Artigo | A Ponte do Não Retorno
30/01/18
Coreia do Norte e Coreia do Sul. Em novembro de 2014, senti a atmosfera da divisão dessa nação. Em Seul, na parte meridional do paralelo 38, marco divisório do território, eu participava da reunião do Comitê Executivo da União Democrática Internacional, instituição criada por inspiração de Margaret Thatcher, e fui convidado pelo governo local para uma visita oficial à Zona Desmilitarizada.
Durante a jornada, sob a proteção de militares de vários países, muitas coisas me impressionaram, mas nenhuma com tanta profundidade como a visão da Ponte do Não Retorno. Ela esteve aberta para o trânsito entre as duas Coreias, por prazo determinado, durante o período final das negociações de paz. Era possível fazer a escolha entre o comunismo do Norte e a liberdade do Sul.
A Ponte do Não Retorno me despertou o interesse pelo destino dos que se dividiram entre as duas bandas do país cindido. Na leitura do livro “Por que as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu e James Robinson, fiquei sabendo da história de Hwang Pyõng-Won e seu irmão. A dupla foi um dos exemplos de ruptura familiar, causada pela invasão do exército norte-coreano.
Hwang conseguiu escapar das garras militares e permanecer no Sul. A mesma sorte não teve o irmão. Médico, ele cuidava em Seul dos soldados sul-coreanos feridos, mas acabou sendo capturado pelo exército do norte. Os dois familiares só se reencontrariam 50 anos depois, em 2000, quando os dois governos concordaram em iniciar um programa restrito de reunificação familiar.
O relato do encontro de dois irmãos de uma família coreana apartada revela a abissal diferença de qualidade de vida e de liberdade. Mesmo sendo médico e trabalhando na aeronáutica, boa colocação em uma ditadura militar, o irmão de Hwang vivia miseravelmente. Estava bastante magro e o casaco puído que usava lhe fora emprestado pelo governo para aquela ocasião. Ele nem pôde aceitar a proposta de Hwang, que era farmacêutico em Seul, de trocar o sobretudo velho dele pelo novo que o irmão vestia.
A prosperidade brotou ao sul da Coreia, tornando a região numa das mais ricas do mundo. Ao norte, uma ditadura comunista continua mantendo a população em condições miseráveis de vida, enquanto um dinasta vive como rei e não economiza recursos públicos com seus delírios beligerantes.
No Brasil, quase tomávamos o rumo da Coreia do Norte, que, na América do Sul, tem sido a opção do bolivarianismo venezuelano, com seus resultados nada alvissareiros: fome e terror. Mas nós, brasileiros, temos neste ano a opção de escolher em que cabeceira da nossa Ponte do Não Retorno queremos levar os nossos filhos: o lado da prosperidade com liberdade, como fizeram os que ficaram na Coreia do Sul, ou o da pobreza e da tirania, como os que ficaram presos na Coreia do Norte.