Argentina retoma produção de urânio com fins pacíficos após uma década
13/08/07
A Argentina volta a produzir urânio para abastecer suas usinas de energia nuclear, atividade suspensa há uma década, com o objetivo de reduzir os custos da importação do mineral como parte da reativação do plano nuclear anunciado pelo presidente Néstor Kirchner. “Estamos retomando a produção de urânio em uma mina (ao norte) de Salta”, explicou Rubén Calabrese, gerente geral da estatal Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA), o órgão que regula a atividade. A Argentina deixou de extrair urânio em 1998 por decisão do governo de Carlos Menem (1989-99), numa época em que o preço do insumo era de 25 dólares o quilo no mercado internacional, e passou a importá-lo. Nos últimos três anos, e ao longo da crise do petróleo, o valor do quilo de urânio aumentou para 300 dólares e o gasto do país para abastecer as centrais nucleares subiu para 45 milhões de dólares por ano. “A retomada da produção de urânio significa uma economia de divisas importante. Atualmente a Argentina precisa de 150 toneladas de urânio por ano, mas com o plano de expansão nuclear precisaremos de entre 500 e 600 toneladas por ano em uma década”, apontou Calabrese. Em 2006, Kirchner anunciou um plano nuclear com investimentos de 3,5 bilhões de dólares, que previa a conclusão das obras da terceira central atômica, a construção de uma quarta, além de estabelecer a produção de urânio com fins pacíficos. Desde 1974, a central nuclear de Atucha I, que fica na província de Buenos Aires, está em funcionamento, assim como a central de Embalse, na província de Córdoba (centro). A construção da usina de Atucha II também está em andamento desde 1981. A Argentina retoma a produção de urânio na mina de Don Otto, localizada em Salta, cujas reservas podem ultrapassar as mil toneladas estimadas, segundo Calabrese. Após sua extração, o mineral passará por um processo de enriquecimento que será finalizado em uma fábrica da CNEA em Córdoba, para ser utilizado como combustível nas usinas nucleares. As duas usinas em operação geram entre 7% e 9% da energia elétrica consumida no país, mas o total de abastecimento energético de origem atômica aumentará a 16% quando a usina Antucha II estiver pronta, com previsão para 2010 e 2011, segundo fontes da área. O gerente da CNEA informou que as reservas atuais de urânio na Argentina totalizam nove mil toneladas; no entanto, calculou que com a futura reativação das jazidas de Cerro Solo e Laguna Sirven, no sul do país, o número será maior. A CNEA ainda pretende explorar urânio na jazida de Sierra Pintada, localizada na província de Mendoza (oeste), paralisada em 1998, porém, ecologistas se opõem devido a danos ambientais que podem acarretar. A decisão tramita na Justiça. A reativação de produção nuclear de urânio na Argentina é importante devido à necessidade do país de criar novos recursos para amenizar o déficit energético. O governo determinou nas últimas semanas a redução do uso de eletricidade e gás por parte de indústrias para atender a demanda de energia nas casas devido a um inverno com temperaturas baixíssimas. A CNEA pretende também dar prioridade ao abastecimento da demanda interna de urânio ao de exportação, em um momento em que o interesse de empresas estrangeiras vem aumentando para obter permissão de uso das jazidas devido à elevada cotação do mineral. “Hoje em dia não há nada que impeça a exportação de urânio, mas a idéia do governo é primeiro garantir recursos de urânio para a demanda interna e depois exportá-lo”, acrescentou o gerente da entidade. Uma reforma do Código Mineiro dos anos 90 facilitou a exportação do urânio por parte das multinacionais ao quitar seu caráter estratégico.
Agência AFP