Após ressaca das altas, olho nos lucros
08/05/09
Em meio às expectativas do resultado oficial dos testes de estresse dos bancos americanos – divulgado após o fechamento do pregão -, a bolsa brasileira seguiu o ritmo externo e interrompeu a sequência de seis altas seguidas. Os investidores aproveitaram o dia para reajustar carteiras, sob a influência das surpresas e decepções em relação às demonstrações apresentadas ao mercado local. Apesar das vendas, o Ibovespa se manteve acima dos 50 mil pontos, encerrando com queda de 2,8%, aos 50.058 pontos. O giro foi de R$ 5,8 bilhões.
A rodada de balanços da quinta-feira incluiu nomes como Vale, Gerdau, AmBev, Tractebel e TAM. Com a escalada das cotações de março para cá, os analistas têm olhado com lupa não só os resultados das empresas, como as indicações de desempenho futuro fornecidas pelas próprias companhias, para identificar quais ações estão mal avaliadas e que papéis já extrapolaram o valor justo num ano em que a atividade econômica vai ratear. Por isso, os dados isolados dos três primeiros meses do ano não servem de termômetro para o que vai ocorrer ao longo de 2009, alerta o chefe de análise da Concórdia Corretora, Eduardo Kondo. “Serão os resultados do segundo trimestre que vão direcionar a tendência.”
Kondo está longe de ser dos mais pessimistas e projeta para este ano expansão de 6,2% para o lucro das principais empresas listadas. Se tal estimativa se concretizar, junto com o ciclo de redução da Selic, que pode levar a taxa a 9,75% ou 9,25% ao ano até dezembro, 2009 pode entrar para a história como o ano em que a Bovespa começará a ter um “equity premium” – o prêmio natural do mercado acionário em relação à renda fixa, dado que o risco é maior -, diferença jamais observada no Brasil dos juros tradicionalmente nas alturas. A simples comparação de desempenho das duas classes de ativos já fornece evidências de tal distorção. De 1994 para cá, o Ibovespa apresentou média anual de 18,3%, enquanto o CDI proporcionou ganhos de 22% ao ano.
Com as valorizações recentes do Ibovespa, Kondo calcula que o múltiplo conhecido como Preço/Lucro (P/L, a relação entre a cotação e o resultado) da bolsa brasileira esteja em 10,5 vezes, acima da média histórica, de 10 vezes, e já no valor que tem como justo para 2009. “Com aumento dos resultados e queda das taxas de juros, parece haver disposição para se pagar um P/L mais alto para o Ibovespa.” Nos EUA, ele cita que, na média dos últimos 49 anos, o histórico do “equity premium” é de 3,5% acima do retorno dos Treasuries.
Entre os resultados corporativos apresentados, o da Vale e o da Gerdau foram o que mais chamaram atenção. Segundo o gestor de Renda Varável da Nobel Asset, André Spolidoro, o desempenho da mineradora veio abaixo do consenso, tanto na linha de geração de caixa quanto na de lucro. O desempenho trimestral foi fraco, mas os custos vieram sob controle. Mas, mais do que olhar esses números, o especialista diz que o importante é acompanhar indicadores como as exportações de;minério, que já tiveram melhora em março e abril. O aumento das importações chinesas é outro dado que tem se ser dimensionado, se ocorreu por fechamento de capacidade de produção no país ou se por elevação de consumo. “Trimestre a trimestre, as variações dos volumes vão ter de ser monitoradas, é isso que vai refletir no papel.”
As preferenciais classe A (PNA, sem voto) da Vale caíram 3,23%, enquanto as ordinárias (ON, com voto) perderam 3,75%. Gerdau PN recuou 4,99%. Com resultados fracos nas operações dos EUA e na América Latina, a siderúrgica tem sido bastante impactada pela crise e o ensaio de melhora no segmento de construção civil no Brasil ainda não foi bateu no retorno da companhia, cita Spolidoro. Em tempos de crédito escasso, a alta alavancagem também não joga a favor.
Mas a maior alta do Ibovespa no dia ficou para as ações PN da TAM, que avançaram 13,4%. Apesar de ter registrado desaceleração na demanda por viagens aéreas, as receitas da companhia subiram 17% e o lucro líquido 26%, a R$ 54,4 milhões, na comparação com o mesmo intervalo do ano passado.
Itaú Unibanco PN caiu 7,6%, diante da expectativa de que o Bank of America tenha de vender a participação que tem no banco brasileiro (resultante da aquisição do BankBoston), como forma de levantar capital. Reportagem do “Wall Street Journal” cita que o BofA vai se desfazer de ativos no mercado chinês.
Adriana Cotias é repórter de Investimentos. A titular da coluna, Daniele Camba, está em férias.
E-mail: adriana.cotias@valor.com.br
Valor Econômico