já no domingo. É dormir mal, porque é preciso trocar a noite pelo dia, e começar a maratona de apresentações já na manhã seguinte. Barbosa diz que desenvolveu uma maneira para lidar com o fuso. “Cansa, mas tento dormir só no horário do lugar.” Novas culturas, nova forma de se lidar com o dinheiro. “O ocidental tem uma perspectiva mais de curto prazo do que o oriental”, avalia Fábio Barbosa. E, adicionalmente, diz Kayath, do Credit Suisse, os orientais são mais focados em dividendos. “Porque os juros lá são mais baixos.”
Valor Econômico